ABC - terça-feira , 15 de abril de 2025

Número de transplante de pâncreas aumenta em SP, mas fila no ABC é invisível

Estado não possui levantamento de quantos pacientes dependem de transplante de pâncreas no ABC (Foto: Divulgação)

O número de transplantes de pâncreas cresceu 136% no estado de São Paulo no primeiro trimestre deste ano, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde. O avanço, no entanto, não significa que a fila acabou, ela existe, mas em silêncio. Especificamente no ABC, o cenário é nebuloso. Apesar de existir fila de espera, a Secretaria Estadual de Saúde admite não ter sequer um levantamento de quantas pessoas aguardam o transplante na região, e as prefeituras, por sua vez, também não possuem esses dados.

Na prática, o número de pessoas na fila de espera é encoberto por uma cortina de fumaça que esconde a realidade de quem depende do procedimento para sobreviver. A costureira aposentada Margarida Alves Teixeira, de 62 anos, é uma dessas histórias invisíveis.

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Moradora de São Bernardo até o início de 2019, esperou quatro anos até ser chamada para a cirurgia. “O diabetes forte acabou com as células do meu corpo e o pâncreas ficou totalmente comprometido. Foi quando, em 2016, depois de trocar várias vezes os medicamentos, o médico informou que eu teria de fazer transplante”, lembra.

Segundo a aposentada, mesmo tendo iniciado o processo logo após o diagnóstico, a espera foi longa e marcada por internações frequentes e muita medicação. “Esperei quase cinco anos para conseguir o transplante. Nesse tempo, fui internada várias vezes, tentaram um monte de tratamento diferente e nada. Mesmo com urgência, ninguém dizia em que pé estava meu processo. E quando finalmente me chamaram, eu já nem morava mais em São Bernardo”, conta. Hoje, já recuperada, Margarida comemora a nova fase da vida, mas alerta para o desgaste físico e emocional da espera: “É muito difícil. A gente não sabe se vai dar tempo”, afirma.

Mais qualidade de vida

O caso de Margarida ilustra a realidade que embora o transplante represente uma chance real de melhora na qualidade de vida, o acesso ao procedimento ainda é limitado, e a espera pode ser longa e cheia de incertezas. Para o hepatologista Yuri Boteon, do Hospital e Maternidade Brasil, da Rede D’Or, de fato, o transplante pode trazer benefícios significativos, mas não é uma cura definitiva, uma vez que depende de muitos fatores.

Em muitos casos, o transplante de pâncreas permite que a pessoa pare de usar insulina, controlando o açúcar no sangue de forma natural e isso representa uma enorme melhora na qualidade de vida, ainda sim, o sucesso do procedimento depende de várias coisas. “A taxa de sobrevida do órgão transplantado gira em torno de 85% após um ano, mas em cinco anos pode cair para 50% ou 70%, depende do caso”, explica.

Além da chance de rejeição – que ocorre em até 20% dos casos, especialmente no primeiro ano -, o tempo de espera também pesa. “A demora pode agravar complicações do diabetes, como problemas na retina, rins, coração e sistema nervoso, além de gerar desgaste físico e emocional, com internações, dores crônicas, dietas restritivas e oscilações de glicose. Isso impacta diretamente a vida pessoal, profissional e familiar do paciente”, completa o especialista.

Prevenção ainda é o melhor remédio

Apesar dos avanços na medicina, o alerta de especialistas permanece. É melhor prevenir do que transplantar. E isso começa com hábitos diários. “O pâncreas é um órgão sensível ao estilo de vida. Hábitos como consumo excessivo de álcool, tabagismo, alimentação rica em gordura e alimentos ultraprocessados, sedentarismo e uso indevido de medicamentos podem causar danos irreversíveis ao órgão ao longo do tempo”, explica Boteon.

O médico também ressalta que muitos sintomas passam despercebidos. “Dor abdominal frequente, náuseas, perda de peso sem explicação, fezes gordurosas, vômitos ou diabetes de difícil controle são sinais que merecem atenção médica. Esses sintomas, embora sutis no início, podem indicar doenças graves do pâncreas”, chama atenção.

Casos são mais comuns a partir dos 30 anos

Ao RD, o hepatologista frisa que apesar das doenças pancreáticas atingirem qualquer faixa etária, elas são mais comuns a partir dos 30 anos. “Adultos entre 30 e 50 anos tendem a desenvolver pancreatite crônica, geralmente associada ao uso prolongado de álcool e cigarro. Já a partir dos 60, aumenta o risco de câncer de pâncreas e de tumores císticos”, afirma. Já em crianças e adolescentes, os casos geralmente têm origem genética, como a fibrose cística.

O diagnóstico precoce faz toda a diferença. Segundo o especialista, uma boa conversa com o médico, avaliação de sintomas e exames como ultrassonografia, tomografia, exames de sangue e até biópsia são fundamentais para identificar o problema a tempo.

 

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