
A Frente Ambiental Viva Billings, que visa desassorear o braço Grota Funda, da represa Billings, em Diadema, teve reunião sexta-feira (18/8) entre membros da Prefeitura local, Sabesp e USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul). Ficou definido que no dia 23 de setembro o projeto arquitetônico da escola de vela e ancoradouro será apresentado pela universidade em audiência pública na Câmara de Diadema. Também faz parte do grupo a Prefeitura de São Paulo, que, contudo, não mandou representante para este último encontro.
Uma questão levantada em julho foi a deposição de terra pela Prefeitura de Diadema na área do braço da represa, que se pretende desassorear. Para o secretário de Meio Ambiente de Diadema, Wagner Feitosa, o Vaguinho, essa questão começa a ser resolvida quando as partes tiverem todas as informações sobre o projeto que a Prefeitura quer desenvolver no local para devolver à comunidade um espaço antes cheio de lixo e inseguro.
O secretário diz que tudo que tem feito no local tem licença da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). “Vamos fazer um parque linear que vai dar vida à área. Ali tinha muita reclamação de assaltos, porque o mato era alto e tinha gente que se escondia ali, além disso era lugar de descarte de lixo e entulho”, afirma.
Vaguinho comenta que a Sabesp começa a fazer a parte dela ao bombear o esgoto e a Prefeitura vai melhorar a infraestrutura. “Esse parque linear vai estar interligado ao Parque Fernando Ramos da Silva, o Parque Ecológico de Eldorado. Quando assumimos a Prefeitura o tratamento de esgoto estava em 57% e hoje está em 86% e isso é fruto de uma parceria com a Sabesp”, explica.
Falta contrapartida da Sabesp
Os ganhos para a população e para o meio ambiente serão grandes com a implementação total do parque. Algumas das fases dependem de abertura de licitações ainda. “Estamos querendo abrir mais um espaço de lazer e para isso cobramos, principalmente da Sabesp, pois a Billings é um dos maiores fornecedores de água do Estado e ela só vem aqui e tira, agora estamos cobrando a contrapartida dela, que é afastar o esgoto da represa”, diz Vaguinho. A estação de bombeamento de esgotos, cuja obra está parada ao lado do Parque Fernando Vitor, deve ser retomada assim que for concluída a desapropriação de dois imóveis.
A segurança e a fiscalização do meio ambiente também fazem parte do projeto. “Vamos ter uma base avançada da GCM (Guarda Civil Municipal). Temos 30 GCMs capacitados para trabalhar na área ambiental e com isso vamos integrar o GFI (Grupo de Fiscalização Integrada) que envolve os municípios à margem da represa. Estamos para receber do governo do Estado uma picape 4×4 para esse trabalho, e vamos receber também dois computadores, um tablet e um drone para fazer esse trabalho de fiscalização”, diz.

O projeto todo da Prefeitura envolve a construção de um deck para caminhada e área de contemplação voltada para a represa. “Vamos ter esse espaço para a comunidade, depois teremos a segunda fase que é um deck maior e flutuante. Isso ainda depende de licitação. E uma quarta fase do projeto envolve a criação da escola de vela, que vamos fazer na área do Sítio Morungaba em uma área que já é da Prefeitura”, completa.
Centenário da Billings
O advogado especializado em Direito Ambiental e diretor jurídico do MDV (Movimento em Defesa da Vida do ABC), Virgílio Alcides de Farias, diz que o encontro do dia 18 foi produtivo ,porque a Sabesp se comprometeu com o afastamento dos esgotos da represa que chegam através do córrego Grota Funda. “Quanto a esses dois imóveis que estão sendo desapropriados, Diadema até já depositou o dinheiro em juízo, com a saída destas casas, a Sabesp pode fazer a rede de esgoto e concluir a estação de bombeamento. Eles firmaram o compromisso de concluir essa obra até 27 de março de 2025, quando a represa completa 100 anos. “Queremos fazer um festejo neste momento que marca o início efetivo da recuperação da Billings. Esse foi um avanço histórico, o compromisso da Sabesp”, comenta o advogado ambientalista.
Falta lição da Prefeitura paulistana
Sobre o parque linear e a deposição de terra pela Prefeitura, Farias diz que essa discussão está superada. Não vai mais discutir sobre isso, diz, porque vão perder tempo. “Queremos garantir da realização da escola de vela e o ancoradouro, para trazer de volta os esportes náuticos para a margem da represa. Tudo isso será feito pelo Estado que também tem de fortalecer o GFI para fiscalizar e evitar novas ocupações em áreas à margem da represa. Veja, do lado de Diadema duas casas impedem o avanço da obra da Sabesp, mas do lado da cidade de São Paulo são muitas. Foi uma pena a Prefeitura paulistana não ter mandado representante para a reunião”, lamenta Farias.
No dia 23 de setembro a Câmara de Diadema vai receber uma audiência pública para tratar do andamento dos trabalhos da Frente Ambiental Viva Billings. Na ocasião a USCS apresentará o projeto arquitetônico da escola de vela e do ancoradouro. “Vamos apresentar o que já foi tratado, definido e quais os próximos encaminhamentos”, comenta o diretor do MDV.

Avanços
A bióloga, ambientalista e coordenadora do IPH-USCS (Índice de Poluentes Hídricos da Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Marta Marcondes também concorda que houve avanço da frente com o compromisso pela Sabesp de afastar o esgoto do braço da represa. Na sua opinião três coisas importantes já saíram da Frente Ambiental Viva Billings. A primeira é ver todos sentados na mesma mesa, deixaram de lado diferenças políticas e de opiniões tendo USCS, Unifesp, Sabesp, Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado), Diadema e sociedade juntos definindo coisas factíveis. “O segundo foi a Secretaria Estadual e a Sabesp trazerem seus projetos e mostrarem o que acontece e o que fazem e o terceiro ponto é o reconhecimento da situação real e a busca de soluções com novas tecnologias”, enumera.
Para a professora da USCS, a despoluição de parte da represa, que tem margem em Diadema e São Paulo, não vai ser feita da noite para o dia, mas o afastamento do esgoto com a obra de bombeamento será um passo importante. “É preciso uma ação integrada aos processos de recuperação dessas áreas. A despoluição é algo que vai demorar uns 10 anos, mas tem que começar por alguma ação, e é isso que estamos fazendo. Um dia as pessoas vão poder entrar nessa água sem se contaminarem, o esporte náutico e a pesca nessa área também vão voltar. Eu estou muito otimista de que esse projeto do Viva Billings vai ser exemplo para outros lugares, é a primeira vez que eu vejo se tornar realidade uma parceria assim, uma coisa que eu lia nos livros estou vendo na prática”, completa Marta.