
Apesar de garantias de que o monumento de Nossa Senhora das Graças, no bairro Serraria, em Diadema, não será retirado para dar lugar a um projeto viário, a igreja católica e o Conselho do Patrimônio Histórico estão preocupados com a preservação do marco religioso e histórico da cidade, construído em 1949 e que completou este mês 70 anos. Tudo acontece porque um projeto de mobilidade, inicialmente passaria pelo local onde está a imagem da santa. O o projeto é parte do PAC Mobilidade e é contratado pelo Consórcio Intermunicipal e está em fase de elaboração.
Segundo Loli Gagliardi, do Conselho de Patrimônio, a primeira versão do projeto passaria exatamente por onde está a santa, depois o projeto foi alterado, deixando o monumento entre as faixas de rolamento. “A Santa não pode sofrer nada, ela está no inventário de bens culturais da cidade. O conselho vai exigir da empreiteira que ganhar a licitação um estudo sobre o impacto que as obras e o trânsito mais intenso trariam à imagem”, anuncia.
O pároco da igreja, Osvy Guilarte disse que há um bom entendimento com a prefeitura. “O prefeito nos disse que não vai mexer, que não existe a possibilidade de remoção da imagem”, reproduziu o religioso. Porém a preocupação é com a fragilidade da estátua se ela ficar no meio do trânsito mais intenso de veículos, já que o projeto prevê a construção de um viaduto sobre a Rodovia dos Imigrantes, que seria interligado à avenida Dona Ruyce Ferraz Alvim, que passa em frente ao monumento. Segundo o padre, mais do que um símbolo da fé católica a imagem é também parte da história da cidade e um ponto de referência muito conhecido. “Para a cidade a santa é um ponto de referência, para nós católicos é como um farol para a nossa fé. Tanto que até muitos evangélicos são contra a remoção dela por conta da sua história”.
Guilarte pesquisou sobre a forma de construção da estátua. Percebeu que ela foi esculpida em módulos que depois foram montados sobre a pequena capela, que também não conta com vigas ou colunas de concreto, apenas tijolos trançados. “Era o método de construção na época, aqui quase não passavam carros, disse Antonio Carlos Fonseca, membro também do conselho de patrimônio e que foi criado na antiga Chácara de propriedade de Miguel Reale. “A casa onde eu fui criado também foi construída assim”, completa.
“Dá para ver que ela foi montada aqui, podemos perceber pelas rachaduras, nas emendas. O escultor faz em partes e foi unindo as peças. Hoje o monumento precisa de uma restauração, há infiltrações na parte interna da capela, por isso acho que ela não suportaria um trânsito mais intenso”, disse Guilarte, que acredita que há possibilidade de um bom entendimento com o poder público. “A gente não é contra o desenvolvimento, ao contrário, traz mais visibilidade para a igreja, a gente é contra que que se jogue a imagem para o lado para dar prioridade ao viário, colocado num canto, Nossa Senhora não pode ser posta de lado”.
O secretário de Obras da prefeitura, José Marcelo Ferreira Marques, falou ao RD sobre o projeto. Ele garantiu que a obra viária não vai ensejar a mudança da Santa de lugar, mas ela ficaria no centro das pistas de rolamento. “A Ruyce Ferraz Alvim é a quinta etapa do projeto de mobilidade. Hoje a cidade está na segunda etapa, que compreende as avenidas Casa Grande e Fundibem, ou seja, o projeto não é para agora, é dinheiro da União que demora a sair e por isso não vejo possibilidade para esta gestão”. Marques disse que a praça onde está situada a imagem vai ficar no centro de uma rotatória. “O projeto básico está sendo feito pelo Consórcio e deve ficar pronto este mês”, explicou.
Celebração

Além de referência geográfica para os moradores da cidade e importante registro da história, a Santa e a materialização do trabalho das irmãs Doroteias – Congregação católica que surgiu no século XIX – na evangelização. Hoje é também um símbolo de fé, que completou no dia 12 de junho 70 anos. Nesta data a Paróquia de Nossa Senhora das Graças fez festa, uma celebração especial de adoração ao Santíssimo e no dia seguinte uma missa campal aos pés da Santa.
O pároco Osvy Guilarte está há três anos trabalhando na cidade e revela que a participação da comunidade nas missas e nos trabalhos da igreja é muito grande. “Nós temos aos domingos três celebrações, às 7, 10 e 18 horas, e os três horários são cheios. A igreja tem capacidade aproximada para 400 pessoas e lota em todos os horários”, disse o padre que está preparando um censo na região para saber exatamente quantos moradores são católicos, quantos são evangélicos, quantos são de outras religiões e quantos não seguem religião alguma.