
Após quase dois meses de negociação a fabricante de autopeças, Dura Automotive, decidiu não mais fechar a fábrica em Rio Grande da Serra. A indústria é a antiga Pollone e uma das mais antigas da cidade, empregando cerca de 300 trabalhadores. A negociação envolveu sindicato de trabalhadores, poder público, fornecedores, clientes e a própria diretoria da empresa. Nesta terça-feira (12/03), durante assembleia na empresa, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Vagnão, leu para os trabalhadores comunicado do gerente global da da Dura, Tyrone Jordan, que confirma a decisão da empresa em permanecer na região.
Em 15 de janeiro a direção global da Dura surpreendeu funcionários e o próprio sindicato anunciando a intenção de fechar a empresa. A partir daquele momento sindicalistas buscaram diálogo com a matriz, e também envolveram diversos atores, como fornecedores e clientes da empresa para a elaboração de um plano de recuperação. Até o prefeito Gabriel Maranhão (sem partido) e vereadores se envolveram nas negociações. Maranhão também participou da assembleia desta terça-feira.
O presidente do Sindicato comemorou a decisão, que vai preservar cerca de 300 empregos e evitar um impacto muito negativo na economia do município e da região. “A primeira conversa que tivemos aqui foi ressaltando que o caminho não seria individual e sim coletivo, mas com o comprometimento de cada um de nós. A luta que nós fizemos aqui foi extraordinária. Reverter esse fechamento, numa situação de crise, não foi fácil. Parabéns aos trabalhadores pela luta”, discursou Vagnão.
O diretor executivo do sindicato, Wellington Damasceno, que há 11 anos participa de negociações com empresas, definiu como “um marco” a negociação com a Dura. “Uma negociação que juntasse tantos atores de uma só vez eu nunca tinha visto, ainda mais com um desfecho exitoso como este. Acredito que esse é um marco e mostra que a nossa região mantém logística e capacidade de negociação. A sociedade também se envolveu muito nesse processo mandando apoio aos trabalhadores”, avaliou.
Segundo Damasceno, a cidade tem aproximadamente 3 mil trabalhadores com registro em carteira, portanto só o fechamento da Dura resultaria em perda de 10% dos trabalhadores formais da cidade, trazendo grande impacto à economia da cidade. “Prejudicaria muito os trabalhadores da empresa, mas também todo o comércio do entorno; metade destes estabelecimentos fecharia”, analisa o sindicalista. De acordo com o sindicato, a negociação envolveu a revisão da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) para menos, revisão do Plano de Saúde onde a empresa terá uma contrapartida menor, a garantia dos empregos e o estabelecimento de condições, os chamados gatilhos. “Se a produção mantiver o patamar estabelecido, fica tudo como está, mas se superar em 15%, empresa e sindicato sentam de novo para negociar os parâmetros para cima, mas se cair mais de 20% podemos voltar a negociar com mais reduções. O mais importante é a garantia dos empregos”, finaliza o sindicalista.
O prefeito Gabriel Maranhão ficou extremamente empolgado com o resultado e pela sua primeira participação em uma negociação trabalhista. “Foi enriquecedor, uma experiência para a vida; quando cada um cede um pouco, todos saem ganhando”, comentou o e chefe do Executivo. A prefeitura também cedeu, abrindo mão de arrecadação com o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Cada fornecedora da Dura, que se instalar em Rio Grande, terá isenções de acordo com o número de empregos gerados. “O importante não é tanto o imposto, mas os empregos, são 300 famílias que voltaram a sorrir. Hoje celebramos muito com lágrimas de alegria”, disse o prefeito.