
Os números do Infosiga (Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo) mostram que os atropelamentos com mortes no ABC dispararam em 2024. Entre janeiro e fevereiro do ano passado seis vidas de pedestres foram perdidas na região, já os dois primeiros meses de 2025 mostram 12 mortes, sendo oito em janeiro e quatro em fevereiro. Os números de março e abril ainda não foram computados na plataforma.
Para o especialista em direito constitucional e professor da Universidade São Judas Tadeu, André Adriano do Nascimento, faltam mais campanhas de alerta a motoristas e pedestres sobre riscos de acidentes e também uma fiscalização mais dura quanto ao cumprimento da legislação de trânsito.
No final da noite de quarta-feira (09/4) duas jovens de 18 anos morreram atropeladas em uma faixa de pedestres na avenida Goiás, em São Caetano. A via bem sinalizada e iluminada não foi suficiente para evitar o acidente cujo motorista Brendo Santos Sampaio, de 26 anos, estudante de Direito, foi preso por homicídio.
Imagens de câmeras do Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura mostraram que o veículo estava em alta velocidade. Para Nascimento, mesmo que o semáforo estivesse verde para os veículos, o atropelamento rende agravamento da pena. “A faixa de pedestre é considerada local de segurança e ele teria que diminuir se pedestres atravessassem na sua frente”, analisa. As jovens morreram no local, foram arremessadas mais de 50 metros adiante do local do impacto. O veículo do estudante ficou destruído na parte frontal. O capô, o para-brisas e até o teto foram retorcidos com a força da batida.
Fiscalização
“A primeira impressão que se tem é que o aumento das penas melhore o cumprimento da lei, mas o que contribui é a certeza de que se o motorista desobedecer a legislação, ele vai ser punido. Em 2017, quando a legislação sobre homicídio no trânsito mudou – antes previa de 2 a 4 anos – e aumentou a pena para mais 1/3 e até a metade, podendo chegar a uma pena de até 6 anos, tivemos a intenção do legislador em dar a importância ao assunto, equiparando a punição à pena mínima para homicídio doloso. A queda na fiscalização é que afeta o comportamento do motorista menos cuidadoso, temos ainda o ‘jeitinho’ no processo de habilitação, que faz com que pessoas, que nem deveriam estar habilitadas, saírem dirigindo. Portanto é a fiscalização que resolve”, diz Nascimento.
O professor de Direito diz que campanhas sobre riscos de acidentes são poucas. “As campanhas, como as que são feitas na Semana Nacional do Trânsito, fazem parte do próprio Código Brasileiro de Trânsito. Mas falta esse lado pedagógico. A sensação de que outro faz e a gente faz também e não é pego é o que traz a sensação de impunidade. É importante que se tenha a percepção de que o Estado está ali, presente e que se ocorrer o evento morte vai ter punição. Por isso são necessárias ações de educação e mais fiscalização”, diz.
Legislação
O uso do celular por motoristas e pedestres é um fator muito importante que precisa ser melhor analisado pela legislação de trânsito na opinião do professor da São Judas. “O celular é o maior exemplo da distração. Eu acredito que a tendência é controlar mais o uso ao volante e aumentar as sanções, apesar de que a fiscalização disso é difícil por agentes já que os carros estão em movimento, mesmo assim isso mereceria uma atenção maior do legislador, a tecnologia pode ser mais usada para isso. O agravamento da pena em 1/3 até a metade, como se faz no uso de álcool ao volante, não está aí”, completa André Adriano do Nascimento.

A pedido do RD, as prefeituras da região relataram os locais de maior incidência de acidentes de maior gravidade. As cidades apontaram os endereços de maior movimento e relatam também que as causas principais são abuso de velocidade e desobediência à sinalização.
Locais
Em Rio Grande da Serra as vias com mais ocorrências de sinistros do município são as avenidas Dom Pedro I, Jean Lieutaud, José Belo e Rodovia Deputado Antonio Adib Chamas. “Os principais motivos são casos de imprudência como, excesso de velocidade e desrespeito as sinalizações viárias. Durante o ano de 2024 não houveram óbitos, em 2025 houve um caso de óbito por acidente de trânsito. A prefeitura está atualmente em processo de aquisição de materiais para aprimorar a sinalização viária, tanto horizontal quanto vertical, com o objetivo de melhorar a segurança e a organização do trânsito no município”, informa a Prefeitura.
As vias de São Caetano com maior índice de acidentes com maior gravidade são as avenidas Goiás, Guido Aliberti e Presidente Kennedy, diz a Prefeitura ao justificar a situação no maior fluxo de veículos. “No entanto, é importante ressaltar que, mesmo assim, São Caetano é a cidade da região que menos tem acidentes graves ou fatais. Exemplo disso é que em 2024 foi apenas um acidente fatal ( na avenida Presidente Kennedy) e este ano na avenida Goiás. A Prefeitura está permanentemente mantendo a sinalização em condições adequadas e legíveis para os motoristas e pedestres. Além disso, realiza mensalmente campanhas de educação no trânsito, voltadas para condutores, pedestres e, até mesmo, para alunos, nas escolas municipais”, diz em nota.
A Prefeitura de Ribeirão Pires informa que a avenida Francisco Monteiro é a que tem o maior índice de acidentes. “Em 2024 foram registrados 50 acidentes nesta via. Em 2024, registrou um óbito e em 2025 também um sinistro. No local, houve reforço da sinalização, e a fiscalização é feita por meio dos agentes e fiscalização eletrônica; redução da velocidade da via para 40 km/h; campanhas e projetos de educação para o trânsito”, sustenta a administração.
Excesso de velocidade
Diadema também registrou, neste ano, a morte de uma jovem, atropelada por um motociclista na faixa de pedestres. “O maior número de acidentes ocorre nas avenidas Fabio Eduardo Ramos Esquivel e Piraporinha. O excesso de velocidade é o fator que gera o maior número de acidentes. Neste ano, infelizmente, registramos uma morte de uma jovem na avenida Piraporinha, atropelada por um motoqueiro ao atravessar a rua na faixa de pedestres. Diadema conta com 37 radares, entre eles, os de controle de velocidade e os semáforos que fiscalizam os avanços ao sinal vermelho, além dos redutores de velocidade. A Prefeitura tem investido também em outras ações educativas que ajudam a diminuir a quantidade de acidentes e de mortes no município”, diz o paço de Diadema.
Mauá, Santo André e São Bernardo não responderam.
Apesar das mortes por atropelamento terem registrado crescimento elas são apenas a segunda causa de morte no trânsito. Os motociclistas são os que mais morrem e os números também não param de crescer. Nos dois primeiros meses do ano passado, 14 motociclistas morreram em acidentes nas ruas e avenidas do ABC. No primeiro bimestre deste ano o número subiu para 16.