A Prefeitura de Santo André desenvolveu uma estratégia pioneira no diagnóstico precoce do vírus HIV em pacientes cujos resultados deram negativo em testes rápidos. O estudo foi um dos 23 finalistas do Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PPSUS), promovido pelo Ministério da Saúde em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
A infectologista do programa DST/AIDS do município, Elaine Matsuda, explica que quando a pessoa entra em contato com o HIV, depois de uma exposição de risco, como por exemplo, sexo sem proteção, há um período de 30 dias, conhecido como janela imunológica, para que os testes rápidos possam detectar os anticorpos do vírus no organismo.
Nessa nova estratégia, é feito um exame para identificar a carga viral de HIV em indivíduos que tiveram essa exposição e apresentaram resultado negativo nos testes rápidos. Elaine explica que nesse período podem aparecer sintomas do HIV agudo – logo após o pico de carga viral, mas ainda elevadíssima, acima de 10 milhões de cópias/ml – como febre, dor de garganta, diarreia, mal-estar e vermelhidão no corpo. “Isso pode ser confundido com uma gripe, dengue ou virose, mas são os primeiros sinais do vírus”, salienta a infectologista.
Com esse teste, ganha-se tempo para o início do tratamento, positivo a partir de uma semana de infecção, pois nos exames rápidos, os anticorpos contra o vírus aparecem ou são detectados em 30 dias e no de sorologia, 20 dias. “Em estudos com o vírus da imunodeficiência do macaco foi demonstrado que nesse período, o HIV agudo é 750 vezes mais infectante do que um crônico, que está em um organismo há cerca de três anos, por exemplo”, exemplifica a médica.
Falso negativo
O objetivo agora é não perder diagnósticos de pacientes que estejam nessa janela imunológica e estão infectados pelo HIV, mas com resultados negativos nos testes rápidos, o que Elaine identifica como falso negativo, por conta de uma limitação do exame. “Essa é a fase em que a pessoa mais transmite o vírus, por isso a importância do diagnóstico”, salienta.

A infectologista ressalta que nos últimos seis anos, houve oito casos de diagnóstico de HIV agudo. Em três, os testes tinham apresentado resultado negativo, e nos demais, indeterminado. “Porém, a carga viral foi positiva”, salienta.
Elaine explica ainda que, antes do início do tratamento do HIV, há uma grande quantidade de vírus e parte desses se esconde no organismo. Por conta disso, o coquetel usado no tratamento não consegue atingi-los. “Devido a estes vírus escondidos é que não se pode parar com o tratamento. Se iniciado precocemente o tratamento, há mais chances da pessoa, quando a cura for encontrada, estar mais próxima dela, pois terá menos vírus escondidos”, salienta.
Na prática, aos pacientes que procurarem os serviços de saúde de Santo André para teste de HIV, a orientação é fazer o exame de carga viral se houverem sintomas de infecção aguda e na fase de anticorpos ainda não detectados, pois já se sabe que o resultado do teste rápido não é definitivo. O município elaborou uma cartilha para capacitar demais profissionais do setor para atendimento a população.
Incorporação no SUS
Em maio, a estratégia de Santo André foi apresentada durante o evento PPSUS Marco Zero, sendo uma das 23 selecionados – única com o tema sobre HIV –, entre 200 projetos inscritos.
Elaine Matsuda ressalta que após a apresentação da pesquisa a representantes dos setores de novas tecnologias do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde abriram a possibilidade de aplicação em outras localidades por meio do SUS. “Com isso, conseguimos registrar o sucesso e impacto positivo dessa nova estratégia na rede de saúde pública”, afirma.