
Após 20 horas de sessão, a Câmara de Rio Grande da Serra aprovou na madrugada sexta-feira (1/7) o primeiro pedido de impeachment contra o agora ex-prefeito de Rio Grande da Serra, Claudinho da Geladeira (PSDB). Foram nove votos favoráveis e quatro votos contrários ao pedido de cassação por falta de respostas aos vereadores sobre questionamentos oficializados na Prefeitura, o que foi encarado pela maioria como uma forma de impedir o trabalho do Legislativo.
Votaram a favor da cassação: Agnaldo de Almeida (PL); Benedito Araújo (PSB); Bibinho (Cidadania); Charles Fumagalli (PTB); Claudinho Monteiro (AGIR); Israel Mendonça (PDT); Marcelo Cabeleireiro (PSD); Marcos Costa (União Brasil); e Raimundo Pulú (PSD). Votaram contra a cassação: Elias Policial (Podemos); Marcelo Akira (Podemos); Roberto Contador (Avante); e Zé Carlos (Cidadania).
A sessão começou por volta da 13h20 desta quinta-feira (30/6), após sete meses parada por decisão judicial. Por 17 horas os vereadores se revezaram na leitura das mais de mil páginas do relatório fina. Durante este tempo, a defesa de Claudinho tentou na Justiça um agravo para impedir o prosseguimento da sessão, porém, não conseguiu.
Durante a leitura do relatório foram apontados os principais pontos da acusação feita pelo comerciante Eduardo de Jesus Dias. A primeira foi a não resposta por parte do então chefe do Executivo para 17 requerimentos dos vereadores. Além disso, foi apontada a irregularidade no atraso do pagamento dos repasses para o orçamento do Poder Legislativo. O terceiro foram ações nas redes sociais consideradas pelo denunciante como “perseguição política”.
A defesa alegou que em nenhum momento houve a apresentação de provas que colocassem o comportamento de Claudinho da Geladeira próximo de algo que possa gerar um impeachment. Sobre os requerimentos não respondidos, a defesa alega que existe um decreto municipal que dá aos secretários a incumbência de responder aos vereadores.
Além disso, questionam a participação do presidente da Câmara, Charles Fumagalli (PTB), no processo. Os advogados alegam que o petebista em interesse direto no impeachment de Claudinho devido ao fato de ser irmão da agora prefeita Penha Fumagalli (PTB) que herdou a cadeira.
Também foi relembrado todo o enrosco com o nome do ex-servidor do Legislativo, Gabriel Henrique Afonso Campagnoli, que acabou como responsável tanto pela paralização do processo no final do ano passado ao afirmar que as provas contra o então prefeito foram forjadas. E que em junho foi o responsável pelo retorno dos processos, após afirmar que o seu depoimento foi falso e que foi montado por aliados de Claudinho da Geladeira.
Nesta sexta-feira, às 13h, ainda está marcado o julgamento do segundo pedido de cassação contra Claudinho da Geladeira. Desta vez o pedido foi feito pelo vereador Claudinho Monteiro (AGIR), por problemas encontrados pela CEI (Comissão Especial de Investigação) do fura fila da vacina contra o Covid-19. Por ser o autor do pedido, Monteiro terá que ser substituído na sessão.
Internamente os aliados do ex-prefeito pretendem entrar na Justiça para reverter a situação, alegando que não há base jurídica para o impeachment.
Histórico
Claudio Manoel Melo, o Claudinho da Geladeira foi eleito em 2020 com 8.656 votos (35,56% dos votos válidos), em sua terceira tentativa de ser prefeito em Rio Grande da Serra. Filiado no Podemos e tendo como os principais aliados o ex-prefeito Kiko Teixeira (PSDB) e Carlos Augusto César, o Cafu, conseguiu chegar ao comando do Paço.
Mas já no primeiro dia viu o seu cenário político mudar com a eleição de Charles Fumagalli para presidente da Câmara e a formação do G9 na base oposicionista. Pouco tempo depois se viu em uma polêmica após uma servidora da Secretaria de Serviços Urbanos ter tomado a primeira dose da vacina contra a Covid-19 enquanto na época só se vacinavam idosos e os profissionais da Saúde.
Uma CEI foi aberta para investigar o caso. Durante o período da investigação, chegou a protocolar na Câmara o pedido para que o Legislativo devolve-se a sede para que a Prefeitura realizasse um investimento na área de Educação. Tal fato gerou uma nova polêmica.
Escanteado politicamente, Claudinho começou a contar com o apoio do prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), que o ajudou a migrar para o PSDB para ajudar na campanha interna do ex-governador João Doria (PSDB) que tentava ser candidato a presidente.
Diversos nomes indicados por Morando migraram para Rio Grande, entre eles, o ex-vereador são-bernardense Admir Ferro que foi Secretário de Educação e depois assumiu como Secretário de Governo. Somando ao fato da deputada estadual Carla Morando (PSDB) ter virado uma aliada de primeira hora com uma série de emendas e ajudas de investimentos junto ao Governo do Estado, certa paz foi vista em Rio Grande.
A paralização dos pedidos de cassação no final do ano colaborou para uma certa tranquilidade na Prefeitura, principalmente com a Polícia Civil investigando uma suposta fraude nas provas apresentadas. Mas após um revés, Claudinho acabou se vendo longe da Prefeitura.