
Em 1958, o então técnico da seleção de futebol, Vicente Feola, resolveu indicar o caminho para que Garrincha marcasse um golaço contra a União Soviética. O ponta-direita do Botafogo então perguntou: “Mas, professor, vocês já combinaram com os russos?”, e assim nasceu uma expressão. E essa história resume exatamente a falta de combinação entre o governo do Estado e o ABC sobre as decisões preventivas para combater o novo coronavírus (Covid-19).
A decisão de suspender o transporte público para a população acabou encarada pelo governador João Doria (PSDB) como espécie de quarentena forçada, algo que acontece em países como a Itália, que superou a casa das 3,4 mil mortes. O chefe do Palácio dos Bandeirantes quer manter a calma neste momento de crise e deixou claro que se irritou, pois considera a medida “precipitada”.
Claramente os prefeitos poderiam ter combinado com “os russos” ou, no caso, com Doria. Muitos moradores utilizam as linhas municipais para acessar os modais gerenciados pelo Estado (ônibus intermunicipais, trólebus, trem e metrô). Muitos não possuem carro ou moto e dependem do transporte público para se locomover.
Claro que a recomendação é ficar em casa, mas será que essa medida é boa para quem trabalha na indústria e não pode fazer home office neste momento? A crise do Covid-19 mostra claramente que não existe uma organização para que medidas sejam tomadas em conjunto entre União, estados e municípios.
A própria divulgação dos dados mostra que não existe conversa, pois a divergência chega a ser gritante. Passou da hora de uma organização na comunicação. Está na hora de combinar com “os russos” e com todos aqueles que podem ajudar em um momento tão difícil como esse. Que a combinação não seja feita apenas quando for tarde demais.