
Por causa das medidas de distanciamento social, as clínicas veterinárias da região têm alterado os métodos de atendimento e aderido a práticas que preservam a saúde dos animais e seus donos. Consulta domiciliar, táxi dog e esclarecimentos via telefone são algumas das alternativas para atendimentos mais seguros. Na receita, os profissionais chegaram a ter prejuízo de até 60%.
A médica veterinária Larissa Ferreira, de 24 anos, que realiza atendimentos em Santo André, sentiu os efeitos da crise na profissão. Apesar de ter sido dispensada da clínica em que trabalhava, deu continuidade aos atendimentos em formato domiciliar, o que fez com que a renda crescesse cerca de 20%. “É relativo, já cheguei a atender em média três animais por dia, e as vezes nenhum”, diz ao completar: “O mais difícil pra é a falta de um valor fixo por mês”.
A especialista explica ainda que os tutores que passaram a solicitar mais as consultas domiciliares foram os que fazem parte do grupo de risco, por precisarem evitar as saídas de casa. “Por outro lado, há pessoas que, por conta de dificuldades financeiras, deixaram de realizar vacinas ou consultas que não sejam emergenciais”, completa. Como forma de driblar a crise, a veterinária conta que também passou a fazer atendimentos periódicos em pet shops. “Eles divulgam os serviços e dividimos o lucro”, declara.
Atendimento
Os cuidados com os atendimentos foram reforçados, segundo a veterinária, que afirma que o uso de máscaras e álcool em gel são indispensáveis. “Sempre que possível oriento que, durante a consulta, o ideal é somente um acompanhante por animal”, explica. A especialista também recomenda evitar as consultas se não houver necessidade.
Em casos de emergência, o bicho deve ser levado imediatamente ao hospital veterinário ou clínica mais próxima. Já em relação as vacinas, o ideal é não atrasar a dose. “Para vacinação e consulta não emergenciais, opte por serviços a domicílio, pois evitam a exposição dos donos e do animal. Independente da escolha, sempre siga as orientações de higiene e de distanciamento social”, recomenda.
O médico veterinário de Ribeirão Pires, Felipe Murta, 34, percebeu queda de 40% nos atendimentos na clínica particular em que trabalha após início da pandemia. Além da diferença nos lucros, o profissional relata sobre o desafio da redução de funcionários nos laboratórios e falta de insumos. “Ficamos restritos para alguns procedimentos clínicos. No início da pandemia fizemos estoque de produtos, por isso nenhum paciente ficou sem tratamento, mas alguns precisaram aguardar dias até a chegada das medicações e seringas”, diz.
Murta explica que a situação ocorreu devido ao aumento da demanda e prioridade da fabricação de produtos para a saúde humana, mas também pela diminuição do número de funcionários nas empresas fornecedoras, portanto, o tempo de entrega passou a dobrar.
Cuidados básicos
Em relação a mudança nos cuidados diários durante as consultas, o profissional afirma que a rotina da clínica passou por modificações, como atendimentos com hora marcada e apenas um acompanhante por animal. “O uso de máscara se tornou obrigatório para todos os funcionários, além da lavagem das mãos com frequência, utilização do álcool em gel e esterilização do consultório e clínica inteira a cada atendimento”, diz.
Para os cuidados por parte do tutor, a recomendação do médico veterinário é não postergar tratamentos em andamento para não colocar em risco a saúde de animais com quadros crônicos ou emergenciais. “Não há motivo para não levar o animal ao veterinário, pois todas as medidas de segurança são tomadas, assim como as regras estabelecidas pelas autoridades de saúde”, afirma.
Em casos emergenciais, o animal deve ser levado o mais rápido possível pelo dono ao hospital, que deverá estar devidamente protegido com máscara. “Além disso, evitar passeios na rua, oferecer boa alimentação, manter a vacinação em dia, e fazer uso de suplementos vitamínicos melhoram a saúde do pet e evitam doenças”, finaliza.
Bianca Bennati, veterinária na clínica SPet, parceira da Cobasi de São Bernardo, diz que o movimento da clínica onde trabalha caiu de 50% a 60%, já a domicílio não houve diferença. Por outro lado, nos primeiros dias de pandemia, notou aumento na procura por vacina V4 para gatos, V10 e de gripe para cachorros. “No momento eu tenho percebido maior procura por castração, pois os proprietários aproveitam o tempo em casa para castrar os animais”, completa.
Alguns protocolos de segurança também foram alterados, como atender apenas tutores do grupo de risco durante a semana, por exemplo, além de realizar consultas apenas com hora marcada. Aos finais de semana o horário foi reduzido. “Desde o começo da pandemia atendemos com mascara, luva, óculos/visor e avental”, diz.
Para evitar contato físico, Bianca Bennati conta que os proprietários passaram a aguardar o atendimento dentro de seus carros, no estacionamento da clínica. “Anotamos o nome do animal e do tutor, modelo do carro e eu vou até o estacionamento buscar”, explica. Outra medida foi limitar o número de atendimentos para apenas três por dia, com intervalos de 1h30. Após cada consulta, o ambiente é higienizado.
A veterinária também passou a dar instruções para seus clientes através do WhatsApp. “Tiro dúvidas pelo whats e filtro a necessidade de passar em consulta ou de vacinação. Isso ajuda a evitar a exposição do proprietário”. No consultório, a orientação é não sentar durante o atendimento, para evitar contato com as superfícies, e manter portas abertas para circulação do ar.
Em Rio Grande da Serra, o médico veterinário Jefferson Vilela de Oliveira notou queda de 30% nos atendimentos clínicos, mas no setor de banho e tosa houve aumento de 20%, e 5% a mais na farmácia. No local, passaram a oferecer serviço de taxi dog, e para os clientes que por algum motivo não podem ir à consulta, os profissionais atendem o tutor pelo telefone, mas com a presença do pet. “Por mais que ofereça serviço domiciliar, na maioria das consultas o pet tem que vir a clínica pra internação, exames etc”, explica.
Rede pública
Na Unidade de Pronto Atendimento Animal (UPAA) de Mauá, os atendimentos continuam em ritmo acelerado, mas agora com cuidados especiais. Seguindo as recomendações das autoridades de saúde, a unidade segue as normas de distanciamento social, uso de máscaras, álcool em gel e mantem a organização das filas, para evitar aglomerações.
Em Santo André, apesar da pandemia, os atendimentos veterinários da Gerência de Controle de Zoonose (GCZ) aos animais tutelados não foram interrompidos. O local, que também atende pessoas que buscam vacinação antirrábica dos animais e cadastro para o programa de castração, notou redução no movimento se comparado aos tempos pré-pandemia e de isolamento social.
Para os atendimentos, foram adotados procedimentos de distanciamento para que não se formem filas, além de uso de máscaras faciais, higiene das mãos e acesso de apenas uma pessoa por animal. Quanto aos cuidados, os procedimentos de higiene e limpeza seguem os mesmos de costume. Os profissionais desempenham seus trabalhos tomando as medidas preventivas e de proteção necessárias. (Colaboraram Ingrid Santos e Nathalie Oliveira)