RD – Jornal Repórter Diário Notícias sobre o ABC. Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra
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O Dia Nacional do Idoso, celebrado em 1º de outubro, traz à tona a urgente necessidade de cuidados e proteção aos idosos, uma realidade que parece cada vez mais distante no ABC. Para se ter ideia, de janeiro a setembro deste ano, a plataforma Disque 100, da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, registrou alarmantes 1.611 casos de violência nesta faixa etária, sendo que deste total, 1.430 casos foram relacionados à violência física, enquanto 359 casos envolveram violência patrimonial, como a coação para assinatura de documentos ou alterações indevidas em testamentos e procurações.
Os números evidenciam a vulnerabilidade dos idosos e a importância da implementação de ações efetivas que assegurem sua segurança. Segundo Antonieta Rosa Nogueira Ferreira, advogada mediadora e presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa na OAB Santo André, é urgente que se mobilize o resgate de relações através de política pública de apoio às famílias, sobretudo aos jovens, para que possam conciliar com qualidade os encargos familiares com seus idosos, sem prejuízo de seu crescimento pessoal.
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“Muitas famílias com recursos financeiros limitados enfrentam o doloroso dilema de escolher entre terceirizar os cuidados ou abandonar seus trabalhos e estudos pra se dedicar a uma tarefa anônima, sem garantias previdenciárias que assegurem seu próprio direito de envelhecer com dignidade […] Nesse sentido, é fundamental implementar políticas públicas que auxiliem as famílias neste desafio de trabalhar conflitos e fortalecer os laços familiares”, sugere.
Em comparação ao ano anterior, quando 1.780 denúncias de violência contra idosos foram registradas na região, São Bernardo continua a liderar o ranking, com 515 denúncias e um total de 2.970 violações dos direitos humanos. Entre as agressões físicas, 455 casos foram registrados, além de 109 relacionados à violência patrimonial. Um exemplo alarmante de maus-tratos e exploração patrimonial foi revelado em julho, quando o RD noticiou a investigação de um cortiço no Baeta Neves, onde idosos eram mantidos em condições precárias.
Na ocasião, a Guarda Civil Municipal de São Bernardo encontrou uma casa com vários cômodos locados a idosos, que viviam em situação de extrema falta de higiene. A gravidade da situação levou à remoção dos idosos, que foram encaminhados para serviços de saúde. Além disso, foi apurado que o proprietário dos cômodos retinha os cartões bancários dos idosos para garantir o pagamento dos aluguéis.
A cidade ao lado, Santo André também não fica para trás quando o assunto é violência contra os idosos. A cidade ocupa o segundo lugar na lista, com 431 denúncias, sendo 377 por violência física e 88 por questões patrimoniais. Já Mauá contabiliza, até o momento, 275 denúncias, das quais 239 são por agressões físicas e 54 por violência patrimonial.
Diadema aparece em terceiro lugar na listagem com 194 denúncias até então, sendo 176 relacionadas a agressões físicas e 74 a questões patrimoniais. São Caetano tem, até então, 92 ocorrências registradas, sendo 83 casos por violência física e 11 por violência patrimonial. E Ribeirão Pires chegou a 80 denúncias, sendo 76 delas de violência física e 16 patrimonial. Por fim, Rio Grande da Serra aparece em último lugar, com 24 denúncias, todas de violência física, além de 7 casos de violência patrimonial.
Negligência
Os números acedem luz à necessidade de um olhar atento para evitar a negligência do cuidado com o idoso, bem como atenção contínua para aqueles que possuem algum tipo de dependência física ou cognitiva. “Principalmente os idosos que dependem de alguma forma de um terceiro, por possuir algum tipo de síndrome demencial, sequela de derrame ou algo que comprometeu sua capacidade mental de decisão, escolha ou comunicação, precisa ser assistido de perto, com cuidados contínuos”, alerta a geriatra dos hospitais Brasil e Ribeirão Pires, da Rede D’Or, Vanessa Silva Morais.
Ainda segundo a médica, na presença de cuidadores de idosos, a instalação de câmeras de monitoramento onde o idoso vive é fundamental, a fim de observar os cuidados físicos, com a higiene e administração de medicações. “Isso já é algo comum e implementado nas casas de repouso, mas implementar dentro de casa também é essencial, desde que seja combinado com o cuidador”, afirma.
Condição vulnerável
A advogada Antonieta Rosa Nogueira Ferreira destaca a preocupação com a chamada violência interpessoal. “A lacuna criada entre as gerações gerou conflitos devido à dificuldade de comunicação e interação cotidiana, resultando nessa violência”, explica. Como alternativa, foram criados espaços para a terceira idade, que promovem entretenimento, ajudam nas funções cognitivas e estimulam a autonomia.
No entanto, a frequência a esses espaços, via de regra, ocorre enquanto os idosos conseguem se deslocar com relativa independência. “É na solidão que enfrentam suas limitações e se tornam vulneráveis a pessoas oportunistas. A figura do ancião, antes vista como um símbolo de sabedoria, passa a ser percebida como presa fácil, alheia à dinâmica das relações atuais. Isso contribui para uma crescente tensão social marcada pelo medo, pela violência e pelo silêncio”, explica.
É fundamental observar com atenção diversos sinais e contextos de violência contra idosos, como lesões inexplicáveis, cortes ou fraturas, além de mudanças notáveis no estado de saúde. Também é importante notar alterações comportamentais, como agitação, ansiedade ou depressão. Nas relações interpessoais, é necessário ficar atento a comportamentos controladores ou agressivos, bem como a comunicação desrespeitosa ou humilhante em relação ao idoso.
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