
Esta quarta-feira (31/05) é marcada pelo Dia Mundial Sem Tabaco, que foi criado em 1987 pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo. No Estado as doenças relacionadas ao cigarro mataram 11,3% a mais no ano passado. Todos os anos o Ministério da Saúde, governos estaduais e prefeituras realizam ações em alusão à data, destacando os malefícios que o cigarro pode trazer à saúde a apontando tratamentos. Esse ano, porém, no ABC não há previsão de ações para marcar a data, além daquelas rotineiras que já acontecem apenas em algumas cidades.
As prefeituras não informaram sobre a estimativa do número de fumantes ou ex-fumantes em tratamento de doenças relacionadas ao cigarro, tais como doenças respiratórias, doenças do sistema de circulação como AVC e infarto e vários tipos de câncer. Já, segundo a Secretaria da Saúde do Estado o número de internações por causas relativas ao consumo de cigarros no cresceu 4,8% no último ano em relação ao anterior, chegando a 24.807 pacientes internados. Os óbitos relacionados a estas causas no mesmo período cresceram 11,3%, de 24.042 em 2021 para 26.673 em 2022.
Dentre os mortos no Estado a maioria faleceu por conta do câncer de pulmão. No total, foram 7.207 óbitos registrados no ano passado, destes, 5.980 foram de pessoas com mais de 60 anos de idade. Dos óbitos relacionados ao tabagismo de forma geral, foram registrados 22.378 nesta faixa etária em 2022, 83,9% do total de mortes. O câncer de traqueia, brônquios e pulmão é a maior causa de internações. Em todo o estado foram 6.356 casos, incluindo os hospitais privados, enquanto nas unidades de saúde da rede estadual, foram registrados 2.197 casos. A rede SUS do estado é responsável pelo atendimento de 34,8% de todos os pacientes com doenças relacionadas ao uso de tabaco em São Paulo.
De acordo com o pneumologista Valter Eduardo Kusnir, do Hospital Santa Casa de Mauá, o tabagismo é uma doença crônica causada pela dependência da nicotina e está associado ao câncer de pulmão, o qual leva a óbito milhões de pessoas no mundo. Segundo o especialista, o tabagismo aumenta o risco de complicações de diversas enfermidades. “O tabaco causa inflamações e compromete a defesa do organismo aumentando o risco de infecções por vírus, bactérias e fungos”, explica Kusnir.
Passivos
A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, apontou que 11% da população do Estado se identificava como fumante em 2021 e, na região da Grande São Paulo, eram 12,8%. Na Capital, os fumantes eram 8,5% da população, menor do que a proporção de 2020, quando eram 9,3%.
Em 2021, 588 crianças entre 0 e 19 anos foram internadas por razões ligadas ao tabagismo na rede estadual de saúde, sendo 451 delas menores de 4 anos de idade, muitas delas afetadas pelo consumo indireto quando expostas por outras pessoas à fumaça do cigarro. A PeSNE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar) apontou que a proporção de jovens fumantes na faixa etária entre 13 e 17 anos passou de 6,6% em 2015 para 6,8% em 2019, informou o governo do Estado.
Eletrônicos
A ação liderada pela Coordenação Estadual de Tabagismo, integrada à Secretaria de Estado da Saúde, também tem o objetivo de conscientizar sobre os males do consumo de cigarros eletrônicos, produto proibido no país pela Resolução n°46 de 2009 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Apesar da sua produção, distribuição, venda e propaganda terem sido banidas em todo o Brasil, a pesquisa Inquérito Telefônico de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas em tempos de pandemia (Covitel) apontou que 7,3% dos brasileiros experimentaram esses Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) em 2022.
