
Morar no Recreio da Borda do Campo, em Santo André, exige muito sacrifício e paciência. Para irem ao Centro da cidade, os moradores precisam pegar dois ônibus. Embora não paguem duas passagens, perdem mais de uma hora. A linha de ônibus que fazia o trajeto direto foi cortada há 15 anos. Além disso, enfrentam falta de energia elétrica, água encanada, esgoto e segurança. Com as chuvas, apareceram deslizamentos de terra. Se não bastasse o sofrimento, a ONG Somasquinho, que oferecia atividades recreativas e socioeducativas para as crianças deixou de atuar no local. O bairro, que tinha 11 mil habitantes em 2015, segundo o IBGE, pede melhorias há anos para a Prefeitura.
Em 2013, o município recebeu R$ 66,1 milhões do governo federal para pavimentar 100% do bairro. Apesar disso, a maioria das ruas tem somente pedras e buracos. “Aqui, quem tem água encanada não tem esgoto e vice-versa. Ainda tem casos como o meu, que não tem nenhum dos dois”, conta a moradora da rua Calimico, ao citar, ainda, deslizamento de terra na rua Guiraponga.
Ao lado da creche Professora Nancy Andreoli, na rua Guariba, o mato alto e o sistema de esgoto entupido desde setembro de 2016 ameaçam os moradores. “As aulas voltam na semana que vem e as crianças vão ter de conviver novamente com o cheiro ruim”, relata Rosângela Oliveira, dona de casa e vizinha da creche.

Outro relato é a dificuldade em achar vaga na creche do bairro. “Aqui nós temos apenas uma creche pública, que é superlotada. Tenho uma filha de três anos que tento colocar na escola desde bebê e não consigo. Enquanto isso, pago uma escolinha particular para eu poder trabalhar”, lamenta Ana Maria de Lima, comerciante e moradora da rua Guarabá.
Abaixo-assinado
Os moradores também reclamam da falta de atividades para as crianças fora do ambiente escolar e até fizeram abaixo-assinado para a Prefeitura. A única opção, o Recanto Somasquinho, que atendia 100 crianças entre 6 e 14 anos em vulnerabilidade social, fechou em dezembro. “As crianças que iam ao Somasquinho participavam de oficinas, brincadeiras e muitas ainda se alimentavam por lá, já que não tinham o que comer em casa. Queremos que a Prefeitura ou alguma associação venha nos ajudar, precisamos criar atrativos para que nossos pequenos não fiquem na rua”, pede um morador da rua Jaguatirica que não quis se identificar.
O bairro também sofre com lâmpadas queimadas e falta de ronda da Guarda Civil Municipal (GCM). Silvania Soares Batista, diarista e moradora da rua Calimico, conta que as invasões e roubo de imóveis são frequentes no Recreio por falta de iluminação e segurança. “Na casa da minha tia, minha vizinha de parede, entraram e levaram tudo. A sorte é que não tinha ninguém em casa”, diz.
No bairro poucas casas recebem energia elétrica. “Vou ter de pagar R$ 1,2 mil para alguém colocar energia na minha casa, porque a Eletropaulo diz que não pode instalar nada na minha região”, reclama Ana Maria. Quem tem rede elétrica, reclama da constante queda de energia. “Se as árvores encostam nos fios, a luz acaba e só volta depois de muito tempo”, narra Silvania, que também reclama da falta de uma linha de ônibus para ir ao Centro. Há mais de 15 anos, os moradores precisam fazer baldeação no Terminal Vila Luzita para completar a viagem. “Os ônibus nunca têm horário certo para sair. Às vezes eu fico esperando mais de meia hora numa fila enorme”, relata Silvania.

Resposta
Por meio de nota, a Prefeitura informa que concentrará esforços na limpeza e roçagem de escolas para possibilitar o início das aulas. O Semasa também identificou o problema na rede de esgoto da Emeief e reportou a informação para que seja realizado o reparo.
Referente à falta de vagas, a Secretaria de Educação informa que a creche Nancy Andreoli e a Emeief Chico Mendes atendem, juntas, 1.108 crianças entre 0 e 10 anos. Segundo o IBGE, em 2015 o Recreio possuía 1.693 crianças nessa faixa etária.
No que diz respeito à GCM, a Prefeitura alega que mantém uma inspetoria que atende a região. Também prevê elevar o 6º DP, que registra ocorrências do Recreio à categoria de primeira classe com funcionamento 24 horas. A Prefeitura não se posicionou quanto à pavimentação, água encanada e projetos com atividades para crianças.
Sobre a falta energia elétrica, a AES Eletropaulo esclarece que, por ser área de manancial, os moradores devem solicitar carta de anuência para a Prefeitura e, só depois, montar o padrão de entrada de energia e solicitar ligação nas lojas de atendimento. A distribuidora informa, ainda, que realizará a poda de 69 árvores próximas no bairro.
(Colaborou Raíssa Ribeiro)