
Uma enquete realizada pela Febracis Escola de Negócios, mostra uma falta de perspectiva para planejamento da vida financeira do trabalhador brasileiro. A pesquisa realizada em âmbito nacional mostra a preocupação com as questões financeiras está acima das questões sociais, familiares e saúde. Para o economista Sandro Maskio, coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista, a competição no trabalho, por vagas ou por resultados, a dificuldade de aperfeiçoamento profissional e a remuneração em baixa são os fatores centrais dessa desilusão do trabalhador.
De acordo com o estudo 29% das pessoas ficam preocupadas e ansiosas por conta de dívidas, 22% por pagamento de contas mensais, 18% por mágoas, 12% por dificuldades no casamento, 11,6% por conflitos na criação e relacionamento com os filhos e 6,9% culpam o desemprego.
Quanto perguntadas sobre carreira, emprego e trabalho a maioria está insegura com o trabalho e com o futuro e com a renda que ele possa proporcionar. O resultado mostrou que 28,6% aponta má gestão do tempo no trabalho, 15% a incerteza em relação ao futuro profissional, 13% a má remuneração, 12% não veem propósito naquilo que fazem e 7,5% alegam sobrecarga no trabalho. O levantamento fala ainda sobre a preparação para o mercado de trabalho onde 5% diz não ter conhecimento para executar aquilo que é solicitado, alegaram pressão para alcançar metas e não se sentem reconhecidos, 4% acreditam que a empresa em que trabalham não tem plano de carreira e 3,5% têm dificuldades no relacionamento interpessoal com colegas e chefia.

Para o professor de economia, Sandro Maskio, a geração atual sofre essa insegurança por causa do mercado de trabalho cada vez menor, salários baixos e a falta de perspectiva de melhora. “O mercado de trabalho causa isso por dois fatores, o primeiro é o baixo crescimento econômico desde 2015 que fez o volume de oportunidades de emprego não crescer; isso gera maior concorrência pelas vagas e as empresas têm uma rotatividade maior de pessoal. Para o empregador essa instabilidade abre espaço para uma demanda extra de trabalho, que ele usa a seu favor, ou seja, ou o funcionário aceita essa sobrecarga ou outro lá fora aceita”, analisa.
Para Maskio a evolução digital no ambiente de trabalho também está agora muito presente no setor de serviços o que demanda mais velocidade de atuação do profissional e também um maior conhecimento. “Essa questão tecnológica também gera um estresse maior do trabalhador que precisa ter conhecimento de algo novo e que é atualizado rapidamente, mas muitas vezes ele não tem tempo ou dinheiro para estudar”.
Ao ser perguntado se a próxima geração, ao chegar à vida economicamente ativa, terá dificuldades ou sofrerá mais com essas mudanças no mercado de trabalho, Maskio diz que, ao contrário, a geração que está hoje no mercado de trabalho já sofre muito com esse tipo de organização do mercado e as próximas tendem a se adaptarem melhor. “Essa geração mais experiente no mercado, entre 45 e 55 anos de idade, que entrou no mercado nos anos 80 ou início dos anos 90 ouvia que para ter uma vida melhor tinha que estudar; ela fez isso, mas essa vida mais tranquila não aconteceu como se imaginava. Os pais dessa geração orientaram os filhos a se preparar com estudo e universidade, mas muita gente que tem esse preparo não conseguiu bons salários hoje e teme não conseguir proporcionar aos filhos o que os pais lhe proporcionaram, mesmo trabalhando mais. Antes o sonho da maioria era conseguir um único emprego para a vida toda, hoje muitos trabalham em até mais do que um emprego”, completa o professor.
Saúde
A enquete da Febracis mostra que o desalento do trabalhador o força a perder momentos importantes com a família e também na sua própria formação profissional. 22,8% dos entrevistados apontaram a procrastinação, 19,7% a falta de condições financeiras para lazer, 14% estresse, 13% medo do futuro, 10,6% não ter condições para investimento pessoal (cursos, bens duráveis), 8,7% não ter paciência com família e amigos, 6% se sentem presos à situações do passado e 4,8% não conseguem tirar férias.
A insegurança e as preocupações tiram o sono dos trabalhadores e afetam também a sua saúde mental. A enquete mostrou que 28,8% estão cansados constantemente, 21,8% desmotivados, 16% impacientes com seu círculo íntimo, 12% indispostos para trabalhar e com baixa autoestima e 9% tristes boa parte do dia.
A enquete foi feita online na base nacional de alunos e ex-alunos da Febracis com 519 respondentes ao longo do mês de julho. A faixa etária dos respondentes é a seguinte: 38,4% têm de 36 a 45 anos, 25,1% de 46 a 55, 18,5% de 26 a 35, 11% de 56 a 65 anos, 4,2% de 18 a 25, 2,3% mais de 66 e 0,4% menos de 18 anos.