
Criado no ano passado pela empresária Cinthia Fernandes Albuquerque, o Incca (Instituto Nacional à Crianças Carentes Autistas), com sede em Santo André, cuida de 68 crianças carentes da cidade, com doações e patrocínios. Mas a fila de espera é grande: 283 famílias aguardam vaga para terapias multidisciplinares, fundamentais para o desenvolvimento das crianças e muito pouco ofertadas pelos serviços públicos. De acordo coma ONG, a busca por recursos e parceiros é constante e a instituição tem planos de expandir os atendimentos. Na região são pelo menos 4,2 mil autistas com cadastro na SEDPcD (Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência).
Os portadores de TEA têm direito a uma carteira própria de identificação, a CipTEA (Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista) que é emitida pelo Estado. A SEDPcD informa que, desde a implantação já foram emitidas mais de 63 mil carteiras em todo Estado. Só no ABC, até esta sexta-feira (19/07) eram 4.276 carteiras. O número é um indicativo, pois muitas crianças não têm carteira ainda ou sequer têm diagnóstico fechado. Do levantamento feito pela SEDPcD a pedido do RD, São Bernardo é a cidade com maior número de carteiras emitidas; 1.377. Santo André vem em seguida com 1.132, depois Mauá, com 852; seguida por Diadema que tem 640 carteiras emitidas; São Caetano tem 125, Ribeirão Pires, 106 e Rio Grande da Serra 43.
“Só em Santo André, segundo o que a Prefeitura nos informa são 2.800 famílias atípicas”, diz Cinthia Fernandes Albuquerque, presidente e fundadora da instituição ao contar que o atendimento da Prefeitura oferece pouco mais de 20 minutos de terapia a cada 15 dias. “Aqui as crianças ficam no mínimo uma hora, mas não conseguimos atender mais, estamos no limite. O próprio Conselho Tutelar nos manda crianças. A minha ideia é fazer mil atendimentos por mês, nosso espaço comporta, mas precisamos de recursos para isso. Hoje a gente vive de ajuda dos empresários e até da minha renda particular que eu coloco no instituto”, explica.
O critério para definir da lista quem vai ser atendido é a renda. Quanto mais carente é a família, mais chances tem de ser escolhida. Uma assistente social é encarregada de fazer a triagem. “A gente tem crianças cujas famílias não têm dinheiro nem para o ônibus, moram longe e andam a pé. Por isso, tentamos agora conseguir uma van da Prefeitura para esse transporte, pois são pessoas muito carentes, algumas não têm nem um calçado”, conta a fundadora do Incca.
Cinthia diz que se identificou com a causa autista, mesmo sem conhecer muito sobre o tema há oito anos. Ela já fazia um trabalho social com pessoas portadoras de câncer e essa experiência a levou ao cuidado com crianças autistas. “Muitas crianças chegaram aqui sem falar, sem saber se alimentar, não sabiam ler, hoje a gente vê o avanço delas graças às terapias. Tem criança que só se acalma com música, temos uma sala sensorial, com iluminação diferente”, explica.

Até quem tem condições de pagar um convênio médico para ter acesso às terapias encontra dificuldade em encontrar todas em uma única clínica. São muitos os relatos de mães que falam desta dificuldade. Além disso, uma situação grave é a de cancelamento unilateral pelos planos de saúde, deixando milhares de pacientes portadores do TEA (Transtorno do Espectro Autista) sem atendimento da noite para o dia e enchendo o Judiciário de ações com pedidos de liminar para a garantia do atendimento.
Cinthia explica que o público do convênio é um, e o que ela atende no Incca é outro. O instituto prioriza crianças de até 14 anos cujas famílias se encontrem em extrema vulnerabilidade social, com renda igual ou menor a de um salário mínimo. “São crianças muito pobres, por isso, além do tratamento, uma vez por semana as famílias retiram também um cesta básica, que montamos com doações. Também recebemos doações de roupas e calçados”, completa.
Os atendimentos no Incca acontecem de segunda a sexta-feira das 9 às 17h, na sede da entidade que fica na avenida Dom Pedro I, 2419, na Vila América. No local são oferecidos atendimento com nutricionistas, advogado que ajuda a dar entrada em pedidos de benefício, psicólogos e pedagogos. O instituto recebe doações através da chave PIX 53.070.674-0001-29. Mantimentos e roupas podem ser doados na sede da entidade.