
Não existe a menor dúvida de que o Estado brasileiro ressurgirá em 2019, independentemente da vontade de sua classe dirigente, com um governo obrigado a se pautar por meio de paradigmas administrativos e éticos que sejam a negação dos modelos adotados até o presente momento. Circunstância ainda não compreendida pela cúpula e militância petista, principalmente em função de terem se tornado reféns da dialética enlouquecida de Gleise Hoffman e do ativismo bolchevique de José Dirceu.
A teoria do golpe transformou o Partido dos Trabalhadores na agremiação mais isolada e catatônica do espectro político nacional. Ouvir ou ler a retórica de seus membros converteu-se em tarefa dolorosamente cármica, desprovida de elementos capazes de restabelecer o equilíbrio entre a inteligência e a capacidade para formular o raciocínio lógico e discricionário.
Antônio Palocci, porém, adentra no teatro de operações ao ofertar a redenção que a agremiação tanto necessitava. Enquanto os obtusos e insanos lhe imputam a pecha de traidor e detentor de traços inequívocos de “fraqueza de caráter”, os petistas de bom senso ganharam os elementos fundamentais e necessários para retomar o processo de autocrítica, tanto alardeado e nunca implementado, inclusive com a possibilidade de passar a flertar com princípios do iluminismo moderno, abandonando definitivamente os ideários do trotskismo, castrismo e chavismo, que representam o ponto máximo da ignomínia no pensamento contemporâneo.
Em sua carta de desfiliação, Antônio Palocci utiliza expressões, como “tribunal inquisitorial, deterioração moral e seita guiada por uma pretensa divindade”. Se refere a Lula como o “desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o País construiu em toda a nossa história”. Ainda desnuda o desempenho medíocre da gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, nas áreas econômica e social.
Caso o PT sucumba ao desejo irresistível de defenestrar o filho ilustre, a pestilência do flagelo obscurantista assumirá o processo de deterioração e decorrente morte do corpo partidário. Em síntese, Antônio Palocci está oferecendo a cura, corpórea e espiritual, baseada em doses cavalares de diálogo honesto, manifesto e irrestrito com a sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que Dirceu e Gleise propõem, tal como concebeu o pastor Jim Jones na cidade de Jonestown, em novembro de 1978, o “suicídio revolucionário” para um séquito culturalmente perturbado, emocionalmente desorientado e geograficamente perdido no turbilhão das transformações históricas.
Até mesmo PC do B, REDE e PSOL já conseguem perceber os sinais de espasmos do petismo, que costumam anteceder a rigidez cadavérica total e definitiva. Ou seja, os caminhos com opções bem delineadas estão dados, cabe ao Partido dos Trabalhadores escolher entre o entendimento de que Antônio Palocci é uma oportunidade de reconciliação ou manter o aprofundamento da retórica gleisiniana, em que o mundo burguês, fascista, golpista e conspirador cairá pela espada implacável do socialismo atuante do Foro de São Paulo.
Nilton Tristão é cientista político, diretor do Instituto Opinião Pesquisa e da GovNet S/A