
Celebrado nesta terça-feira (28/06), o Dia do Orgulho LGBTQIA+ teve um teor diferente na região, como um dia para conscientizar a população a respeito da necessidade de valorização, implementação de políticas públicas e atenção para a comunidade que mais sofre com violência e discriminação no País.
Em entrevista ao RD, presidêntes de três ONGs (Organizações Não Governamentais) falaram sobre o descontentamento em relação à falta de ações efetivas em prol da população LGBTQIA+ e quais são as mudanças minimamente necessárias para que o dia de fato se torne uma data de celebração para quem faz parte da comunidade.
Paulo Araújo, presidente Casa Neon Cunha, em São Bernardo, relata que a cidade se encontra muito atrasada no quesito de desenvolvimento de ações, se comparada à outras cidades da região. “Além de não produzir qualquer política pública efetiva, São Bernardo conta com uma enorme negligência quando se trata de LGBTs, como foi o caso da travesti Ester, que foi assassinada e queimada um dia antes do seu aniversário”, lembra.
Outro caso citado por Araújo foi o das meninas Malévola e Agatha, violentadas por agentes da GCM (Guarda Civil Municipal), no Festival de Verão, no início do ano. “Elas foram revistadas por policiais masculinos e não por femininas, conforme o seu gênero. Um descaso com a população”, expressa.
O presidente conta que, no ano passado, a Secretaria de Segurança Publica de São Paulo identificou que São Bernardo liderava o registro de crimes contra a população LGBTQIA+, com 13 casos registrados. “Enquanto Diadema, Mauá, Santo André, produzem políticas de saúde para a população Trans com a criação de ambulatório, adaptação do serviço de saúde e ampliação de vagas nos sistemas já existentes, São Bernardo continua parada no tempo”, reclama Araújo.
Marcelo Gil, presidente da ONG ABCDs, reafirma que não existem políticas públicas ativas fora da área da saúde, e que é se faz extremamente necessária ações também na educação, no ramo de empregabilidade e direitos humanos. “O ABC deveria realizar a implantação de uma delegacia de crimes raciais e delitos de intolerância, como existe na capital. Além do respeito aos pronomes de escolha e aos nomes sociais, um atendimento à população trans e travesti também deveria ocorrer, além de óbvio, o respeito à orientação sexual de todos”, expõe.
Presidente do Conselho Municipal LGBT de Ribeirão Pires, Rafael Ventura expressa que existe uma evolução quando se trata da visibilidade na mídia, seja um comercial com um casal de lésbicas ou um beijo gay em uma novela no horário nobre. “Não podemos olhar apenas para o lado ruim. Vemos um avanço em Ribeirão Pires com a criação da Coordenadoria Intersecretarial, onde terão vários membros de várias secretarias para cuidar da demanda LGBT da cidade, que costumava ser administrada apenas por uma pessoa. Mesmo assim, ainda há muito que se fazer”, ressalta Ventura.
Divertida Diversidade
Em prol da data, o Mauá Plaza Shopping disponibiliza, até 17 de julho, uma loja que tem como objetivo dar voz e destaque à comunidade LGBTQIA+. A Divertida Diversidade conta com diversas exposições de influenciadores LGBTQIA+, e tem como ideia aproximar as pessoas de histórias e homenagens sobre o tema. As atrações vão desde um hall da fama de personalidades trans até várias outras surpresas curiosas, divertidas e interativas.
Violência contra a população LGBT
Em 2021, o Brasil registrou cerca 140 assassinatos de pessoas trans, sendo 135 travestis e mulheres transexuais, e cinco casos de homens trans e pessoas trans masculinas, segundo informações do Dossiê ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) 2022. No ano passado, registrou-se um aumento de 22% nos registros de assassinatos de defensores de Direitos Humanos LGBTQIA+ no país. Nove assassinatos foram registrados, dois a mais que em 2020, sendo oito pessoas negras, seis gays e quatro trans. Três ativistas atuavam em capitais e seis no interior do seus Estados, dois deles no campo na luta pela terra.