Boca
Registros do COB (Centro de Oncologia Bucal) mostram que a maioria dos pacientes que desenvolveram câncer de boca tratados no centro fumou mais de 35 anos ao longo da vida e consumia, em média, 20 cigarros por dia, denotando uma relação direta do desenvolvimento dos tumores de boca na população de tabagistas com o tempo e intensidade do consumo de cigarros. Um outro dado que chama atenção é que os pacientes diagnosticados com câncer de boca começam a fumar com idade média de 12 anos, indicando uma a necessidade de atenção para esta faixa de idade, como afirma o professor de Estomatologia, supervisor do COB e membro da Comissão Temática de Políticas Públicas do Crosp (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo), Daniel Galera Bernabé. “Os pacientes que desenvolvem câncer de boca associado ao consumo de tabaco começam a fumar muito cedo, o que denota a necessidade de estabelecermos estratégias de prevenção para o tabagismo desde a infância e adolescência”.
Santo André
A prefeitura de Santo André diz que, além dos treinamentos para a equipe da saúde as 27 unidades credenciadas no Programa Estadual de Controle do Tabagismo são ofertados grupos terapêuticos com Nasf (Núcleo de Apoio à Saúde da Família), grupos antitabagismo, conscientização constante, abordagem nas áreas vulneráveis e quando necessário tratamento medicamentoso. “As unidades de saúde oferecem acompanhamento para tratamento do tabagismo com equipe multiprofissional. As atividades terapêuticas estão disponíveis nas unidades de saúde e duram aproximadamente três meses. O tratamento é realizado por meio de consultas médicas e multiprofissionais, abordagem mínima ou intensiva, individual ou em grupo e, se necessário, terapia medicamentosa, juntamente com a abordagem intensiva”, diz nota da prefeitura que informa ainda que todas as 27 unidades terão ações voltadas ao Dia Mundial Sem Tabaco.
São Bernardo
A Prefeitura de São Bernardo diz que desenvolve de forma contínua o Programa Municipal de Combate ao Tabagismo, que oferta tratamento gratuito. “Com equipe multidisciplinar, o programa propõe três meses de tratamento e a manutenção das estratégias implementadas aos pacientes em até um ano. O serviço ocorre nas 33 UBSs da cidade, sendo que cada uma oferta pelo menos um grupo de 12 a 15 pessoas, que passam por atividades focadas na conduta cognitiva por três semanas e, depois, dois meses dedicados ao reforço da superação do vício. Para ingressar, é necessário ir à UBS mais próxima, portando documentos pessoais”.
São Caetano
São Caetano informou que está reestruturando o seu Programa de Controle do Tabagismo, que era centralizado no CAPS-AD até 2019 quando iniciou processo de descentralização para a rede básica, porém essa mudança sofreu atrasos durante a pandemia. “Este ano, seguindo meta do Plano Municipal de Saúde 2022-2025, vem sendo executado em 7 das 12 Unidades Básicas de Saúde (UBS Dr. Ivanhoé Esposito, UBS Nair Spina Benedictis, Centro de Especialidades Médcias, UBS Dr. Angelo Antenor Zambom, UBS Darcy Sarmanho Vargas, UBS Amelia Locatelli e UBS Moacir Gallina), além do CAPS-AD que fica com os casos mais graves, refratários ou com uso de multisubstâncias. Cada grupo nas UBS tem em torno de 10 usuários que ficam no mínimo quatro semanas em acompanhamento. As outras 5 unidades já estão credenciadas junto à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e, assim que o Mistério da Saúde enviar os medicamentos e adesivos também passarão a atender com o programa”, detalha a administração sancaetanense, em nota. A prefeitura diz ainda que leva ações de conscientização sobre os males do tabaco para alunos do Fundamental II e Ensino Médio. Além de disponibilizar médicos pneumologistas a rede de saúde de São Caetano fornece, para casos crônicos graves, oxigênio e atendimento domiciliar.
A prefeitura de Diadema informou que não fará nenhuma atividade alusiva ao Dia Mundial Sem Tabaco e também não informou como os pacientes da rede pública, que queiram parar de fumar podem fazer. Ribeirão Pires diz que não oferece tratamento para quem quer parar de fumar. As prefeituras de Mauá e Rio Grande da Serra não responderam.