
Com a busca por uma vida mais saudável, econômica e ambientalmente responsável, a bicicleta se tornou meio de transporte de muita gente. No entanto, quem opta pela magrela para fazer trajetos no ABC passa por uma verdadeira aventura, com ciclofaixas cheias de obstáculos, falta de sinalização ou mesmo continuidade, além do desrespeito por parte dos motoristas e motociclistas.
É o que relata um morador da vila Luzita, em Santo André, que prefere não ser identificado. De acordo com o ciclista, que sempre faz trajeto pela ciclofaixa da avenida Mário Toledo de Camargo, a situação é crítica especialmente na altura do número 6.900, onde constantemente motos ficam estacionadas. “Já reclamei diversas vezes, mas não resolve. É um desrespeito”, afirma.
E não são apenas as motos que param em local indevido. Na altura do número 2.270 da avenida existe uma oficina de funilaria e pintura, que usa a pista exclusiva para os ciclistas como garagem e estacionamento para clientes. Quem trafega pela ciclofaixa neste ponto precisa desviar dos veículos pela avenida. Em outros trechos, o problema é a parada de ônibus, que fica localizada em cima da ciclofaixa. Em toda extensão da pista, é possível perceber que a via está mal pintada e com pouca sinalização, além de acabar abruptamente no trecho próximo ao terminal de ônibus da Vila Luzita.
Quem também reclama de ciclovias que acabam do nada é a publicitária Giovana Temístocles Gomes. Apesar usar apenas a ciclofaixa de lazer de São Caetano, que funciona aos fins de semana nas avenidas Goiás, Kennedy e Guido Aliberti, Giovana conta que já teve a experiência de tentar trafegar pela ciclofaixa da avenida Queirós dos Santos, no centro de Santo André, mas teve dificuldades. “De repente, ela acaba. Aí o que você faz com a bicicleta? Vai para o meio da rua, e os carros não respeitam”, afirma. Nesta ciclofaixa, além da interrupção da via, as bicicletas disputam espaço com os pedestres, que usam o equipamento como se fosse calçada. Outro ponto no qual o ciclista e o pedestre disputam espaço é no trecho de ciclofaixa na avenida Santos Dumont que, em diversos pontos, passa por cima de faixas de travessia.
Em Mauá, a situação é crítica na ciclofaixa da avenida Washington Luiz. Sem manutenção há tempos, a via tem muita areia e lixo acumulados, o que pode ocasionar derrapagens e quedas. Em outro ponto, na altura do número 795, a ciclofaixa praticamente desaparece, tomada por mato e sujeira.
Apesar de usar a bicicleta cotidianamente, a socióloga Lígia Lopes Gomes, moradora de São Bernardo, conta que não tem costume de trafegar pelas ciclofaixas, desestimulada pela inexistência da pista exclusiva para ciclistas nas principais vias que utiliza e má conservação dos equipamentos. “É um transtorno você ter de ir para a rua porque tem uma árvore no meio do caminho ou ter de descer um degrau grande porque a ciclofaixa acaba do nada”, afirma.
A socióloga conta também que a ciclofaixa da avenida Lauro Gomes, entre São Bernardo e Santo André, poderia servir como caminho interessante para chegar até o metrô Tamanduateí, mas pelo mau estado de conservação deixa de ser opção. “É bem abandonada e muito precária, já usei, mas ela é bem complicada”, diz. Outros problemas que Lígia já enfrentou ao trafegar por ciclofaixas da região foram buracos e poças na pista da avenida João Firmino e estacionamento e tráfego indevido de motoristas na ciclovia da avenida Presidente João Café Filho.
Prefeituras alegam que fazem manutenção e monitoramento
Questionada sobre o estado de conservação e punições para quem desrespeitar a ciclofaixa, a Prefeitura de Santo André informa que monitora as ciclovias e ciclofaixas por rondas periódicas de trânsito e de denúncias feitas por ligações na central de monitoramento de trânsito. É feita orientação para que o motorista ou motociclista retire o veículo da ciclofaixa e, caso não encontre o infrator, o veículo é autuado por estacionar em ciclofaixa (falta gravíssima -7 pontos) e removido ao pátio de veículos.
São Bernardo avisa que em casos de constatação de uso irregular das ciclovias, os agentes de trânsito podem aplicar autuação por tráfego em local proibido e que a Prefeitura atua com ações de sinalização, orientação e medidas educativas, uma vez que a cultura das faixas exclusivas para ciclistas ainda está em fase de adaptação no município.
Mauá informa que as ciclofaixas da avenida Armando Salles Oliveira, no Parque São Vicente, e a da avenida Papa João XXIII são fiscalizadas por rondas periódicas e que, em caso de infrações cometidas por motoristas ou motociclistas, as punições são aplicadas conforme descritas no Código Brasileiro de Trânsito. A ciclofaixa da avenida Washington Luiz não foi citada na resposta.
Ribeirão Pires afirma que conta com ciclofaixa de lazer aos domingos e feriados e que Agentes de trânsito fazem rondas e a fiscalização na área para garantir a segurança dos usuários, de acordo com o Código Nacional de Trânsito.