
No período de dois anos, a população em situação de rua em quatro cidades do ABC aumentou 11,5%. Informações repassadas pelas prefeituras de Diadema, Ribeirão Pires, Santo André e São Bernardo são de que houve salto de 1.504, em 2017, para 1.677 pessoas que vivem nas ruas em 2019. Para piorar o quadro, os municípios atendem somente 20% dos que vivem nas ruas.
No levantamento, 915 moradores foram abordados em Santo André em 2017 nesta condição, enquanto no ano passado 971 foram atendidas; até o momento, em 2020, são ao menos 315. Por se tratar de um público transitório, a Prefeitura considera que o número deve aumentar consideravelmente no decorrer do ano Replica Rolex.
A estimativa em São Bernardo é que a população de rua tenha crescido de 360 a 400 entre os anos de 2017 e 2019. Em Ribeirão Pires, a contagem subiu de 229 pessoas, em 2017, para 266 até o ano passado. Já Diadema não informou nos anos anteriores, mas em base nos registros municipais são realizados em média 40 atendimentos/dia na cidade. Mauá, São Caetano e Rio Grande da Serra não se posicionaram.
Motivações
Entre os gatilhos que levam à situação de rua estão desemprego, problemas familiares, alcoolismo e doença mental. “Desentendimentos, desamparo ou situações traumáticas levam ao aumento desses casos”, explica a assistente social Andressa França da Rocha.
Para a profissional, que também é voluntária em serviços sociais na região, pelo menos 60% dos casos devem ser atribuídos a essas motivações. “Parece que não, mas esses problemas mal resolvidos são cada vez mais comuns e frequentes”, reitera.
O catador de materiais recicláveis, Josué dos Santos, de 51 anos, que vive nas ruas de Santo André há pelo menos seis meses, é exemplo. Após sair da prisão, onde cumpriu pena durante 11 anos por pequenos furtos, não conseguiu reinserção familiar. “Saí do sistema prisional e desde então não consegui voltar para casa, minha família não queria mais saber de mim”, lamenta.
Santos, que acionou o serviço social da cidade, diz ter enfrentado sistema extremamente exigente. “O serviço social não oferece ajuda, você precisa implorar e mostrar que está com problema para conseguir”, declara. Para conseguir tomar café e banho em casa acolhida, conta que precisou fazer carteirinha, mas que ainda assim teria validade curta. “São 30 dias de validade, depois eles pedem para esperarmos horas para renovar a carteirinha. Complica para quem trabalha”, reclama.
Em busca de um serviço mais acolhedor, o catador conta que acionou a Prefeitura de São Caetano e, por meio desta, conseguiu doações de roupas e serviços básicos em troca de serviços de limpeza, arrumação e cozinha.
Prefeituras atendem somente 20%
Dados das prefeituras revelam que os quatro municípios juntos atendem somente 20% da população em situação de vulnerabilidade social. Diadema oferece 40 vagas, enquanto Santo André atende 95 pessoas nos centros de referência especializados para pessoas em situação de rua (Centro POP).
São Bernardo possui acolhimento 24h para 150 pessoas na Casa de Passagem e outras 30 são atendidas em Moradia Provisória, com característica de República. Já Ribeirão Pires possui convênio com a Casa da Acolhida, com serviço 24h e atendimento para até 20 pessoas.
Em todas as cidades há serviço de abordagem social, atendimento psicossocial, serviços de saúde, documentação e outros benefícios para fortalecer a autonomia da população e auxiliar na superação da condição social. Além disso, são disponibilizados banhos, refeições e estadias, ainda que temporárias.
Para conseguir manter sua sobrevivência, dos três filhos e do marido, ainda que na rua, Rose Nogueira, de 36 anos, vende panos de prato e balas em semáforos da região. Diz que já contou com ajuda de diversas prefeituras, mas o serviço é superficial. “Nunca tive ajuda da assistência social. Mesmo nos abrigos, é você por você mesma. No máximo oferecem duas refeições por dia e lugar de dormir e tomar banho. Durante o dia, você e seus filhos são jogados de volta na rua”, reclama Rose, que vive em um acampamento em Santo André.
Na visão da ex-assessora de políticas públicas na Secretaria da Mulher e Direitos Humanos de Santo André, Eliad Dias dos Santos, o atendimento feito pelas prefeituras é extremamente precário, resultado da falta de políticas públicas para a população de rua.
Para a especialista, o serviço social deveria envolver questões além do assistencialismo básico. “São necessários investimentos em núcleos e grupos sociais para trabalhar na reinserção dessa população. Não basta dar alimentação e moradia temporária, não resolve”, aponta. Segundo Eliad, o que agrava ainda mais a situação é a visão de “indigente”, imposta pelo governo. “Essa população não é vista, não tem documento, título de eleitor, é uma população pobre e por isso não ganha a atenção necessária”, finaliza. (Colaborou Ingrid Santos Replica watches).