
No Brasil, entre 2008 e 2017, foram identificados 33.339 óbitos causados pelo câncer de pele. Os registros de internação trazem dados ainda mais significativos: de janeiro de 2009 a setembro de 2019, houve 394.770 internações por conta dessa doença em todo o país, gerando uma despesa de R$ 454,6 milhões para o Sistema Único de Saúde (SUS), em valores correntes.
Para Sérgio Palma, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), esses números são relevantes para demonstrar a gravidade da doença, além de alertarem para necessidade de acesso ao atendimento qualificado no diagnóstico e no tratamento do câncer de pele, com investimento em estratégias de prevenção. “Esses números mostram que o câncer de pele, ao contrário do que muitos pensam, é um problema de saúde que, se não for bem tratado, pode ter consequências sérias para o bem-estar do paciente”, alerta.
Com essa preocupação, a Sociedade Brasileira de Dermatologia desencadeou mais uma edição do Dezembro Laranja, campanha nacional criada em 2014 para a prevenção e combate ao câncer de pele. Durante esse mês, em parceria com instituições públicas e privadas, a entidade fez ações para discutir formas de prevenção e alertar a população da importância de buscar o diagnóstico e o tratamento com um médico especialista.
Dados de morbidade e mortalidade compilados pela SBD indicam que os idosos compõem o grupo etário mais vulnerável para esse tipo de câncer. Setenta e um porcento dos óbitos (23.810) registrados entre 2008 e 2017 foram de pacientes a partir dos 60 anos. No segmento com idades de zero a 19 anos (crianças e adolescentes), representaram pouco mais de 0,5% (173) das mortes.
O Painel Oncologia, base de dados coordenada pelo Ministério da Saúde, indica que entre 2013 e 2019, 77.200 pessoas foram diagnosticadas com melanoma e outros tumores malignos da pele. Os idosos formam o público principal no diagnóstico da doença, com 67% de todos os casos. A faixa etária com o menor número de diagnósticos foi a de 20 a 24 anos, com 507 casos, o que representa menos de 1% do total. Separados por sexo, o número de diagnósticos é ligeiramente maior entre as mulheres, com 38.695. Nos homens o total é de 38.505.
São Paulo é o Estado com maior número de diagnósticos (20.820), seguido por Paraná (11.444) e Rio Grande do Sul (9.079). Acre (29), Amapá (16) e Roraima (15) registraram os menores números de casos de câncer de pele no período pesquisado. Em relação às regiões, no período de 2013 a 2019, o Sudeste (31.059) registrou o maior volume de diagnósticos, seguido do Sul (26.133), Nordeste (13.092), Centro Oeste (5.150) e Norte (1.766).
Embora associado à exposição inadequada ao sol, dos 20 municípios que registraram o maior número de diagnósticos de câncer de pele entre 2013 e 2019, somente 3 estão no litoral brasileiro: Fortaleza (CE), na 4ª posição; Salvador (BA), na 10ª posição, e Natal (RN), na 12ª posição.
No que se refere às internações, São Paulo é o Estado que registrou o maior volume de ocorrências (103.635), representando 26% do total. Após, vêm Paraná (59.914) e Rio Grande do Sul (38.412). No período analisado (janeiro de 2009 a setembro de 2019), segundo o levantamento da SBD as unidades da federação com menores registros desse tipo foram Acre (345), Roraima (321) e Amapá (157).
Do ponto de vista regional, o Sudeste (162.587) foi o que teve o maior número de internações, representando 41% do total, seguida pelo Sul (121.854), Nordeste (71.938), Centro Oeste (30.749) e Norte (7.642). No período avaliado, 65% das internações foram de pacientes idosos, a partir de 70 anos.
Crianças e jovens (zero a 19 anos), representaram apenas 2% do total de internações. A maioria dos pacientes atendidos foram homens, com 204.697 casos (52%). As mulheres acumularam 90.073 (48%) ocorrências. A pesquisa também demonstra que 62% das pessoas hospitalizadas com câncer de pele são brancas (245.239), seguida de pardos (83.878). Pacientes negros representaram apenas 1% do total.
Para a coordenadora do Departamento de Oncologia Cutânea da SBD, Jade Cury, no entanto, certamente os números estão aquém do real cenário epidemiológico do câncer de pele no País, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, já que as bases de dados existentes ainda sofrem com a subnotificação e as cidades com falta de acesso a serviços qualificados de diagnóstico. Além disso, em muitos lugares, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, o acesso ao serviço de saúde especializado ainda é difícil, o que retarda e dificulta o diagnóstico da doença. “Com isso, muitos pacientes acabam se deslocando para os grandes centros, em busca do atendimento”, enfatiza a especialista.