ABC - quarta-feira , 16 de abril de 2025

Tomografia é indispensável, mas ABC é desigual e carece de investimento

Tomógrafo do Centro Hospitalar Municipal em Santo André. (Foto: Alex Cavanha/PMSA)

Pelo menos 12 mil tomografias são realizadas todos os meses no ABC, pelos serviços públicos de saúde, um tipo de exame tão útil e necessário ao sistema público de saúde que quase todas as prefeituras têm ao menos um equipamento, exceção feita a Rio Grande da Serra, que não tem nenhum. São Bernardo e São Caetano têm mais aparelhos, quatro e três, respectivamente. Santo André tem dois, Ribeirão Pires, Mauá e Diadema um cada.

Há também equipamentos do Estado que oferecem atendimento para exames de tomografia, como os hospitais estaduais Mário Covas, em Santo André, e Serraria, em Diadema, além do AME (Ambulatório Médico de Especialidades) de Santo André. Para médicos e especialistas em radiologia, os equipamentos são muito necessários e a oferta ainda é pequena.

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Na quarta-feira (14/08) o RD trouxe uma reportagem sobre a situação de uma paciente em crise de infecção urinária e também em tratamento de linfoma, internada no Hospital Mário Covas, que aguardou por seis dias para realizar uma tomografia. À família o hospital informou que o tomógrafo estava quebrado, já à reportagem, a Fundação do ABC, gestora do hospital, disse que por critérios clínicos o exame não tinha sido feito ainda, pois a condição renal da paciente contraindicava o procedimento, mas que a paciente tinha passado por outro exame, o ultrassom. Na terça-feira à noite, a paciente fez a tomografia. A paciente tem 83 anos e segundo o filho, Alexandre Nakandakari, o exame detectou uma obstrução no rim, que foi resolvida com uso de um cateter.

Insubistituível

Para o médico oncologista e professor da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Auro Del Giglio, o exame é um dos mais úteis no sistema público de saúde e o que oferece não tem substituto. “Eu peço tomografias com muita frequência. São exames essenciais para podermos planejar o tratamento dos nossos pacientes. O tomógrafo é fundamental no sistema público de saúde, porque em todas as especialidades ele é utilizado na rotina dos estudos para tratar melhor os pacientes”, afirma o médico.

Apesar de existirem outros exames complementares que podem ajudar nos diagnósticos, como o ultrassom e a ressonância magnética, a tomografia ainda é um exame de ponta, com resultado rápido e confiável, segundo explica Del Giglio. “Existem outros exames que podem dar muitas informações que a tomografia dá como, por exemplo, a ressonância magnética e o ultrassom, mas a tomografia, pela rapidez que ela permite ser feita e também o tempo curto que ela demanda é um exame essencial também para situações de urgência. Então em muitas das situações da rotina não é possível se dar um bom atendimento para saúde pública, ou para saúde em qualquer nível, sem a tomografia”, completa.

Manutenção e custo operacional elevados

O professor Raphael Prado Ruiz, coordenador do curso de Tecnologia em Radiologia também da FMABC, diz que que os desafios são muitos para a saúde pública implantar um serviço de tomografia, como para mantê-lo em bom funcionamento por conta dos grandes custos que representam. A maior dificuldade enfrentada hoje com os aparelhos de tomografia instalados em serviços públicos, diz, está relacionada à manutenção e aos altos custos operacionais.

Os tomógrafos são equipamentos complexos que exigem manutenção especializada e regular para garantir seu funcionamento adequado. “Entretanto, muitas unidades de saúde pública enfrentam dificuldades financeiras, o que resulta em atrasos na manutenção preventiva e corretiva. Esses atrasos podem levar à interrupção do serviço, aumentando o tempo de espera para os pacientes e, em alguns casos, resultando na necessidade de transferir pacientes para outras unidades, elevando ainda mais os custos”, observa Ruiz.

