O Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana) em São Bernardo está em processo de produção de máscaras do tipo Face Shield que vão proteger profissionais de saúde que atuam na linha de frente no tratamento dos infectados pelo novo coronavírus, o Covid-19. A iniciativa foi do coordenador da pós-graduação em engenharia mecânica, Rodrigo Magnabosco, em parceria com a Abinfer (Associação Brasileira da Indústria de Ferramentais). A proposta é produzir 6,5 mil máscaras que protegem o profissional de gotículas e impedem que ele leve a mão ao rosto. As primeiras serão doadas a hospitais públicos da região.

A falta de materiais como o acetato ou PET-G – barreira plástica transparente que fica na frente do usuário-, impede uma produção maior. “A Abinfer tem 17 moldes pelo país, cada um deles é capaz de fazer 6,5 mil por dia, mas como a falta do material, eles precisavam de máquinas menores, como a nossa. Esse projeto surgiu no contato que tive com ex-aluno que é da Abinfer”, detalha Magnabosco.
O material para a produção deste tipo de EPI (Equipamento de Proteção Individual) está escasso, uma vez que a cadeia produtiva, no mundo inteiro, solicita pedidos. A estratégia da FEI e a Abinfer é de atuar com produção em escala menor, o que não seria possível pelo grande fabricante, que vai garantir o fornecimento. “Recebemos, por exemplo um pedido do Hospital Santa Marcelina. Como o Covid-19 afeta os pulmões a tomografia é um exame importante, mas os técnicos estão sem EPIs para fazer os exames”, disse o professor da FEI.
O trabalho é realizado por professores, no caso de Magnabosco que usa a sua própria impressora 3D para a produção dos suportes. “Só aqui em casa já produzi 30 suportes”, relata. Depois desse processo, uma máquina de corte prepara o material plástico transparente e as máscaras são montadas. “Só estamos esperando chegarem os elásticos usados para fixar a máscara na cabeça do profissional, para fazer as primeiras entregas”, explica o professor. Além dele, trabalham nesse projeto oito alunos que produzem em casa e outros cinco que operam as máquinas na FEI. “Também tem o pessoal que trabalha para identificar para onde vão as doações. Esse trabalho de formiguinha mostra que todo mundo pode contribuir de alguma forma”, conclui Magnabosco.
Respiradores
Respiradores e máscaras cirúrgicas são outros itens que estão em produção através de parceria entre o meio acadêmico e a indústria. Iniciativas como a do IMT (Instituto de Tecnologia Mauá), campus de São Caetano, já foram colocadas em prática e vão ajudar no aparelhamento da saúde no pico da doença que deve ser atingido neste mês de abril segundo as autoridades de saúde.
A Mauá desenvolveu um ventilador mecânico que usa um limpador de para-brisa e uma fonte de computador que pressionam um Ambu (Ambu (Artificial Manual Breathing Unit- ou unidade manual de respiração artificial, pela sua sigla em inglês). A fabricante de veículos Mercedes-Benz vai usar sua linha de produção para fabricar o equipamento.
Segundo o engenheiro e responsável pelo FabLab Mauá, Rodrigo Mangoni Nicola, cinco estagiários, dois técnicos, um em química e outro em designer -, além dele e um engenheiro de automação construíram o protótipo que tem baixo custo, cerca de R$ 300 e pode ficar ainda mais barato na produção em grande escala. “Gastamos mais em acrílico do que nas outras partes. O mecanismo é simples, usa o motor de um limpador de para-brisa, por isso as fabricantes de autopeças e as montadoras estão familiarizadas”, diz Nicola. Uma das montadoras de veículos da região, cujo nome não foi divulgado, está pronta para começar a produção e aguarda apenas a autorização do Ministério da Saúde.
O protótipo da Mauá foi testado no laboratório da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul). De acordo com Nicola, médicos do Hospital Estadual Mário Covas também atuaram no desenvolvimento do projeto. Se aprovado para começar a produção, o equipamento vai ser importante retaguarda aos hospitais. “Ele não substitui o respirador tradicional, mas garante a vida do paciente, até a disponibilidade do respirador. É como se um enfermeiro ficasse o tempo todo operando o Ambu em um ritmo adequado”, diz Nicola. O professor da Mauá está otimista. “Sinto que as coisas começam a se organizar e, como o nosso, acredito que diversos outros projetos devem ser aprovados em uma batelada só”, afirma.
Máscaras
O Instituto Mauá também desenvolveu um sistema para produzir máscaras. De acordo com o engenheiro José Roberto Augusto de Campos, diretor do Centro de Pesquisas do IMT, a instituição consegue produzir aproximadamente 50 máscaras por dia, extremamente importantes e necessárias para os profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus.
“Inspirado num projeto americano, nossos alunos, ex-alunos e colaboradores trabalham, ininterruptamente, na produção das máscaras, que são de baixo custo, porque não há intermediários, ou seja, a matéria-prima é nossa. Utilizamos máquinas de corte a laser e, na parte da frente, polímero de alta qualidade, muito eficaz para evitar a propagação e contágio de doenças transmissíveis pela saliva e fluidos”, descreve. As máscaras serão enviadas, gratuitamente, às prefeituras de São Caetano, São Bernardo e Santo André, que farão a distribuição aos hospitais mais necessitados da região, além do Hospital das Clínicas.
Com a falta de máscaras cirúrgicas o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) está produzindo uma grande quantidade estes itens de proteção usando as escola de vestuário no Brás, e depois trazidas para a unidade de São Bernardo onde são esterilizadas em autoclaves. A proposta é produzir 600 mil máscaras em três meses.
Senai
São máscaras cirúrgicas de três camadas, sendo duas de TNT (Tecido não Tecido) e uma central que conta com um filtro bacteriológico. “Tudo começou com a necessidade das máscaras no mercado, o primeiro passo foi a escola do vestuário criar um modelo, que contou com o auxílio dos profissionais de saúde do Hospital do Rim. Com a aprovação criou-se uma ficha técnica e a máscara segue todos os padrões da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)”, explica o professor e coordenador regional do Senai, Ricardo Terra.
Além desta iniciativa o Senai de São Bernardo está treinando trabalhadores das montadoras para atuarem na manutenção de respiradores. “Mobilizamos toda a rede. Temos no Senai unidades respiratórias de modelos nacionais e importados e com eles fazemos os treinamentos”, explicou Terra. Das montadoras que já aderiram ao projeto, a maioria tem unidade fabril no ABC, são elas: General Motors, Toyota, Honda e Scânia.