
Motoboys e entregadores de todo País, vinculados à empresas de aplicativo e restaurantes, iniciaram nesta quarta-feira (1/7) paralisação dos serviços nas principais cidades. A reivindicação, que pede taxa fixa mínima de entrega e aumento de valores repassados aos entregadores, no entanto, não foi aderida por todos os entregadores, que seguiram com o serviço de entrega em algumas cidades do ABC.
Exemplo é Jefferson Silva, de 35 anos, que atua como entregador para restaurantes em Rio Grande da Serra. Apesar de querer melhores condições para sua função, Silva conta que em meio a pandemia, é quase impossível paralisar as entregas. “Sou a favor da greve por querer, assim como meus colegas de profissão, um salário maior, seguro de vida e melhores condições para fazer as entregas, mas não dá pra parar, as contas chegam e batem à porta”, conta.
O motoboy relata que ao longo da semana, é possível arrecadar até R$ 700 com o serviço, porém com manutenções periódicas em sua moto, o rendimento acaba sendo menor, o que interfere na renda mensal. “Trabalho em média 9h a 12h por dia, há seis anos de forma esporádica. Esse valor não é nem um salário mínimo, os motoboys precisam ganhar pelo menos o básico para conseguir sobreviver”, reclama.
Em Ribeirão Pires, o motoboy André Araújo, de 33 anos, atua há cinco anos no ramo. Segundo ele, a profissão foi a alternativa encontrada para sobreviver em meio à recessão econômica. “Foi o que encontrei em meio ao desemprego. No final de semana minha jornada chega a passar de 12h e quando tem muito movimento, consigo tirar R$ 2 mil ao mês, mediante a muito esforço”, conta.
Apesar de trabalhar em seis aplicativos de entrega diferente, Araújo conta que não aderiu a greve, pois não conseguiria suspender as entregas. “Acho muito importante, mas infelizmente não pude aderir, não dá para parar de trabalhar, ainda mais na situação em que o País está. Além da moto, também trabalho com carro, e são as mesmas condições ruins”, completa.
A pauta de reivindicações engloba desde a definição de uma taxa fixa mínima de entrega por quilômetro rodado até o aumento de valores repassados por entrega realizada. A categoria também cobra das empresas uma ajuda de custo para a aquisição de equipamentos de proteção contra a covid-19, como máscaras e luvas. Já as empresas, afirmam fornecem os equipamentos.
Na manifestação, os motoboys tiveram adesão de pelo menos 50% do efetivo à disposição de aplicativos como iFood, Rappi, Loggi e Uber Eats. Em São Paulo, a reunião aconteceu no entorno de restaurantes Mc Donalds e em frente de shoppings centers, enquanto no ABC houve aglomeração em frente ao ParkShopping São Caetano.
Empresas respondem
Em nota, o iFood informa que apoia a liberdade de expressão e que nenhum entregador será desativado por participar de movimentos. A empresa frisa ainda que não possui sistema de ranking e nem de pontuação. O algoritmo de alocação de pedidos leva em consideração fatores como por exemplo, a disponibilidade e localização do entregador e distância entre restaurante e consumidor.
Esclarece também que o valor médio das rotas é de R$ 8,46. O cálculo utiliza fatores como distância, taxa pela coleta do pedido e entrega, além de variações referentes a cidade, dia da semana e veículo utilizado. “Todos os entregadores ficam sabendo do valor da rota antes de aceitar ou declinar a entrega. Todas as rotas tem um valor mínimo de R$5 por pedido, mesmo que seja para curta distância”, informa.
Quanto a seguros, a empresa informa que oferece a todos os entregadores o Seguro de Acidente Pessoal. Com ele, estão cobertas despesas médicas e odontológicas, bem como indenização em caso de invalidez ou óbito decorrente do acidente. O benefício é válido durante o período no qual eles estão logados na plataforma e no “retorno para casa” – válido por uma hora e até 30 km do local da última entrega realizada de moto, ou por duas horas e até 30 Km do local da última entrega para quem realiza entregas com bicicletas, patinetes ou a pé.
Sobre medidas de enfrentamento do Covid-19, desde o início da pandemia, em março, foram implementadas medidas protetivas que incluem fundos de auxílio financeiro para quem apresentar sintomas e/ou para aqueles que fazem parte dos grupos de risco. Também foi disponibilizado gratuitamente até o final do ano um plano de benefícios em serviço de saúde e distribuição de EPIs (álcool em gel e máscaras reutilizáveis) em kits com duração de pelo menos um mês.
Empresas associadas à Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (AMOBITEC), que atuam no setor de delivery, caso da Uber Eats, implementaram ações de apoio aos entregadores, como distribuição gratuita ou reembolso pela compra de materiais de higiene e limpeza, máscara, álcool em gel e desinfetante, além da criação de fundos para pagamento de auxílio financeiro para parceiros diagnosticados com covid-19 e/ou em grupos de risco. Além disso, os entregadores cadastrados estão cobertos por seguro contra acidentes pessoais durante as entregas.
“As plataformas de delivery operam sistemas dinâmicos e flexíveis, que buscam equilibrar as necessidades de entregadores, de restaurantes e de usuários. As ações de combate à crise foram desenvolvidas mesmo em um cenário de acirramento da competição entre empresas e aumento expressivo no número de entregadores. Diante de um cenário econômico crítico como o da pandemia da Covid-19, a flexibilidade dos aplicativos foi essencial para que centenas de milhares de pessoas, entre entregadores, restaurantes, comerciantes e micro empresas, tivessem uma alternativa para gerar renda e apoiar o sustento de suas famílias”, diz a empresa em nota. (Colaborou Nathalie Oliveira)