
A frenética zapeada do controle remoto, marca registrada do Tá no Ar: a TV na TV, conduz o espectador aos mais diferentes tipos de programas, novelas, comerciais. E, claro, séries. Nas edições passadas do humorístico, Game of Thrones e Friends ganharam paródia da criativa trupe, liderada por Marcelo Adnet e Marcius Melhem. Também teve o hilário clipe dos spoilers, o Lord of The Ends, com Adnet.
Na 5ª temporada do humorístico, que estreia na Globo, na terça-feira, 23, depois do BBB (já está disponível para assinantes do Globo Play), a inspiração vem da série The Walking Dead, que, na versão afiada e crítica de Adnet, Melhem e cia., recebeu o nome de The Walking Back, e o seguinte complemento: “Ressuscitando ideias que estavam enterradas”, numa alusão aos discursos dos conservadores.
Debate que ganhou força nos últimos tempos, o assédio também será tratado em esquetes do programa. Não é a primeira vez que o assunto é abordado por eles, mas é retomado num momento de acaloradas discussões, dentro e fora do País. Como na paródia a um comercial que fez sucesso nos anos 1990, do Tio Sukita, que, é bem provável, nos dias de hoje causaria polêmica (ou nem existiria).
Na propaganda original, a adolescente assediada despista o quarentão que tenta puxar papo com ela no elevador, chamando-o de ‘tio’. Na versão do Tá no Ar, a mocinha manda o recado logo de cara: o que ele está fazendo é assédio.
“Esse tema não é uma novidade no programa. Tem um monte de peças sobre objetificação feminina, ou esse lugar da mulher na propaganda, e na TV como um todo”, diz Marcius Melhem, ao Estado, durante encontro com a imprensa, no Projac, no Rio. “Nesta temporada, a gente tem algumas peças sobre isso. A do Tio Sukita é um marco muito forte: olha como isso é normal e como é absurdo ser”, completa ele, que, além de fazer parte do elenco, assina o programa com Adnet e Mauricio Farias.
A novidade é a entrada de um novo integrante no grupo – até então sem novos membros desde que foi formado: o ator e comediante Eduardo Sterblitch, ex-Pânico. Ele e o amigo Adnet já tinham contracenado juntos nos filmes Os Penetras 1 e 2. “Eu não estava acostumado com esse humor de realismo, então fico pedindo muitas perucas o tempo inteiro”, brinca Eduardo, cercado pelos colegas/amigos de programa.
“O Edu chegou e conquistou todo mundo, hoje é como se ele estivesse com a gente desde a primeira temporada. Totalmente integrado”, elogia Melhem.
Das temporadas anteriores, voltam personagens como o Militante (aquele que critica a TV e a própria Globo, vivido por Adnet); Jorge Bevilacqua (Welder Rodrigues), apresentador do Jardim Urgente, famoso pelo bordão “foca em mim!” (e talvez o único que tenha bordão no programa, que se afasta do modelo dos antigos humorísticos brasileiros); e o empresário Tony Karlakian (Adnet), que retorna com o reality show Os Karlakians. “O Militante é um personagem cômico, porque, na boca dele, a gente ouve críticas das mais diversas, da TV e da própria Globo. Ele é talvez o maior avanço dentro do programa. Vem na mesma pegada, interrompendo a programação”, conta, ao Estado, Mauricio Farias, também diretor artístico do Tá no Ar.
Uma das boas sacadas da atração, Jorge Bevilacqua, originalmente, não duraria muito tempo no programa, mas o personagem acabou se tornando fixo. Agora, Bevilacqua deixa o estúdio de seu programa, uma espécie de Brasil Urgente com histórias de crianças que tiram o apresentador do prumo, e vai protagonizar comerciais e até ser jurado do The Voice Kids. “O quadro é espetacular, conversa com os programas sensacionalistas na TV”, diz Mauricio. “O Welder é um ator muito carismático e, ao mesmo tempo, tem um quê um pouco infantil.”
Os convidados voltam a fazer participação especial no programa, desta vez, nomes como Tom Cavalcante, Mateus Solano, Bruno Mazzeo, Bruno Gagliasso, Ana Furtado, Fabiula Nascimento e Fátima Bernardes. E os clipes vão fechar novamente cada um dos 11 episódios da nova temporada. Sem medo de mexer na ferida, há esquetes que viralizam nas redes. Este ano não deve ser diferente. “Hoje em dia ficar em cima do muro é mais complicado do que cair para um lado. Hoje estar em cima de muro tem um quê de irresponsabilidade”, diz Adnet.
