
As medidas adotadas pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e SPTrans para acabar com o comércio ilegal de passagens continuam a não surtir efeito na região. Mesmo após a restrição de recarga diária e semanal, imposta em 2016, e a exigência de cartões com foto, cerca de 310 vendedores ilegais foram capturados este ano no Estado, 17 deles no ABC.
A equipe do RD esteve nas estações de Ribeirão Pires e Santo André, nesta semana, e flagrou a venda irregular nas duas cidades. Na primeira, a revenda de créditos dos bilhetes Bom e Único era feita por dois vendedores, e no período de 15 minutos, ao menos 21 passageiros adquiriram a passagem de forma irregular, o que resultou no lucro de R$ 84 para os ambulantes.
O bilhete, que nos guichês oficiais da CPTM custa R$ 4,30, na mão dos vendedores sai R$ 0,30 mais barato. “Não pegamos fila e ainda sai mais barato, por que não aproveitar?”, questiona o auxiliar de pedreiro, Sebastião Alves da Cunha, de 36 anos. No ato de compra, os ambulantes recebem o dinheiro e entregam o cartão para o passageiro, orientado a passar pela catraca e devolver o passe no portão giratório.
Até mesmo os que não colaboram com o vandalismo dizem ser coagidos, e pedem fiscalização. “Logo na fila para comprar o bilhete, os ambulantes só faltam esfregar o cartão no nosso rosto para tentar vender […] ficam praticamente no meio da fila e não tem ninguém para fiscalizar”, conta uma passageira que não se identificar.
Em Santo André, embora haja base da Polícia Militar, ao lado da estação, os passageiros dizem que a segurança não inibe os vândalos, que oferecem bilhetes com tranquilidade. “Tem dia que não tem um vendedor, mas outros dias chegam a ter mais de cinco, sem um policial sequer para fiscalizar, uma vergonha”, reclama a professora Sueli Palhares, 53.
O aposentado Claudino Dutra Sales conta que, além de vender, os ambulantes chegam a oferecer dinheiro em troca de cartões antigos, de estudantes ou de aposentado. “Queriam pagar R$ 300 pelo meu bilhete. E não foi a primeira vez, chegaram a oferecer dinheiro na compra do cartão de estudante da minha sobrinha”, declara.

Mesmo com a desaprovação de grande parte dos passageiros, há quem compra o bilhete mais barato em protesto à atual situação dos trens, da Linha 10-Turquesa da CPTM. “Prefiro pagar mais barato e ajudar quem trabalha do que apoiar um sistema que não está nem aí para a população e entrega trens velhos”, avalia a cabeleireira Samatha Reis, 27. No período de 10 minutos em que a reportagem esteve na estação Celso Daniel, em Santo André, pelo menos 12 pessoas compraram os bilhetes.
Penalidade
Segundo a legislação brasileira – 7.418/85 – somente o proprietário do Bilhete Único pode utilizar o cartão para a passagem. Quem vende, pode ser considerado criminoso contra a economia popular, e pegar seis meses a dois anos de detenção, e multa de R$ 2.050.
Desde o início do ano, a Polícia Civil prendeu 310 vendedores ilegais, sendo 17 na região, onde não foram informadas as cidades. A CPTM informa que possui câmeras de vigilância em trens e estações, e as imagens captadas são armazenadas e disponibilizadas para a Polícia, responsável por investigar os crimes.
Os bilhetes apreendidos são remetidos aos órgãos responsáveis pela gestão para sanções administrativas aos proprietários dos passes. Em nota, a companhia afirma que foi contratada auditoria para avaliar o prejuízo para as empresas de transporte e estão em estudo medidas para impedir o tipo de crime.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-SP) somente neste ano, 270 pessoas foram presas ou apreendidas por prática de fraude ou comércio irregular no centro de Santo André.