
Em decorrência das fortes chuvas de verão no ABC, pontos de alagamento, inundações e deslizamentos se tornam ainda mais propícios para contágio da leptospirose – doença transmitida pela urina dos ratos. Em comparação ao Estado, o ABC superou a média nacional e, por este motivo, exige atenção redobrada da população e poder público.
Conforme estudo publicado no Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), entre 2001 e 2017, o ABC apresentou índice de 1,84 paciente infectado a cada 100 mil habitantes, enquanto no Estado, o número foi de 1,56 e no País 1,85. Em 2018, foram registrados 37 casos da doença, distribuídos entre Santo André (10), São Bernardo (10), São Caetano (2), Diadema (7) Mauá (4), Ribeirão Pires (3) e Rio Grande da Serra (1).
Em relação aos óbitos, com exceção de Ribeirão Pires e São Caetano, a região apresentou porcentagem maior que a média brasileira, 10,44 óbitos contra 9,42. Dados da Secretaria Estadual de Saúde apontam cinco óbitos no ABC: dois em Diadema, um em Santo André, um em São Bernardo e um em Mauá.
A explicação, segundo a médica veterinária e mestranda em epidemiologia experimental aplicada a zoonoses, Stefanie Sussai, é falta de responsabilidade do poder público e da população e a necessidade de criação de políticas públicas regionais para combate à doença. “Temos grande investimento para tratamento, mas falta as cidades se emparelharem para combater, principalmente, esgotos a céu aberto, áreas propícias a inundações e deslizamentos”, analisa a médica.
Mapeamento
Entre os verões de 2001 e 2014, o estudo contabilizou 400 áreas de alagamento, Santo André (152), São Bernardo (108), São Caetano (40), Mauá (21), Diadema (32), Ribeirão Pires (25) e Rio Grande da Serra (22). Entre os bairros que apresentam maior frequência estão vila Pires e vila América (Santo André); jardim Silvina, jardim Orlandina e vila São Pedro (São Bernardo); jardim São Caetano, Nova Gerty e jardim Mauá (São Caetano); vila Assis e jardim Zaíra (Mauá); bairros Casa Grande e Taboão, e Centro (Diadema); Parque Aliança, Centro e jardim Caçula (Ribeirão Pires); jardim Guiomar, vila Lopes e Parque América (Rio Grande da Serra).
Embora a região tenha características favoráveis à incidência da doença, a recomendação de Stefanie Sussai é que a população redobre os cuidados básicos, como manter recipientes com tampas fechadas, casa limpa, livres de mato e se houver necessidade de andar pela água, utilizar botas e/ou ao menos sacolas plásticas para evitar o contato com a água. Para quem possui animais domésticos, a orientação é lavar os potes de alimento diariamente e manter o local higienizado.
Os sintomas da pessoa infectada são basicamente dores musculares, febre alta, problema nos rins, vômitos e diarreia. “O que falta é o poder público fazer atividades voltadas ao combate da doença. Agora, com a chikungunya, dengue, febre amarela e zika, a leptospirose ficou esquecida, mas a doença continua a preocupar”, acrescenta.
Prefeituras
As Prefeituras de Diadema, Mauá, Santo André, São Bernardo e Ribeirão Pires trabalham com ações de controle de roedores e interceptação de leptospirose em áreas de risco como córregos, entorno e obras que impeçam enchentes. Além disso, orientam a população quanto aos riscos da doença e sua prevenção, além de manter equipe e equipamentos de saúde preparados para atender casos suspeitos. As prefeituras de São Caetano e Rio Grande da Serra não retornaram até o fechamento da matéria.