
Cinco testemunhas foram ouvidas nesta terça-feira (22/09) pelo juiz Lucas Tambor Bueno, titular da Vara do Júri do fórum de Santo André, no processo que apura o triplo homicídio de Homuyuki Veras Gonçalves, de 43 anos, Flaviana Gonçalves, de 40, e do filho do casal Juan Victor Gonçalves, de 15. O crime aconteceu em 27 de janeiro na casa onde moravam e depois os corpos foram levados até a estrada do Montanhão, em São Bernardo, e carbonizados dentro do veículo da família. O caso que chocou o país tem cinco réus, entre eles Anaflavia Meneses Gonçalves, de 24 anos, filha do casal; sua companheira Carina Ramos de Abreu, de 26; os irmãos Jonathan Fagundes Ramos, de 23, e Juliano Oliveira Ramos Júnior, de 22 (primos de Carina); além de Guilherme Ramos, de 19 anos, amigo do grupo. A defesa das duas mulheres considerou positiva essa primeira audiência.
A audiência de instrução é a primeira fase do processo, a segunda será o julgamento. Por conta da pandemia do novo coronavírus, a sessão foi realizada por videoconferência, os réus não chegaram a ser ouvidos, apenas algumas das testemunhas arroladas. A mãe de Flaviana, Vera Lúcia Chagas Conceição, que tinha uma ligação muito próxima com a família, foi a primeira a ser ouvida na sessão que teve início às 13h30. Depois foram ouvidas a síndica do condomínio onde ocorreu o crime, a namorada de um dos acusados, uma funcionária do quiosque de shopping de propriedade da família e mais um rapaz.
As oitivas foram encerradas por volta das 17hs e já foi marcada nova data para depoimento de outras testemunhas, sendo duas delas testemunhas protegidas. A nova audiência foi marcada para o dia 16 de outubro, somente depois serão ouvidos os réus. Encerrada essa fase é que o juiz vai definir se eles serão pronunciados e irão à júri popular pelo triplo homicídio, se serão julgados por latrocínio, impronunciados, ou a denúncia será desclassificada.

Para o advogado Sebastião Siqueira Santos Filho, que defende Anaflavia e Carina, na audiência desta terça-feira uma testemunha trouxe um dado importante que pode ajudar suas clientes. “No meu modo de entender foi uma audiência proveitosa, uma das testemunhas, deu detalhes importantíssimos que acabam por inocentar as meninas, em especial a Anaflavia. Se o juiz entender que a morte foi um fato superveniente, ou seja, que a intenção dos rapazes era roubar e depois resolveram matar, eles vão responder pelo latrocínio, aí quem julga é o juiz singular, ou então pode entender que é caso do tribunal do júri e aí ele dá a sentença de pronúncia”, explicou.
Para o advogado que representa a família de Flaviana, Epaminondas Gomes, a oitiva das cinco primeiras testemunhas também foi positiva, mas no sentido contrário, o de levar os cinco réus a júri popular por triplo homicídio. “A marcha processual é boa e caminha para que os réus sejam pronunciados. A dona Vera falou ao juiz repetindo seu testemunho na fase policial e os demais também falaram, mas nada que saltasse aos olhos. O que temos até agora é uma montanha robusta de provas para a pronúncia dos cinco. Hoje não foram ouvidas todas as testemunhas, depois ainda serão ouvidos, a defesa, peritos e pode ter até acareação, por último falam os réus”, comenta o advogado sobre o andamento do processo.
Gomes também rebateu a defesa de Anaflavia e Carina sobre a possibilidade de os réus serem julgados por latrocínio. “Essa possibilidade é muito pouco provável”, resumiu.
Crime
De acordo com o Ministério Público Anaflavia, Carina, Juliano, Jonathan e Guilherme, planejaram o crime com antecedência. Eles estavam interessados em uma quantia de R$ 85 mil que estaria guardada no cofre da casa. Os três rapazes entraram na casa escondidos no carro de Anaflavia e renderam pai e filho, torturaram os dois para obterem a senha do cofre, como não sabiam, esperaram Flaviana chegar para que ela abrisse, mas não havia nenhum dinheiro no cofre, então o grupo decidiu matar a família e pegar objetos de valor da casa.

Ainda segundo a denúncia apresentada pelo MP, Carina a Anaflavia participaram “ativamente” das mortes e “mataram as vítimas por motivo torpe, consistente na cobiça de ambas, em ficar com a casa, com os veículos, com o dinheiro que achavam que estava no cofre, e com o dinheiro do seguro de vida”, diz a denúncia formulada pela promotora Thelma Thais Cavarzere.
Para o MP, Juliano, Jonathan e Guilherme receberiam parte do dinheiro. “Agiram mediante promessa de recompensa. Todos os cinco empregaram meio cruel para matar as vítimas, pois bateram tanto em suas cabeças, que seus crânios estavam afundados na lateral direita. E se utilizaram de recurso que dificultou a defesa das vítimas, pois além de estarem em superioridade numérica, e de amarrar, amordaçar e entorpecê-las, tinham no grupo duas pessoas da família, Carina e Anaflavia, cuja presença não gerava suspeita”, diz a denúncia.

Para a Promotoria de Justiça não há dúvida de que as mortes faziam parte dos planos. “Tanto que Carina fez pesquisas no Google (no dia 24 de dezembro de 2019, por volta das 05:00 horas) sobre como resgatar o prêmio de apólice de um Seguro de Vida do Banco Santander, tendo sido explícita em sua pesquisa: ‘segurado vítima de homicídio’”. Também, segundo apontou o MP, houve pesquisa de preço para a troca do carpete do piso superior da casa da família. Essa pesquisa também teria sido feita por Carina dois dias antes do crime.