
O Seminário “Desenvolvimento Econômico do ABC: trajetória e perspectivas” realizado nesta quinta-feira (25/10) na UFABC (Universidade Federal do ABC), em Santo André, reuniu empresários, sindicalistas e especialistas em desenvolvimento para debater sobre a estagnação da economia da região se comparada aos anos 80. Um dos principais pontos levantados foi o não avanço do Pólo Tecnológico do ABC e a falta de apoio governamental para o fomento da região.
O seminário é parte do estudo de doutorado do professor e economista Sandro Maskio. O trabalho envolveu pesquisa sobre dados oficiais da economia da região, pesquisas de universidades, do Consórcio Intermunicipal e da Agência de Desenvolvimento Econômico, além de 25 entrevistas com empresários, sindicalistas e gestores públicos voltados para a área econômica. O estudo apontou que, segundo relataram os entrevistados, houve uma perda de competitividade regional nos últimos 26 anos. Os esforços realizados dos anos 90 para cá, com objetivo de fomento, tiveram um desempenho insatisfatório, com críticas a falta de planejamento de longo prazo.
O Polo Tecnológico do ABC, que não saiu do papel, é um dos fatores apontados pela estagnação econômica da região. Presente ao encontro, o diretor de relações institucionais da Braskem, Flávio Chantre, analisa que, apesar das empresas do Pólo Petroquímico serem grandes, há interesse em colaboração com pesquisa e a ausência do Pólo Tecnológico é fator que deixa a região atrás de outras do estado. “Seria muito importante que o Poder Público exercesse seu papel de aglutinador, até para levantar recursos dos governos estadual e federal. Importante destacar que a região foi inovadora com a criação do Consórcio e a Agência de Desenvolvimento Econômico, mas infelizmente esses espaços não estão surtindo mais os efeitos que poderiam proporcionar”, analisou.
Francisco Ruiz, gerente executivo do Cofip (Comitê de Fomento Industrial do Polo Petroquímico), considera que a indústria química vive muito da inovação e a Cofip, já pensa em disseminar o conteúdo de pesquisa das empresas grandes para as menores, independente da criação do Polo Tecnológico. “A cadeia de valor, que no ABC representa 14% de micro, pequenas e médias empresas, não tem pesquisa de desenvolvimento, o que a gente pretende fazer a partir do ano que vem para fomentar a cadeia de valor”.
O professor de economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Jefferson José da Conceição, prega que o trabalho do Polo Tecnológico pode existir independente do investimento alto em uma sede e laboratórios. “O estado não tem hoje uma política que articule sua cadeia produtiva com as universidades para que se pudesse ter no ABC espaços importantes. Eu apostaria em um Polo Tecnológico mais de rede e menos de prédio, um projeto que quebre as fronteiras da universidade e do poder público”, analisa.
O coordenador da pesquisa Sandro Maskio, destacou a forma de pensamento convergente dos diferentes setores envolvidos na pesquisa. “O que mais me deixou curioso nessa etapa de pesquisa é que diferentes profissionais, da empresa, do sindicado, do meio acadêmico, tem olhares próximos, que miram objetivos próximos, mas quando a gente pensa em realizar tarefa mais integrada há dificuldade de agir conjuntamente”. Ele também apontou a falta de políticas do governo federal e do governo do estado para as regiões metropolitanas. “Quando pensa em governos estadual e federal, não há uma diretriz clara, no governo federal os programas são mais para as regiões Norte e Nordeste; e o governo do estado tem uma política de desenvolvimento de levar o processo produtivo para o interior e não tem uma política clara para a região metropolitana e para o ABC”, concluiu.