
Por de trás das casas de concretos, ainda existe um cenário de pobreza e fome, sem precisar ir longe, aqui mesmo no ABC. Apesar do programa Bolsa Família, do governo federal, beneficiar 73.869 pessoas nas sete cidades da região, conforme dados de abril do Ministério do Desenvolvimento Social, o cenário de desamparo a essas famílias, somado à onda de 14,2 milhões de desempregados pelo País, é uma grave realidade.
Comparado a abril de 2016, quando havia 73.833 beneficiados, o ABC registrou um aumento tímido de 0,05% de pessoas cadastradas no programa, após um ano. Já valor médio de cada família na região é de R$ 161,33 – no mesmo período do ano passado era de R$ 144,74. Santo André é a cidade com maior número de moradores contemplados, com 24.558, seguido de São Bernardo (20.188), Diadema (16.910), Mauá (6.543), Ribeirão Pires (2.572), Rio Grande da Serra (2.092) e São Caetano (1.006).
No entanto, os números não servem de atenuantes para muitas famílias, como é a de Ana Lúcia da Silva Oliveira, 59 anos, moradora do bairro Taboão, em Diadema. Junto com o Bolsa Família, Ana precisa ainda receber ajuda de R$ 200 do ex-marido e vender doces, para chegar a uma renda aproximada de R$ 300, enquanto ajuda a filha desempregada e os dois netos, que moram sob o mesmo teto. “Eu ganho apenas R$ 39 do Bolsa Família. Quando a minha filha trabalhava num posto de gasolina, a gente conseguia pagar as contas normalmente. Agora tenho contas de luz e telefone atrasadas. Vendo doces para completar a renda, mas há meses em que consigo faturar apenas R$ 60 com isso”, descreve.
A poucos metros da casa de Ana, reside a desempregada Ildeti Firmiano, 57 anos, ao lado da filha, também sem trabalho. Ildeti conta que o Bolsa Família ajuda apenas a pagar as contas de luz e água, e há momentos nos quais não sobra dinheiro para comprar comida, e por essa razão não é raro ir na casa da irmã, no Parque Reid, para ter o que comer.
Onde não chega
Ainda no bairro Taboão, o Repórter Diário encontrou Tereza Francisco da Silva, de 68 anos. Segundo a moradora, há seis meses fez o

recadastramento do Bolsa Família, conforme solicitado em correspondência, porém, desde então não recebe o valor de R$ 112, que seria fundamental para comprar cinco remédios e mais a bombinha de R$ 57 para sua bronquite. Se não fosse a pensão deixada pelo falecido marido, de R$ 930, a situação de Tereza seria ainda mais preocupante, pois mora com um filho, sem emprego, e dois netos. “Pediram para levar os documentos para atualizar o meu cadastro, mas até agora não tive retorno”, lamenta.
Em São Bernardo, Cristiane, moradora do Jardim Laura, conversou com o RD, porém, não quis dar o sobrenome, por medo de perder o benefício do Bolsa Aluguel, que cobre R$ 315 dos R$ 700 de locação da casa, onde mora com o marido e a filha de quatro anos. De acordo com a munícipe, ela recebia R$ 114 do Bolsa Família até novembro, quando conseguiu um emprego temporário.
Hoje, Cristiane completou a sua jornada no emprego e agora está sem renda alguma. “Eu ganhava R$ 600, mas não era trabalho registrado. Acredito que o corte (do programa) foi por isso. Agora acabou o trabalho e estou sem Bolsa Família. Hoje dependemos do ‘bico’ do meu marido (que ganha mensalmente R$ 1,5 mil). Fiquei três meses procurando emprego, gastava com passagem e nunca havia vagas”, conta.
Sto.André teve maior queda
Cidade com maior número de beneficiados no Bolsa Família, Santo André registrou queda de 26.134 para 24.558 pessoas cadastradas, entre abril de 2016 e abril de 2017. De acordo com o Paço andreense, a redução no número de beneficiados foi realizada pelo governo federal com o objetivo de evitar fraudes no programa. Os bairros com maiores demandas são Vila Luzita (7.773 famílias), Jardim Marek (3.727), Centro (3.481) e Jardim Alzira Franco (3.365).
Outra queda foi em Mauá, de 7.232 para 6.543 pessoas, sendo que o governo municipal justifica a redução em razão da não atualização de dados cadastrais ou porque houve casos de melhoraria de renda, não se adequando mais ao perfil para receber o benefício. Por sua vez, São Caetano também registrou ligeira queda de 1.026 para 1.006, pela mesma justificativa do Palácio da Cerâmica.
São Bernardo, por sua vez, saltou de 18.353 para 20.188 famílias, no mesmo período, que segundo a Prefeitura, estão no Cadastro Único municipal, responsável por atende pessoas em diversos programas sociais, além do Bolsa Família. O bairro do Montanhão e a região do Grande Alvarenga têm o maior número de beneficiados.
Na vizinha Diadema, também houve aumento de cadastrados, de 16.310 para 16.910, com áreas das regiões Leste e Centro-Oeste como as mais contempladas pelo programa. O governo diademense atribui o crescimento à crise econômica.
No mesmo caminho, Ribeirão Pires saltou de 2.540 para 2.572 famílias, com maior demanda concentrada na região do Ouro Fino Paulista. Já Rio Grande da Serra não respondeu aos questionamentos do RD.
Família Paulista
O programa Família Paulista, do governo do Estado de São Paulo, deve entrar em vigor neste ano, com intuito de promover a transferência de renda no valor de R$ 77 a cada beneficiado, a fim de enfrentar a pobreza extrema. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social, o benefício apenas aguarda um posicionamento do Palácio dos Bandeirantes para implantação em 28 municípios da Região Metropolitana, sendo três do ABC: Mauá, Diadema e Rio Grande da Serra. A meta é alcançar 150 mil famílias entre 2017 e 2019.