ABC - terça-feira , 22 de abril de 2025

Jovem com epilepsia controlada volta ter crises porque SUS não troca bateria de aparelho

Graziela com Mateus. Menor esteve internado no Hospital Nardini em nova crise de epilepsia. Família aguarda cirurgia para retomar terapia. (Foto cedida pela família)

O morador de Mauá, Mateus Fantazia Souza, de 13 anos, é portador de epilepsia grave e estava com a doença sob controle graças à implantação subcutânea do VNS – terapia de estimulação elétrica do nervo vago pela sua sigla em inglês -, um aparelho que provoca pequenos pulsos nervosos capazes de controlar os ataques epiléticos antes muito frequentes. Porém a bateria do dispositivo acabou e desde novembro de 2023 as crises voltaram com grande intensidade. Na madrugada desta quarta-feira o jovem foi novamente internado, essa foi a oitava internação. O procedimento é coberto pelo SUS, mas a família sustenta que a prefeitura não quer fazer o procedimento cirúrgico para a substituição da bateria do VNS.

A prefeitura nega qualquer falta de assistência ao jovem e à sua família. Em nota, a prefeitura diz que fez o encaminhamento para unidade especializada do Estado. “A Secretaria Municipal de Saúde informa que tem prestado todo o atendimento ao paciente e à família. Por se tratar de um caso de alta complexidade, os procedimentos, entre eles a cirurgia, são referenciados pelo Governo do Estado. Cabe salientar também, que o município atende integralmente a demanda judicial. A prova disso é que o paciente foi encaminhado ao sistema estadual e acolhido no Hospital Santa Marcelina, equipamento que oferece o suporte de uma equipe especializada”.

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Apesar da alegação da prefeitura, Mateus ainda não teve o funcionamento do VNS reestabelecido, segundo a médica que o acompanha há quase sete anos, essa situação pode agravar o quadro de crises epiléticas do adolescente. “Com essa demora na troca da bateria, as 30 ou mais de crises epiléticas voltaram e a agressividade das crises também. Com isso, as internações prolongadas são, mais uma vez, a realidade da família. A piora das crises levam a riscos imediatos, como a morte súbita por epilepsia, riscos de traumas, bronco aspirações e estado de mal epilético. Os estudos mostraram que a terapia VNS é eficaz, segura e bem tolerada também em pacientes pediátricos”, diz Daniela Bezerra, preceptora da Neurologia Infantil da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e membro da Associação Brasileira de Epilepsia.

Segundo Daniela, Mateus tem epilepsia grave que limita substancialmente uma ou mais as atividades básicas. Para a médica o adolescente está sofrendo muito e por longo período pela falta do tratamento, que não pode ser substituído por medicamentos até que a cirurgia seja feita. “A causa da epilepsia dele é uma paralisa cerebral. Ele é uma criança de 13 anos que não está tendo a qualidade de vida esperada, já que o tratamento eficaz não está sendo contínuo. A epilepsia do Mateus está em um grau que não pode ser tratada somente com remédios, isso porque a maioria não possui o efeito esperado para controlar as crises, sendo necessário e indispensável o VNS (Estimulador do Nervo Vago) para que ele possa continuar os estudos e sua rotina. O VNS, aliado com os fármacos, é o tratamento mais adequado para o seu grau de epilepsia. No caso dele, houve uma redução de 70% das crises, ou seja, deixaram de ser 30 por dia para serem 9 crises epilépticas ao dia. Além disso, houve a redução da agressividade, seriedade e na duração de cada uma, já que antes duravam de 2-3 minutos e, com o VNS, se tornaram menor do que 1 minuto. Os abalos musculares também estão menos intensos e o pós crise está sem sonolência ou qualquer outro sintoma”, completa a especialista.

O implante do VNS em Mateus aconteceu em 2020, na rede privada e o procedimento foi custeado pelo plano de saúde que a família tinha. Porém de lá para cá o pai do jovem, Edvaldo Souza, perdeu o emprego e a família ficou sem convênio, recorrendo ao SUS. Desde então a Defensoria Pública foi acionada para acompanhar o caso dele. Graziela Camila Aparecida Nascimento, mãe de Mateus, diz que essa quarta-feira foi mais um dia difícil para o jovem que ficou internado no Hospital Dr. Radamés Nardini, mas que à noite o menino já estava melhor. “As autoridades fazem pouco por nós, deveriam dar mais apoio às crianças especiais. A falta de medição nas farmácias de alto custo ajuda prejudicar mais as crises”, resumiu.

Procurado, o Ministério da Saúde disse apenas que precisaria de mais tempo para responder sobre o caso do adolescente de Mauá. Até o fechamento desta reportagem ele

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