Um dos esquetes mais comentados da temporada passada foi Branco no Brasil, que expunha os privilégios dos brancos em detrimento dos negros, que, propositalmente, no quadro, apareciam na figuração. Segundo Marcius Melhem, o que os norteia é “falar o que é o País e um pouco do País que a gente quer que exista”, diz ele. “Em cenas como a do assédio (se referindo à paródia do Tio Sukita), a gente fala o que é, e a gente fala, na resposta dela, como a gente gostaria que fosse.”
Sterblitch: ‘Eu adoro começar tudo de novo’
Eduardo Sterblitch ficou conhecido por personagens como Freddie Mercury Prateado em seus tempos de Pânico. Acolhido pela Globo desde Amor & Sexo, o humorista carioca – que acabou de rodar sua participação como Chacrinha jovem no filme sobre Abelardo Barbosa – fala sobre sua estreia no Tá no Ar.
Como chegou o convite para entrar no programa?
Foi meio que acaso. Eu já tinha me imaginado trabalhando no Tá no Ar, mas achava impossível. Achei que era um elenco fechado. No ano passado, fiz minha peça (Eduardo Sterblitch Não Tem Um Talk-Show), algumas pessoas do elenco assistiram. Aí o Marcius (Melhem) me ligou para conversar. Fiquei superfeliz.
Os atores do programa estão juntos desde o início. Como foi para você se adaptar?
Adoro começar tudo de novo. Acho também que isso gera no público uma sensação de refresco. Acho que tenho esse talento de fazer isso. Eu não sabia disso, mas aí entrei no Deznecessários, um grupo de humor. Foi a primeira vez que fiz comédia na minha vida. Depois, entrei no Pânico. E o Pânico, quando entrei, já era um programa de sucesso também. Fiz a mesma coisa que estou fazendo agora: que é entrar com calma, para aprender.
Você começou na Globo fazendo Amor & Sexo. Foi a porta de entrada para a emissora, não?
Foi o Jô Soares, na verdade. O cara que me deu espaço de uma hora dentro do programa dele, não existe nada mais generoso que isso. Eu estava ainda no Pânico, inclusive.
E como entrou no Amor & Sexo?
Fiz participação num show do grupo de uma amiga, o Não Recomendados. Tem um momento em que todos estão vestidos de mulher. Aí me vesti também, me preparei, e cantei uma música com eles, e Antônio Amâncio e Fernanda Lima (que assinam a redação final do programa) estavam na plateia. Rolou um papo no camarim, se eu participaria. Eu disse que queria dar ideias, me colocaram na parte de criação, e também como jurado.
Depois veio Popstar. Foi um desafio participar cantando, não?
Achei maravilhoso poder me testar também, por ser um lugar diferente, são pessoas votando em você na hora. Decidi fazer um repertório bem a minha cara, que eu estava a fim de cantar. Assim, mesmo que eu fosse o primeiro a perder, ficaria muito feliz, e queria chegar à final só para poder cantar Rei Leão e Lua de Cristal. Foi o que eu fiz.
Os jurados, aliás, criticaram a escolha de Lua de Cristal.
Eu queria cantar porque amava aquela música. Não pensei matematicamente, pensei artisticamente para o show. Eu cantaria Marília Mendonça, que todo mundo pediu para eu cantar, inclusive minha mãe. Realmente, eu cantando ficava mais bonito, só que eu ia sair (do programa) do mesmo jeito. Pensei: vou sair cantando bonito ou o que eu quero? Vou sair cantando o que eu quero. Achei que os jurados não entendem o sucesso que é Lua de Cristal. Tive a menor nota dos especialistas, mas a maior nota do público. Em todos os lugares onde trabalho, estou pensando no trabalho, em como posso fazer para melhorá-lo. Porque humor é susto. As pessoas não podem saber o que vou fazer. É uma forma diferente de me colocar.
Você saiu do Pânico há alguns anos. O programa chegou ao fim na Band…
Como fiz parte dele durante muito tempo, não acredito que vá terminar. Acho difícil. Acho muito provável terminar na Band, não eles terminarem. É um momento difícil para o humor do Pânico. A gente está reaprendendo a falar, a pensar. Você vai se corrigindo e corrigindo as pessoas, e assim que você tem um mundo melhor. O Pânico sempre utilizou de notícia para poder fazer história, fazer piada. Nada como um momento como esse para recomeçar. Acho que tem força para isso.