
*Por Dom Pedro Carlos Cipollini
No corre-corre do dia a dia, certamente você ouviu falar dos debates que envolvem a Amazônia. Na TV viu os incêndios que a assolam, devorando a floresta. Parece algo tão longe, mas na realidade este assunto diz respeito a todos. Somos e seremos afetados pelo modo como as florestas do mundo estão sendo tratadas. Quero partilhar com você sobre o sínodo Amazônico que está acontecendo em Roma.
O Sínodo Especial dos Bispos para a Amazônia foi convocado pelo Papa Francisco e acontece de 6 a 24 outubro, no Vaticano, com tema Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral.
O contexto amplo do sínodo é a grave crise socioambiental de que fala o documento papal, que usa expressão de São Francisco de Assis, intitulado Laudato si (Louvado Seja): a) A crise climática, ou seja, o aquecimento global pelo efeito estufa; b) a crise ecológica em consequência da degradação, contaminação, depredação e devastação do planeta, em especial na Amazônia; c) e a crescente crise social: pobreza e miséria gritante que atinge grande parte dos seres humanos e, na Amazônia, os indígenas, os ribeirinhos, pequenos agricultores e os que vivem nas periferias das cidades amazônicas.
Mas, a Laudato si alerta: Hoje, não podemos deixar de reconhecer que uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres (cf. n.49).
Não há duas crises separadas – uma ambiental e outra social -, mas uma única e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza. Tudo está interligado.
Já no anúncio do sínodo, em 2017, o Papa indicava seus pontos fundamentais, ou seja, na Amazônia “encontrar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, sobretudo dos indígenas, muitas vezes esquecidos e sem a perspectiva de um futuro sereno, também por causa da crise da floresta amazônica, pulmão de importância fundamental para o nosso planeta”. Portanto, grandes temas: evangelização, novos caminhos, indígenas e floresta. Tudo isto foi sintetizado no tema do sínodo, Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral.
Trata-se da missão da Igreja na Amazônia, evangelizar, isto é, anunciar Jesus Cristo e seu Reino de justiça e paz e, consequentemente, cuidar da casa comum, a Terra. No fundo, trata-se de cuidar e defender a vida, tanto de todos os seres humanos, especialmente os indígenas, que ali vivem, quanto da biodiversidade. Jesus disse: Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância (Jo, 10,10).
Neste contexto, é importante o que o Papa Francisco chama de ecologia integral, para dizer que tudo está interligado, os seres humanos, a vida comunitária e social, e a natureza. O que se faz de mal à terra acaba fazendo mal aos seres humanos e vice-versa. Há necessidade de uma conversão ecológica, inspirada em São Francisco de Assis. Trata-se de propor uma sã relação com a criação como dimensão da conversão integral da pessoa. Mudança no modo de se relacionar com a natureza.
Isto implica consciência amorosa de não estar separado das outras criaturas, mas de formarmos uma comunhão universal. É preciso ter a consciência de que cada criatura reflete algo de Deus e tem uma mensagem para transmitir ou a certeza de que Jesus Cristo assumiu em Si mesmo este mundo material e, agora ressuscitado, habita no íntimo de cada ser, envolvendo-o com o seu carinho e penetrando-o com sua luz.
Somos chamados a reconhecer que Deus criou o mundo e o entregou para que cuidemos dele, e não para desfrutá-lo de forma desastrada, sacrificando tudo ao lucro e ao dinheiro, correndo o risco de destruí-lo e prejudicar a humanidade toda.
* bispo da Diocese de Santo André