Michelle Obama é fã. Kate Middleton, também. Então, não é muito difícil de imaginar por que Downton Abbey, a série inglesa que conquistou o mundo por seis temporadas, acabou virando filme, que estreia no Brasil na quinta, 24. “Uns dois anos antes de finalizarmos a série, pensamos num longa”, disse o produtor Gareth Neame, em entrevista em Londres. “Porque os fãs do mundo todo ficaram com a impressão de que encerramos um pouco cedo demais. Teria ficado muito desapontado se não tivéssemos conseguido fazer.”
Mas, primeiro, era preciso uma história que justificasse a presença dos personagens mais queridos, tanto os do andar de cima (leia-se: os aristocratas), como o Lorde Grantham (Hugh Boneville) e sua mulher Cora (Elizabeth McGovern), as filhas do casal, Mary (Michelle Dockery) e Edith (Laura Carmichael), o genro Tom Branson (Allen Leech), e, claro, a mãe do lorde, Violet (Maggie Smith), quanto os do andar de baixo (os empregados), como o atual mordomo, Thomas Barrow (Robert James-Collier), as cozinheiras Sra. Patmore (Lesley Nicol) e Daisy (Sophie McShera), a governanta Sra. Hughes (Phyllis Logan) e até o aposentado Sr. Carson (Jim Carter), sem contar a pouco representada classe média, na forma de Isobel Crawley (Penelope Wilton), que continua tendo os melhores embates com Violet. “Precisávamos de um elemento unificador”, explicou o criador de Downton Abbey e roteirista do filme Julian Fellowes. “Na série, não precisávamos disso. Mary podia estar com um novo namorado, e Daisy, comprando um chapéu. Necessitávamos de algo que afetasse a todos e provocasse uma resposta emocional também.”
Nada poderia agitar mais a propriedade do que uma visita da família real, mais especificamente do rei George 5º (avô da rainha Elizabeth 2ª e interpretado por Simon Jones) e da rainha Mary (Geraldine James), que estão na região de Yorkshire para visitar a filha, a princesa Mary (Kate Phillips). Mas nem tudo são flores, joias, chapéus e pratarias: os empregados de Downton logo descobrem que vão ser colocados de lado pelos funcionários da Família Real.
Enquanto isso, Daisy revela suas tendências republicanas, Tom, ex-motorista, também lida com seu passado político, e Thomas enfrenta riscos por ser homossexual.
O segundo passo foi conseguir reunir o elenco, que anda ocupado. Mas os atores parecem ter voltado com gosto. “Para mim, nem tinha o que pensar, porque era trabalhar novamente com minha família”, disse Allen Leech. Segundo Michelle Dockery, foi como se nunca tivessem deixado o Castelo de Highclere, onde a série foi filmada. “Foi um grande privilégio”, afirmou. Elizabeth McGovern descreveu a experiência como “muito fácil”. “Todo o mundo se encaixou imediatamente em seus papéis.”
Como a série, Downton Abbey, o filme, mostra um mundo em que drama não falta, mas tudo é resolvido de forma mais ou menos harmoniosa, sempre com boas intenções. E talvez resida aí o segredo do seu sucesso. “Acho que a popularidade vem do afastamento do que está acontecendo hoje”, disse o diretor Michael Engler. “Há uma nostalgia de um tempo em que as pessoas estavam mais conectadas, em que existia um senso maior de comunidade. Porque hoje a sociedade ficou muito contenciosa e fragmentada.”
A trama se passa em 1927 – a série, que começou sua história em 1912, terminou no primeiro dia de 1926. Claro que se trata de uma visão romântica desse passado. “Mostramos os anos 1920 sob lentes cor-de-rosa”, disse Jim Carter. “A vida era bem mais dura, especialmente para os empregados. O Lorde Grantham é o melhor patrão do mundo, mas na verdade não havia nenhuma segurança para os funcionários”, completou o ator. Penelope Wilton concordou. “Eu não acho que os empregados eram tratados tão bem assim. Não havia mobilidade social. A série é uma fantasia, é escapismo.”
Mas o entretenimento também serve para isso, afinal. O filme encaixa todas as peças para uma possível sequência. Julian Fellowes deixou aberta a possibilidade. “Não existe motivo para dizer que não, porque, se você diz que não nesta indústria, depois tem de engolir!”, disse. “Vamos esperar para ver.”
Downton Abbey: Relembre os principais acontecimentos das 6 temporadas
O último episódio de Downton Abbey foi ao ar quase quatro anos atrás – tempo suficiente para esquecer alguns detalhes. Durante as seis temporadas, que cobriram o período de 1912 a 1926, aconteceu de tudo um pouco.
Mary (Michelle Dockery) viu um diplomata turco morrer em sua cama, casou-se com Matthew Crawley (Dan Stevens), herdeiro da propriedade de sua família, e enviuvou quando ele sofreu um acidente de carro, motivado pela decisão do ator de não retornar ao papel.
Depois de ser disputada, acabou com Henry (Matthew Goode), que desistiu das corridas de carro após um acidente e resolveu abrir uma oficina mecânica com Tom Branson (Allen Leech). Branson, ex-motorista, apaixonou-se pela irmã de Mary, Lady Sybil (Jessica Brown-Findlay), que morreu no parto na temporada 3 – outra baixa causada pela recusa da atriz de renovar o contrato. Nos últimos anos, Branson foi ganhando a confiança do Lorde Grantham e ajudou Mary a tomar as rédeas da propriedade da família, sempre ameaçada por dificuldades financeiras.
A irmã do meio, Edith (Laura Carmichael), que é mãe solteira, teve de esconder a filha, Marigold, da sociedade. A revelação a seu noivo Bertie (Harry Hadden-Paton) quase terminou com o relacionamento, mas os dois finalmente se casaram no último episódio da série.
Isobel (Penelope Wilton), mãe de Matthew, enfrentou a família de seu amado Lorde Merton (Richard Grey), que acreditou sofrer de uma doença incurável. Mas foi alarme falso, e eles se casaram.
Entre os empregados, Thomas Barrow (Robert James-Collier), que começou a série como um personagem de caráter duvidoso, até ser revelado que ele tinha de esconder sua homossexualidade, proibida na época, conseguiu emprego numa casa menor, mas acabou voltando a Downton Abbey quando o veterano mordomo Charlie Carson (Jim Carter) não conseguia mais fazer suas tarefas. Carson se aposentou, mas continuou morando na propriedade com sua mulher, a governanta Senhora Hughes (Phyllis Logan).
Depois de desprezar Andy, a desbocada Daisy (Sophie McShera) se interessou pelo rapaz. Já a camareira Anna (Joanne Froggatt), confidente de Lady Mary, deu à luz seu bebê com o valete Sr. Bates (Brendan Coyle) na cama da patroa, na noite de Ano Novo de 1926.