
O consumo de frutas e hortaliças cresce de forma significativa entre os brasileiros devido ao baixo teor calórico, conforme explica pesquisa do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano). No entanto, o que poucos se atentam é que a higienização incorreta e a má manipulação, facilitam a transmissão de parasitas e microrganismos que, se não eliminados, podem levar os consumidores a óbito.
Durante análise de 26 amostras entre: maçãs, peras, alfaces e tomates, recolhidas de supermercados e feiras aleatórias de Mauá, São Caetano e São Paulo, as especialistas do laboratório de microbiologia da Escola de Saúde da USCS, elencam a presença de bactérias de Salmonella como uma das principais vilãs dos consumidores. “É comum identificar essas bactérias em peito de frango, ovos, mas no alface até nos surpreendeu”, afirma a farmacêutica e responsável pelo estudo, Cícera Cristina Vidal Aragão.
Os resultados indicam que, a presença de bactérias é resultado da falta de higiene e manipulação dos produtos e/ou até mesmo no cultivo das amostras. “Seria necessário haver algum tipo de vistoria e adubação com irrigação adequada nas hortas para diminuir as contaminações” explica a especialista. A contaminação por alimentos pode causar pelo menos 200 tipos diferentes de doenças, desde diarreia até câncer. “Se não houver cuidado com a intoxicação alimentar e, dependendo da imunidade, há riscos até mesmo de óbito”, alerta Cícera.
Os cuidados com a alimentação vão além das escolhas das hortaliças, envolvem principalmente a higienização dos alimentos. “As hortaliças, frutas e vegetais são produzidos no meio ambiente e, desde já, carregam bactérias, vírus e parasitas. Daí a importância de chegar os produtos no momento da compra e fazer higienização com alvejantes como o hipoclorito de sódio – encontrado em postos de saúde e supermercados – para se livrar de possíveis intoxicações alimentares”, orienta a docente.
Na confecção do estudo as frutas e hortaliças foram armazenadas em sacos plásticos descartáveis, devidamente identificados. As mesmas passaram por análise microbiológica (por meio de fricção com swab umedecido e água destilada) e análise parasitológica, com técnica de sedimentação. Na conclusão da pesquisa foi constatado alta contaminação por enterobacterias e parasitoses, com destaque para Salmonella sp, Shigella, Entamoeba e Strongyloides stercorali, o que pode indicar condições, práticas e manipulações inadequadas no local de cultivo e venda.
Diante dos resultados encontrados, Cícera explica que não há muita diversificação de qualidade entre os produtos ofertados em feiras de rua e supermercados mas que, é essencial que o consumidor final avalie o ambiente antes de iniciar as compras. “O ideal é analisar o armazenamento, manipulação e conservação antes mesmo de comprar. Em algumas ocasiões, por conta da manipulação ser menor, os produtos da feira são até mais confiáveis”, orienta.
Fast food
Em decorrência do moderno estilo de vida, há também a intoxicação alimentar provocada por consumo de alimentos contaminados por bactérias, fungos, vírus e outros microrganismos presentes em lanches de fast food. A maioria das contaminações, conforme aponta pesquisa, são causadas pelos molhos e queijos, por conta da alta proliferação de bactérias.
Em análise de quatro amostras de uma rede de fast food da região, sendo três amostras de uma loja localizada no Shopping Center e uma amostra de uma mesma loja da rede localizada no comércio de rua, foram identificados cepas bacterianas de Salmonella sp, Shigella sp, Neisseria sp e Escherichia coli, em diversas partes do alimento. Os resultados apontam riscos graves de contaminação alimentar e a necessidade do controle de higiene e manipulação dos alimentos por parte dos restaurantes.
“A contaminação pode ocorrer desde a matéria prima contaminada durante o preparo, até armazenagem e consumo. Os alimentos mais contaminados são os ovos, maionese, frango e carne bovina”, explica a especialista. A contaminação pode acontecer por utensílios e equipamentos mal higienizados ou até mesmo por negligência e ignorância do manipulador quanto ao uso de luvas e tocas. “As refeições tipo Fast food estão contaminadas com diversos agentes. Seria necessário uma forte fiscalização da vigilância sanitária para que os problemas fossem amenizados”, completa a especialista.
Em 2014 foram registrados 886 surtos alimentares e 15.700 pessoas doentes, contra 861 surtos e 17.455 pessoas doentes em 2013. Em casos de diarreia, dores estomacais, febre ou má digestão, a orientação é buscar um especialista. “São sintomas clássicos de intoxicação alimentar mas que, se não for tratado com supervisão, pode trazer problemas sérios à saúde”, finaliza Cícera.