
Algumas vezes, um personagem marcante só vem depois de muitos anos de carreira. Desde a estreia de Marcelo Serrado na tevê, em 1987, quando viveu o Carlinhos de “Corpo Santo”, da extinta Manchete, o ator já interpretou vários papéis de destaque e até protagonistas. Entre eles, o Danilo de “Quatro Por Quatro”, o César de “Por Amor” – ambas da Globo –, o Daniel de “Prova de Amor” e o Bruno de “Poder Paralelo” – as duas últimas da Record –, entre outros. Mas foi na pele do Crô, de “Fina Estampa”, que sentiu a mais intensa resposta do público.
Logo nas duas primeiras semanas de novela, deu para perceber a popularidade do papel. Em uma viagem a trabalho, Marcelo levou um susto com a quantidade de pessoas que o abordou no aeroporto. “Era tanta gente em cima, crianças, senhores, jovens… Fiquei impressionado. É a primeira vez que isso acontece dessa forma comigo”, surpreende-se. “É um personagem único. Quando isso aparece na carreira de um ator, é preciso se jogar”, completa, animado.
Entrega, aliás, é parte integrante desse trabalho. Principalmente no início, com o processo de composição. Ao lado do preparador de elenco Sérgio Penna, Marcelo foi a várias boates gays para observar alguns trejeitos, andares, cortes de cabelo e maneiras de se vestir. Durante a pesquisa “in loco”, Marcelo quase passou despercebido. “As pessoas me reconheciam pouco. Eu estava sempre de boné e acompanhado do Sérgio. Uma vez, em São Paulo, um cara me parou e disse: Nossa, Marcelo Serrado, você por aqui? Não precisa explicar nada. Eu já era seu fã, agora sou mais ainda!”, recorda, aos risos.
Além disso, Marcelo assistiu ao documentário “Santiago”, que conta a história de um homem que trabalhou como mordomo da família Moreira Salles, e aos filmes “Milk – A Voz da Igualdade” e “Fiel Camareiro”. Tudo para entender melhor o universo gay e também a vida dos mordomos. Afinal, na novela, Crô é um homossexual que trabalha como uma espécie de secretário “faz-tudo” de Tereza Cristina, de Christiane Torloni, a qual trata como rainha. “São três inspirações que foram referência”, conta.
A caracterização também é fundamental para Marcelo. Ela ajuda o ator a incorporar ainda mais o papel. “Eu ponho a roupa e o personagem já vem. Fico dando pinta nos corredores do Projac”, confessa, referindo-se ao complexo de estúdios da Globo, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O cabelo, penteado para cima, foi inspirado em um amigo músico de Marcelo. E como os homossexuais, de uma maneira geral, são pessoas vaidosas, o ator passou a se cuidar mais por causa do personagem. Além de correr, lutar boxe, fazer alongamento e aulas de dança para soltar o quadril, Marcelo recorre à cosmética. “Passo creme rejuvenescedor no rosto e faço a barba com produtos especiais”, destaca.
O convite para “Fina Estampa” surgiu quando Marcelo ainda estava na Record. Aguinaldo Silva havia visto seu trabalho na emissora e o chamou para interpretar o Crô. “Ele queria um ator heterossexual para fazer esse personagem”, esclarece. “Foi uma aposta dele, um risco”, avalia. Marcelo, então, esperou seu contrato acabar para mudar de casa, apesar de ter sido chamado para protagonizar uma série policial que já está sendo produzida pela Record. “Mas eu estava lá há cinco anos e queria fazer outras coisas. A Globo sinalizou essa volta e não tinha como dizer não”, ressalta. “Fui muito feliz na Record. Fiz trabalhos que possibilitaram uma redescoberta do meu trabalho pelo público”, acrescenta.