
Para auxiliar no atendimento de emergências nas infecções pelo novo coronavírus, a Covid-19, o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), em São Caetano, está com um projeto pronto de respirador de baixo custo, iniciativa que deve sair do papel nos próximos dias com o fechamento de parceria com indústria automobilística do ABC, que passaria a utilizar sua linha de montagem, hoje paralisada, para a produção dos aparelhos. Falta apenas autorização do Ministério da Saúde e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o início da produção, mas o protótipo, que é baseado no motor de um limpador de para-brisa, já foi testado.
Como aconteceu na Itália e na Espanha, com o pico da doença em aproximação, os hospitais terão falta de respiradores e é neste momento que equipamentos, como este que a Mauá já tem projetado, vão auxiliar os atendimentos nos hospitais. Segundo o engenheiro e responsável pelo FabLab Mauá, Rodrigo Mangoni Nicola, o protótipo de ventilador mecânico de baixo custo foi inspirado na visita do empresário, David Sanches, à Itália. “Ele viu o impacto da doença lá e a falta de respiradores e trouxe o projeto de um respirador para o Brasil. Juntamente com o engenheiro e ex-aluno do IMT, Marco Veiga, começamos a desenvolver o projeto que, na realidade funciona como o Ambu (Artificial Manual Breathing Unit- ou unidade manual de respiração artificial, pela sua sigla em inglês), aquele ventilador mecânico que os médicos e socorristas operam manualmente. O projeto precisou de algumas mudanças, esbarramos em componentes eletrônicos que seriam difíceis de conseguir, então simplificamos o projeto”, relata.
Segundo o professor a equipe do laboratório Fablab da Mauá – cinco estagiários, dois técnicos, um em química e outro em designer -, além dele e um engenheiro de automação construíram o protótipo que tem baixo custo, cerca de R$ 300 e pode ficar ainda mais barato na produção em grande escala. “Gastamos mais em acrílico do que nas outras partes. O mecanismo é simples, usa o motor de um limpador de para-brisa, por isso as fabricantes de autopeças e as montadoras estão familiarizadas”, diz Nicola. Uma das montadoras de veículos da região, cujo nome não foi divulgado, está pronta para começar a produção e aguarda apenas a autorização do Ministério da Saúde.
O protótipo da Mauá foi testado no laboratório da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul). De acordo com Nicola, médicos do Hospital Estadual Mário Covas também atuaram no desenvolvimento do projeto. Se aprovado para começar a produção, o equipamento vai ser importante retaguarda aos hospitais. “Ele não substitui o respirador tradicional, mas garante a vida do paciente, até a disponibilidade do respirador. É como se um enfermeiro ficasse o tempo todo operando o Ambu em um ritmo adequado”, diz Nicola. O professor da Mauá está otimista. “Sinto que as coisas começam a se organizar e, como o nosso, acredito que diversos outros projetos devem ser aprovados em uma batelada só”, afirma.
Reconversão
O diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wellington Damasceno, diz que as indústrias da região podem contribuir muito para o desenvolvimento de projetos para auxiliar o País no enfrentamento do novo coronavírus. Damasceno conta que o sindicato encaminhou ao governo do Estado uma carta com diversas propostas, que visam a saúde do trabalhador e também o auxílio às empresas. Entre as propostas está a reconversão, que é a adaptação das produção para outros itens. “Acredito que metade das indústrias da região conseguem fazer a reconversão das linhas de produção para produzir insumos hospitalares, como macas, respiradores e máscaras. Há muitas empresas prontas para isso e em parcerias com universidades isso pode acontecer”, analisou.
Máscaras
O Instituto Mauá também desenvolveu um sistema para produzir máscaras. De acordo com o engenheiro José Roberto Augusto de Campos, diretor do Centro de Pesquisas do IMT, a instituição consegue produzir aproximadamente 50 máscaras por dia, extremamente importantes e necessárias para os profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus.
“Inspirado num projeto americano, nossos alunos, ex-alunos e colaboradores trabalham, ininterruptamente, na produção das máscaras, que são de baixo custo, porque não há intermediários, ou seja, a matéria-prima é nossa. Utilizamos máquinas de corte a laser e, na parte da frente, polímero de alta qualidade, muito eficaz para evitar a propagação e contágio de doenças transmissíveis pela saliva e fluidos”, descreve.
As máscaras serão enviadas, gratuitamente, às prefeituras de São Caetano, São Bernardo e Santo André, que farão a distribuição aos hospitais mais necessitados da região, além do Hospital das Clínicas.