
Pessoas que tiveram parentes sepultados no Cemitério Carminha, no Bairro dos Casa, em São Bernardo, estão reclamando que não tiveram a chance de dar a destinação que escolheram aos restos mortais de seus entes. A queixa é que a prefeitura exuma os corpos sem comunicar os familiares que só ficam sabendo quando recorrem à administração para requerer a exumação. A prefeitura, por sua vez diz que segue o procedimento de publicar os nomes dos falecidos que serão exumados nos atos oficiais do município e os familiares que não se apresentarem até o prazo informado não terão como reclamar os restos mortais.
De acordo com a administração municipal o prazo para desocupação das sepulturas é de três anos. “A Prefeitura de São Bernardo informa, por meio da Secretaria de Serviços Urbanos, que o prazo para ocupação das sepulturas é de até três anos. Após esse período, é preciso providenciar a exumação dos despojos mortais para cemitério ou cremação particular. Caso não seja providenciado, o município promove, após publicação dos atos no Diário Oficial, a exumação para o ossuário geral, onde ficará perpetuamente”, explicou a prefeitura, em nota enviada ao RD.
O prazo informado pela prefeitura é diferente do que os familiares de falecidos relataram à reportagem. Adriana de Oliveira ficou estarrecida ao comparecer à administração do Cemitério Carminha para solicitar a exumação do seu pai, e soube que ele já havia sido exumado. O pai de Adriana, o senhor Cícero Ferreira de Lima, faleceu aos 67 anos de idade, vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) no ano de 2017. Em outubro deste ano se completaram cinco anos da morte do senhor Cícero. Respeitando o prazo que lhe foi informado à época do sepultamento, Adriana foi ao cemitério dois meses antes para pedir a exumação.
“Na época me falaram que eu poderia aguardar de 3 a 5 anos para retirar os ossos do meu pai. A família comprou um jazigo para onde iríamos transferir. Nos programamos para essa compra, ficamos com a conta para pagar e perdemos os restos mortais do meu pai. Ficamos sem saber para onde foram levados; é como se meu pai fosse um indigente, mas meu pai tem família. Estamos desnorteados e ainda não sabemos o que vamos fazer, sumiram com os restos mortais do meu pai e ficou por isso mesmo”, lamenta a moradora que tem no cemitério outro ente sepultado. Trata-se de uma mulher a quem Adriana tinha uma ligação forte, quase materna. “Ela faleceu em 2020 de causas naturais. Ela não tinha mais parentes aqui e como eu cuidava dela e a tinha como quase uma mãe, fiquei como responsável”, explica.
Ione Pelin Guimarães não consegue parar de lamentar a morte do filho, Denis Renan Pelin Guimarães, que faleceu em 2014, aos 25 anos de idade de forma trágica. Ela conta que sofreu a primeira violência com a morte do filho e agora a segunda, quando voltou ao cemitério no ano passado para solicitar a exumação. “Disseram que já tinham jogado fora e queimado”, lamenta a mãe que pretendia cremar os restos mortais e jogar as cinzas no mar.
Denis foi morto enquanto estava preso. Ione conta que ele foi acusado injustamente de ter estuprado uma ex-namorada, na cadeia ele foi assassinado por outros presos. “Ele ficou 21 dias preso e não pude vê-lo, depois só vi meu filho num caixão. Quando eu fui ao Cemitério pela primeira vez, dentro do período de seis anos que me informaram, disseram que eu não podia cremar, só se tivesse uma ordem judicial. Falaram que eu poderia voltar depois do prazo de sete anos para retirar os ossos e depositar em uma gaveta (ossário), quando voltei já tinham exumado. Quer dizer que para mim precisava de ordem judicial, para eles não precisou”, revolta-se a mãe. Ione, que já move um processo contra o Estado pela morte do filho, diz que seu advogado também processa a prefeitura por desaparecer com os restos mortais de seu filho.