
Um exemplo de que não é apenas o lucro que mantem o negócio, aconteceu no início do mês de maio em São Caetano, quando uma família perdeu um ente querido repentinamente por conta da covid-19. Sem condições financeiras de arcar com todos os custos do sepultamento, os familiares acabaram encontrando uma funerária que cedeu a urna, sem custos.
No último dia 8 de maio Carlos Aurélio Torres Salazar, de 69 anos, faleceu por conta do novo coronavírus. Naquele momento a família, que já sofria com a perda, foi informada por agentes da funerária que estava de plantão de que a urna mais barata custaria R$ 1,7 mil. A família argumentou que não tinha esse dinheiro e perguntou sobre um atendimento social, se poderiam doar o caixão. “Meu pai faleceu na sexta-feira, dia 8, os caras da funerária se recusaram a dar o caixão e a moça da outra funerária, que não estava de plantão naquele dia, não pensou duas vezes e doou”, comentou, Yasmin Guerra Bispo Martins, filha do seu Carlos Aurélio.
Yasmin se referiu a Lourdes Maria, dona da Funerária Santa Luzia, que está há seis anos no mercado, e que disse já ter feito isso outras vezes por compreender a situação difícil das famílias. “Existe essa prática, apesar de que a prefeitura não nos reembolsa. Quando estamos no plantão a gente faz, como fiz nesse caso sem custos, apesar de não sermos obrigados. Eu sei que depois Deus vai me recompensar e vou ter outros trabalhos, como de fato aconteceu”, comentou a empresária que atua sozinha no negócio, desde que perdeu o marido há cerca de um ano.
A primeira funerária que atendeu a família, chegou a sugerir a Yasmin para que procurasse vereadores que costumam ajudar. “Eu, em desespero, pedi ajuda a dois vereadores, mas a assistente social do hospital conversou com outra funerária, a Santa Luzia, que de bom coração nos doou o caixão. Sem contar que não era o turno dessa funerária, mas mesmo assim nos atendeu”, contou.
Em nota, a prefeitura de São Caetano confirma que não é uma obrigação a doação de urnas pelas funerárias, mas isso é comum acontecer quando a família não tem como arcar com os custos. “São Caetano conta com 15 funerárias, que se revezam em plantões semanais nos vários hospitais da cidade. Esse plantão visa a oferecer o primeiro atendimento à família, quando ocorre um óbito. No entanto, a família não é obrigada a adquirir a urna funerária com a empresa de plantão. Ela pode fazer uma pesquisa em outras empresas; muitas famílias já contam, inclusive, com convênios funerários. Não existe uma tabela a ser seguida pelas funerárias, os preços variam bastante conforme a empresa e, sobretudo, o tipo de serviço adquirido (qualidade do caixão, aquisição de flores, etc). Um serviço funerário de qualidade mediana custa por volta de R$ 3.000”, informa.
Ainda de acordo com a administração municipal, quando a família não tem condições de arcar com os custos, o próprio serviço social do hospital pode conversar com a empresa de plantão e consultá-la sobre a possibilidade de uma doação do serviço de sepultamento (o que inclui urna funerária, flores e translado do corpo). É comum que as empresas façam essas doações eventuais, por iniciativa própria, oferecendo os modelos mais simples de urnas funerárias”, explicou.
O número de sepultamentos na cidade flutua entre 80 e 90 por mês, média que não sofreu alteração devido à pandemia, segundo informou a prefeitura. O RD não conseguiu contato com a funerária Grechi, responsável pelo primeiro atendimento à família.