Tomógrafo de Ribeirão Pires onde são feitos 700 exames por mês. (Foto: Divulgação)

Segundo Ruiz, a alta demanda por exames de tomografia, especialmente nos centros urbanos e regiões de maior vulnerabilidade social, sobrecarrega os aparelhos existentes. “Com um número limitado de tomógrafos disponíveis, muitos serviços públicos não conseguem atender a todos os pacientes de forma rápida, resultando em longas filas e tempo de espera significativo. Esse cenário é particularmente preocupante em situações emergenciais, onde a rapidez do diagnóstico pode ser decisiva para salvar vidas”, afirma.

Falta de profissionais capacitados

Outro desafio, diz Ruiz, é ter pessoal capacitado para operar os tomógrafos, sem eles a qualidade dos exames e o diagnóstico podem ser prejudicados.

O especialista em radiologia considera crítica a atualização tecnológica dos tomógrafos em uso no serviço público. Afirma que muitos aparelhos instalados são antigos e não estão equipados com as tecnologias mais recentes, como softwares de reconstrução avançada e redução de dose de radiação, importantes para diagnósticos mais precisos e seguros.

“O serviço público de saúde enfrenta desafios significativos relacionados à manutenção dos tomógrafos, à gestão de uma alta demanda de exames, à contratação de profissionais especializados e à atualização tecnológica dos equipamentos. Para enfrentar esses desafios, é necessário um planejamento estratégico que inclua investimentos contínuos em infraestrutura, capacitação profissional e modernização dos aparelhos, garantindo assim um serviço de tomografia eficiente e acessível a toda a população”, completa o professor da FMABC.

Cidades

Consideradas as prefeituras, os dois hospitais estaduais e o AME de Santo André, são 15 tomógrafos no serviço público. Pelo menos 12 mil exames são feitos todos os meses nestes aparelhos.

Rio Grande da Serra, única cidade que não tem aparelho para tomografias, diz que tem uma demanda de 100 exames por mês e que os pacientes são encaminhados para equipamentos estaduais como os AMEs Barradas (na Capital) e Santo André e para os hospitais Mário Covas e Serraria.

Em contrapartida, São Bernardo tem quatro equipamentos um em cada hospital (Anchieta, de Clínicas, de Urgências e da Mulher). A prefeitura diz que a demanda é suprida por esses equipamentos, mas não informou quantos exames são feitos mensalmente.

São Caetano tem três tomógrafos instalados no Hospital de Emergências Albert Sabin, no Complexo Hospitalar de Clínicas e no Atende Fácil Saúde. A prefeitura diz que os três estão funcionando plenamente que são qualificados tecnologicamente e que realizam ao todo 4.230 exames por mês. A cidade tem um contrato com empresa que fornece os equipamentos.

Casa da Esperança

Em Santo André são realizados 2.980 exames por mês, em média. A cidade tem dois tomógrafos, um está na Casa da Esperança e um no CHM (Centro Hospitalar Municipal). A prefeitura, em nota, diz que considera os equipamentos atualizados e que tem contrato para manutenção dos mesmos.

Ribeirão Pires tem um tomógrafo no Hospital e Maternidade São Lucas. A demanda é de 700 exames mensais. A prefeitura diz que o equipamento é bem moderno e é capaz de gerar imagens em 3D.

Diadema tem um tomógrafo no Hospital Municipal e a média mensal de exames realizados é de 1,4 mil. A prefeitura também informa que o equipamento está atualizado. “O equipamento foi instalado em junho/22. É considerado novo”, diz nota do paço. Porém essa demanda mensal informada é apenas para os casos de urgência e emergência. Os pacientes ambulatoriais são encaminhados para os serviços do Estado via SIRESP (Sistema Informatizado de Regulação do Estado de São Paulo).

Mauá tem um tomógrafo no Hospital de Clínicas Dr. Radamés Nardini, sob gestão da Fundação do ABC. A prefeitura não informou a média mensal de exames, mas garantiu que o equipamento está apto para atender as necessidades.

O hospital Mário Covas tem um aparelho que realiza 2,7 mil exames todos os meses, segundo informou a Fundação do ABC. A Secretaria de Saúde do Estado não informou quantos exames são feitos no Hospital Serraria e na AME de Santo André.

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