Que o Brasil é exportador de mão-de-obra no futebol, todo mundo já sabe. Mas, nos últimos anos, os jogadores do País têm atravessado a última fronteira em direção à Europa: a dos goleiros.
“Não sabem sair do gol. São inseguros. Não se adaptam ao estilo europeu. Os argentinos são melhores.” Durante muito tempo essas foram as explicações para os clubes internacionais não buscarem nos clubes brasileiros atletas desta posição. Mas a maré virou. Na temporada do Velho Mundo que está começando neste mês, 24 goleiros brasucas estarão em times de primeira divisão das sete principais ligas do continente. Serão apenas oito argentinos.
“A idéia em relação a nós mudou. Hoje existe uma confiança muito maior nos nossos goleiros. Os times europeus sabem que podem investir”, disse Gomes, revelado pelo Cruzeiro e vendido pelo PSV (HOL) ao Tottenham Hotspur. Ele é o primeiro camisa 1 brasileiro titular de uma equipe da Premier League inglesa.
Era tão raro um arqueiro nacional no exterior que Taffarel durante anos foi o único representante do País no futebol europeu. Ele se transferiu para o Parma (ITA) em 1990, e depois jogou por Reggiana e Galatasaray. “Em parte era responsabilidade nossa porque realmente não sabíamos sair tão bem do gol. Tínhamos dificuldade. Hoje o trabalho é muito mais forte e melhoramos bastante”, analisa Daniel Moraes, preparador de goleiros que está no Iunchean United (COR). Ele trabalhou com Rubinho, Doni e Júlio Sérgio, todos atualmente na Itália.
A Roma começa a Série A no final do mês com quatro goleiros no elenco profissional. Três são brasileiros (Doni, Júlio Sérgio e Artur). Há um representante do País (e campeão brasileiro de 2002) até na C1, a terceira divisão italiana: Rafael é titular do Verona, campeão italiano da elite em 1984/1985.
O advento do passaporte comunitário, que possibilitou a vários jogadores obter cidadania européia e escapar da condição de “estrangeiro”, também ajudou. “Mas não é só isso. Tem uma questão cultural. O goleiro brasileiro que chega em outro país tem dificuldade em se adaptar porque existe uma filosofia de treinamento que não é a nossa. Na Itália, por exemplo, o goleiro é um zagueiro que pode pegar a bola com as mãos. O posicionamento é totalmente diferente”, alerta Rubinho, titular do Genoa e um dos melhores da Itália na temporada passada.
A quantidade de brasileiros que atuam nesta posição mostra que os tempos que os tempos de predominância portenha estão no passado. “Nossos goleiros sempre foram bons. Agora é que os times do exterior estão percebendo isso”, constata Valdir Joaquim de Moraes, o precursor entre os treinadores da posição na América do Sul.
Goleiros brasileiros na Europa na temporada 2008/2009
Itália
Artur – Roma
Dida – Milan
Doni – Roma
Júlio César – Internazionale
Júlio Sérgio – Roma
Rubinho – Genoa
Saulo – Udinese
Espanha
Diego Alves – Almeria
Renan – Valencia
Inglaterra
Diego Cavallieri – Liverpool
Gomes – Tottenham
Portugal
Bruno Grassi – Marítimo
Cássio – Paços Ferreira
Giovanaz Assis – Belenenses
Helton – Porto
Júlio César Jacobi – Belenenses
Marcelo Boeck – Marítimo
Marcos – Marítimo)
Moretto – Benfica
Nilson – Vitória Guimarães
Rafael Bracalli – Nacional
Thiago Schmidt – Belenenses
Holanda
Cássio – PSV
Luciano da Silva – Groningen