
As primeiras unidades do Nivus para comercialização começam a ser produzidas hoje na fábrica da Volkswagen em São Bernardo, que retomou operações na semana passada, após mais de dois meses de portas fechadas por causa da crise do coronavírus. O utilitário-esportivo foi desenvolvido no Brasil totalmente de forma digital, o que reduziu o tempo de criação em dez meses. Normalmente o projeto de um novo carro leva de dois anos e meio a três anos.
Grande aposta da marca e único lançamento feito pela Volkswagen em todo o mundo durante a pandemia, o modelo é uma mistura de SUV, crossover, cupê, sedã e esportivo, conforme define o presidente da empresa na América do Sul, Pablo Di Si. Segundo ele, no projeto de criação não foi feito nenhum carro físico – os chamados clays, modelos em tamanho natural feitos de argila. “Foi tudo digital, inclusive o desenvolvimento das peças”.
Em projetos anteriores eram feitos de oito a dez clays. A dispensa dessa etapa e todo o trabalho digital representou significativa redução de custos. “É uma revolução histórica”, afirma Di Si. A apresentação do modelo feita de forma virtual em live no fim de maio teve 130 mil acessos de concessionários, fornecedores, jornalistas e consumidores do Brasil e de outros 56 países.
A produção do Nivus, assim como do Polo e do Virtus, também feitos no ABC, ocorrerá em um turno. Dependendo da demanda a empresa poderá retomar o segundo turno. Do contrário, terá de renegociar medidas de flexibilização com o Sindicato dos Metalúrgicos. No fim do mês 1,2 mil operários que estão em lay-off retornam à fábrica.
Produção na Europa
O SUV Nivus também é o primeiro carro desenvolvido no Brasil que será produzido na Espanha, em 2021, de onde será distribuído para vários países europeus.
Além do projeto do carro, a Volkswagen brasileira vai exportar o software da central de multimídia, outro produto de criação local que poderá ser configurado de acordo com as demandas locais. Hoje, há 60 técnicos da Espanha em visita à fábrica do ABC para conhecer o projeto.
Chamado de VW Play, o sistema é de multimídia é considerado por analistas o mais avançado do mercado. Tem tela de 10 polegadas e permite fazer download de aplicativos diretamente do aparelho, usa a internet do celular do usuário como base e tem apps como Waze e iFood. A central vai equipar todos os novos carros da marca no País.
O modelo cria uma nova categoria no segmento de SUVs, o de utilitário cupê compacto e, por isso, não tem concorrentes diretos. A concorrência será, então, por faixa de preço. O Nivus deve custar entre R$ 80 mil e R$ 100 mil. A empresa ainda não divulgou preços oficiais. A pré-venda digital começará na última semana do mês com promoções. A chegada às lojas será em julho.
Segmento em expansão
O segmento de utilitários-esportivos (SUVs) é o que tem mais modelos à venda no Brasil – são pelo menos 40 – e outros dez eram esperados para este ano, mas, com a crise da covid-19 metade deles ficou para 2021.
No ano passado foram vendidos 600,1 mil SUVs no mercado brasileiro, número que equivale a 22% de todos os automóveis e comerciais leves comercializados no País. A categoria só fica atrás da de modelos hatch que, nas 24 versões de entrada, pequenas e médias somaram vendas de 1,027 milhão de unidades, ou 38% de todo o mercado.
Estudos da consultoria Bright indicam que a participação dos SUVs deve chegar a 30% em 2023, enquanto a dos hatch deve cair para 34%. “Vai crescer em função do novo consumidor de alta renda que valoriza estilo, segurança, multiúso, conectividade e performance”, diz Paulo Cardamone, presidente da Bright.
A escalada dos utilitários ocorre em todo o mundo e vem conquistando os brasileiros. Neste ano de queda drástica em razão da pandemia do coronavírus as vendas de SUV somaram, até maio, 148,3 mil unidades, queda de 32,7% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
O segmento de hatchs teve 243,9 mil modelos vendidos, 40% menos que em 2019.
Dos dez SUVs previstos para este ano, já foram lançados os Chevrolet Tracker e o Volkswagen Nivus, ambos produzidos no Brasil. Devem chegar até dezembro o Caoa/Chery Tiggo 8, que será produzido em Anápolis (GO) e os importados Ford Territory (China), e Volkswagen Tarek (Argentina).
Outras cinco novidades previstas devem ficar para 2021: Escape e Adventure, da Ford, Citroën C5 Aircross, o SUV da Fiat derivado do Argo e outro modelo da Jeep.
Mesmo com expectativas em relação ao Nivus, Pablo Di Si, presidente da Volkswagen, acredita que, em razão da crise e do desemprego, num primeiro momento muitos consumidores vão migrar para os modelos de entrada (mais baratos) e picapes de pequeno porte para serviços de entrega.