
Sem abraços e beijos, o distanciamento social promoveu uma rotina na vida social das pessoas, porém, a recomendação acaba não seguida por aqueles que utilizam da aproximação física para conseguir dinheiro para sobreviver. Garotas e garotos de programa têm se arriscado nas ruas em busca de clientes. Enquanto isso, do outro lado, alguns utilizam a tecnologia para se manter no mercado do sexo.
No Jardim Stella, em Santo André, as profissionais do sexo pararam no início do isolamento social (em março), mas pouco tempo depois retornaram às atividades, “Eu só parei no início da pandemia e atuava em casa de família, mas perdi esse emprego por conta da pandemia. Consegui me virar com as economias que acabaram rápido, então eu tive de retornar”, explica uma profissional que não quis se identificar e que recebe apoio da ONG (organização não governamental) ABCD’S (Ação Brotar pela Cidadania e Diversidade Sexual), com itens de proteção sexual e contra o novo coronavírus.
Quando o assunto é covid-19 (coronavírus), a personagem diz que não sabe se contraiu, pois são muitos sintomas. “Eu fiz os cuidados em casa, mas não sei muito dizer (se contraiu), são vários indícios que o vírus apresenta”, conta.
Sobre ao aumento de colegas de atuação a mesma diz que tem observado o crescimento de profissionais nas ruas. “Com a pandemia vários colegas sugiram no meu ramo, não vejo como concorrência, pois temos que nos ajudar”, afirma.
Na internet
Enquanto um grupo segue nas ruas, outro preferiu seguir o caminho da internet, como Rebeca, 27 anos, moradora de São Bernardo, mas que atua em Santo André. A são-bernardense relata que a maior parte da procura dos clientes é por aplicativos ou sites. Com duas amigas da Capital que contraíram o coronavírus, os cuidados aumentaram nos encontros.
“Os cuidados com a higiene não mudaram, só aumentaram. Agora sempre que vou pra um programa exijo que o cliente leve seu próprio álcool em gel e tome banho antes de qualquer tipo de relação que vamos ter”, explica a garota que o fato de ir às ruas acabou por reduzir o número de programas, principalmente fins de semana. Apesar do medo oficial, retornou para a prostituição, principalmente após perder o emprego de vendedora.
A pandemia também forçou a mudança de rotina para quem não estava na prostituição e que acabou por seguir o caminho para sobreviver, principalmente após o fechamento de casas noturnas a partir das medidas de quarentena impostas pelo governo do Estado e prefeituras.
“Eu acho que esse assunto vai mais além do que podemos imaginar para essa população que vive em alta vulnerabilidade. Elas têm consequências no desemprego, tem consequência na transfobia que sofrem com uma grande potência na nossa região e também pela falta de políticas públicas direcionadas à população LGBTQIA+”, comenta Marcelo Gil, presidente da ONG ABCD’s.
A ONG faz arrecadação de cestas básicas para ajudar essa população e inclusive chegou a conseguir que algumas profissionais do sexo, que atuavam na avenida Industrial, em Santo André, ficassem em casas. Mas a principal dificuldade está em manter as demais contas em dia, fato que faz com algumas ainda se arrisquem.
(Colaboração de Amanda Lemos e Nathalie Oliveira)