
O abastecimento de água em Santo André está cada dia mais crítico. Com termômetros a marcar até 35 graus, em vários bairros, principalmente na região do Segundo Subdistrito – do Jardim Ana Maria até o Parque João Ramalho -, os moradores enfrentam falta água há semanas. O fornecimento, que ocorria apenas à noite, desde sexta-feira (4/2), desapareceu. A população clama por água para tomar banho, cozinhar, lavar roupa etc. Há relatos até de que moradores precisaram tomar banho na chuva para ir à escola e trabalhar. Teve gente que foi nesta segunda-feira (4/2) ao Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) para pedir caminhões-pipa, mas saiu indignado, pois recebeu a informação de que a autarquia não dispõe do serviço para aquela região.
Neste domingo (3/2), o prefeito Paulo Serra explicou que, após o rompimento de uma adutora dia 17 de janeiro e já sanado, houve novo problema técnico, agora na estação elevatória de Sapopemba, na Capital, que teve um problema elétrico nas bombas responsáveis pelo bombeamento de água para os reservatórios de Santo André.
“A Sabesp informou que as bombas já foram consertadas e que a vazão voltou ao normal e que nas próximas horas (após a reunião) Santo André voltará a receber o volume de água para poder abastecer a cidade de maneira integral, mais próxima da normalidade”, anunciou Paulo Serra, após reunião neste domingo com representantes do Estado.
Cansados de sofrer com a falta de água, os moradores se preparam para fazer barulho nesta terça-feira, na Câmara. “Não aguentamos mais ficar sem água em casa e, pior, pagar por ar, que sai inteiro pelo relógio”, desabafa Ednei de Rossi, morador do Jardim Ana Maria, que não consegue fazer ligações no número 115, do Semasa, porque alega que ninguém atende.
Ednei de Rossi esteve nesta segunda-feira no Semasa e levou a demanda do mau odor e coloração estranha que a água tem quando volta às torneiras e da passagem de ar pelo hidrômetro, que aumenta o valor da conta de água. “Me mandaram enviar a amostra de água para um laboratório de análise e posteriormente o laudo seria analisado pelo Semasa, já que não há técnicos para fazer essa análise na autarquia”, diz.
Izilda Aparecida Souza Bordoni, costureira e moradora do Parque Capuava, conta que o filho precisou tomar banho na chuva para ir trabalhar. “Já eu tive de tomar banho de canequinha”, diz ao reclamar também do não atendimento telefônico no Semasa. “A gente está pedindo o básico: água para tomar um banho, lavar uma louça. Queremos a situação regularizada, não dá mais”, afirma.

A dona de casa Lucia Leite da Silva, do Jd. Ana Maria, diz que a pouca água que tem em casa foi captada da chuva e é utilizada nos sanitários. “Ontem [domingo, 3/2] nem almoço consegui fazer, tive de comer fora e a janta foi só um lanche. Está dificílimo lidar com essa situação”, garante ao protestar pelo aumento na tarifa de água entre dezembro e janeiro por conta do ar na tubulação. “É um absurdo a gente não ter água e a conta vir alta por conta do ar nas torneiras. E não tenho como fechar o registro porque, se a água chegar, ela precisa passar para a caixa”, diz.
A professora aposentada Aparecida Ascencio, do Parque Capuava, também está indignada. Conta que está sem água desde sexta-feira (01/2) e que no sábado a água veio por alguns minutos, mas não durou o bastante para encher a caixa. Todo trabalho doméstico está parado desde então. “Pra mim, isso é uma grande falta de responsabilidade. A gente fica sem água, o relógio segue girando, minha conta aumentou, mas água na torneira, nada”, afirma a moradora.
Nota das empresas
Em nota, a Sabesp informa apenas que “houve um problema eletromecânico na Estação Elevatória Sapopemba, no sábado (2/2), por volta das 15h. O reparo foi concluído no domingo às 11h30. O restabelecimento do fornecimento de água para os reservatórios de Santo André ocorreu no decorrer da madrugada. A Sabesp fornece água para o Semasa fazer a distribuição no município”.
O Semasa informa que “desde o último dia 17/1/19, a vazão de água da Sabesp para Santo André, nos horários de maior consumo, tem sido muito menor do que a necessidade da cidade. É uma situação motivada pelo alto calor e consumo, sem relação com a dívida que o Semasa tem com a Sabesp, problema que está sendo negociado em outra esfera.
A baixa adução prejudicou, em princípio, as regiões mais altas e vulneráveis, mas depois, com a dificuldade de recuperação dos reservatórios e a necessidade da realização de manobras para atender a todos os munícipes, toda cidade passou a ter, em algum momento do dia, a interrupção no fornecimento de água.Um primeiro agravante ocorreu sexta-feira (1/2). O apagão que atingiu o ABC e a Zona Leste da Capital na noite anterior refletiu no funcionamento de bombas da Sabesp, e Santo André recebeu pouca água mesmo durante a madrugada.
Neste último sábado (2/2), a vazão estava estável e os reservatórios caminhavam para a normalização quando uma bomba da Sabesp, na Estação de Sapopemba que atende o sistema Rio Claro, queimou. A companhia estadual parou de enviar água para Santo André por este sistema entre as 15h de sábado e meio-dia de domingo (3/2).
O Semasa está aos poucos conseguindo normalizar o sistema, mas este processo é lento porque os reservatórios da cidade estão baixos e a água que chega é consumida imediatamente. Hoje (4/2), por volta das 10h, boa parte da cidade já havia recebido água, mas as regiões abastecidas pelos reservatórios Camilópolis, Erasmo Zona Alta, Gonzaga e Curuçá ainda estavam deficientes.
Para que o abastecimento se normalize é necessário que a Sabesp mantenha a adução regular. Quanto a isso, o prefeito Paulo Serra tem feito gestões pessoalmente junto ao governo do Estado, enquanto os técnicos do Semasa também cobram da área técnica da Sabesp a normalização do abastecimento.
Sem essa regularidade, também é difícil para o Semasa manter uma previsão de retorno de água precisa. O Semasa também solicita a todos os munícipes para fazer uso racional da água, principalmente aqueles que moram em regiões mais baixas, que são os primeiros a ter o seu fornecimento normalizado.
Dívida x vazão
A crise hídrica de Santo André está no meio de um grande embate entre o Semasa e a Sabesp. A autarquia andreense possui uma dívida bilionária com a estatal, que chega a R$ 2,5 bilhões, com juros e correção, enquanto a Sabesp cobra R$ 3,4 bilhões de débitos do Semasa.
No meio disso, o Semasa alega que a cidade precisa, para manter o abastecimento, 2,2 mil litros de água por segundo, mas recebe cerca de 1,3 mil litros por segundo. Já a Sabesp informa que fornece uma vazão média de 2.170 litros por segundo, volume suficiente para o atendimento da demanda da população do município (716 mil habitantes, segundo o IBGE).
(Colaborou Leticia Vasconcelos)