
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC vai colocar na mesa de negociação com o grupo que adquirir a Ford de São Bernardo a contratação dos 750 trabalhadores que a montadora vai demitir com a desativação da linha de montagem do New Fiesta. As demissões serão feitas até o dia 31/07. O presidente do sindicato, Wagner Santana, o Vagnão, disse que a negociação está demorando mais do que o esperado e isso traz problemas na mobilização dos trabalhadores. Nesta terça-feira (16/07) foi realizada uma assembleia em frente a montadora para esclarecer os trabalhadores sobre o trâmite trabalhista.
“Essa negociação entre a Ford e o comprador está demorando mais do que o esperado e é grande a expectativa para o anúncio do acordo, mas quanto a isso não temos acesso, exceto por alguns poucos contatos e de informações via governo. A nossa mesa de negociação é outra. Quanto ao anúncio de demissão dos 750 trabalhadores da linha do Fiesta já tinha ficado claro de que estes postos de trabalho seriam extintos. O que se negocia agora é a manutenção da fábrica de caminhões. O que acontece é que anteciparam o fechamento da linha do Fiesta. O acordo é que encerrariam a produção no fim do ano”, disse Vagnão.
O sindicalista relatou ter avisado a Ford de que, com o anúncio do fechamento da fábrica, em fevereiro, seria difícil manter a produção, uma vez que o consumidor passaria a evitar os produtos da marca. “O resultado foi o anúncio antes do previsto”, comentou. Vagnão disse ainda que assim que for definido o comprador, o sindicato colocará na mesa de negociação que os operários demitidos terão preferência na seleção. “Essa será uma exigência nossa”.
1,2 mil trabalhadores devem ser demitidos
O sindicato calcula que 1,2 mil trabalhadores devem ser demitidos, já incluídos os 750 do anúncio da última semana. “Quando foi anunciado o fechamento eram cerca de 2 mil trabalhadores, mas a fabricação de caminhões emprega diretamente 800 funcionários. Estamos deixando claro que nem todos os trabalhadores serão aproveitados. Pelo acordo de abril, do ponto de vista trabalhista, está resolvido, a pendência é a contratação pelo novo controlador da fábrica”.
Na sexta-feira (12/07) o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB) divulgou nota repudiando a atitude da montadora que, em audiência na Justiça do Trabalho, informou da demissão dos 750 trabalhadores. O tucano anunciou que até esta sexta-feira (19/07) vai acionar juridicamente a montadora cobrando um plano de desmobilização, alegando impactos ao município nas áreas de saúde, educação, assistência social e transporte. “A Ford tem essa obrigação e o governo tem mesmo que cobrar”, acrescentou o presidente do sindicato que não quis estimar um prazo para desfecho da situação. “Não arrisco de forma alguma, sou realista, eu espero que seja o mais breve possível mas ninguém garante que vai acontecer; pode ser que aconteça alguma coisa e a compra não saia”, conclui Vagnão.
Dois grupos estão interessados na aquisição da Ford; um é o grupo Caoa, que já tem participação na Hyundai e na Chery além de ser também um parceiro da Ford nas vendas, com diversas concessionárias pelo país. O outro grupo é um conglomerado chinês cujo nome não tem sido divulgado. O RD contatou a Foton Caminhões, um grupo de origem chinesa, que produz caminhões e que chegou a demonstrar interesse na fábrica de São Bernardo, mas a negociação não avançou segundo relatou a companhia em nota. O grupo Caoa diz apenas que continua negociando e a Ford não se pronunciou nem sobre as demissões, nem sobre a negociação.
Morando, que participa das negociações, chegou a dizer, antes do anúncio das demissões, que a compra será definida em agosto, mês de aniversário da cidade, e revelou também que um dos interessados, além de assumir os trabalhadores ainda assinalava a possibilidade de contratar outros mil trabalhadores. O sindicato informa que não tem informações sobre essa possibilidade.