
Uma nova modalidade de crime está assustando moradores e os gestores de condomínios no ABC, o arrastão perpetrado por bandidos que conseguem entrar se aproveitando de brechas na segurança. No sábado (11) um grupo criminoso conseguiu acesso a um condomínio de luxo no Centro de Santo André fazendo-se passar por inquilinos. Alguns apartamentos foram invadidos e levados dinheiro, joias, celulares e o carro de um dos moradores.
O síndico do prédio, contou que três suspeitos entraram no local em um SUV Hyundai IX 35, apresentando um contrato de locação de um dos apartamentos. O próprio síndico, um senhor de 66 anos, acompanhou o trio até o apartamento, chegando lá os homens sacaram armas e o renderam. Segundo nota da Secretaria de Segurança Pública, os criminosos exigiram que o homem os levassem a outros imóveis, onde foram cometidos os crimes. O grupo fugiu do local levando uma quantia em dinheiro, joias, celulares e um veículo Hyundai Creta. O caso foi registrado como roubo e furto em residência no 1° Distrito Policial de Santo André (Centro) pelo delegado Roberto Von Haydin Júnior, que solicitou perícia no local. O delegado não quis dar entrevista.
A secretaria não informou quantos apartamentos foram invadidos nem se outras pessoas foram mantidas reféns durante a ação, mas informou que quatro boletins de ocorrência estão relacionados ao caso. Essa não foi a primeira ocorrência em que a locação é usada por bandidos para acessar o interior dos condomínios. Em junho um grupo de assaltantes alugou um apartamento em um edifício no Jardim Santo Antônio, em São Caetano. Os criminosos chamaram o síndico para resolver um problema no imóvel quando este foi rendido e obrigado a levar os bandidos a apartamento de comerciantes. Em setembro um grupo fez um arrastão no condomínio onde mora o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB). Eram quatro homens que alugaram o apartamento com documentos falsos e tiveram dias para observar a rotina do prédio. Sete pessoas de cinco apartamentos foram rendidas e os bandidos fugiram também levando joias, dinheiro e eletrônicos.
Para o diretor jurídico da Acigabc (Associação das Construtoras e Imobiliárias do Grande ABC), Luis Ribeiro Costa Júnior a orientação é que os contratos, feitos por imobiliárias ou não, sejam comunicados à administradora do condomínio. “Ela vai analisar a documentação, vai entregar uma cópia do regulamento do prédio e fornecer uma carta de autorização com a data da mudança. É importante que não seja autorizada a mudança sem a análise do contrato e uma conversa com o proprietário. Se todos fizerem suas partes, dificilmente haverá problema”, analisa.
Costa Júnior considera que quanto maiores os procedimentos maior também a probabilidade do bandido desistir do ataque. “Os criminosos procuram a facilidade, se virem que é muito complicado partem para outro que for mais fácil. Primeiro eles estudam o condomínio para ver se é fácil entrar”, analisa. Uma das coisas analisadas é o sistema de segurança e de monitoramento. No caso do condomínio atacado no sábado (11) em Santo André, informações preliminares dão conta de que os aparelhos que armazenam as imagens das câmeras foram levados pelo bando. “Ás vezes em condomínios se faz uma economia boba. Se tivesse um equipamento que gravasse na nuvem ou em central de monitoramento e que no rateio custaria alguns reais a mais, estavam garantidas as imagens. A febre dos bandidos agora é a locação. E há locadoras virtuais que não checam a documentação, isso é uma grande dor de cabeça”, conclui.
Para o diretor jurídico da Abrascond (Associação Brasileira dos Síndicos de Condomínios), Disan Pinheiro Júnior, a locação de um imóvel deve ser previamente comunicada ao síndico que poderá até solicitar documentos complementares antes de autorizar a mudança. “Infelizmente esse tipo de ação criminosa tem se tornado corriqueira. Os bandidos estão audaciosos e alugam apartamentos para conhecer a rotina e agir de forma mais eficiente. Sempre que houver locações indicamos ao síndico solicitar o contrato de locação. Muitos condomínios têm isso na convenção, até para ciência. O síndico pode solicitar certidões negativas, isso não está na lei, mas é possível fazer”, comenta.
Apesar do cuidado Pinheiro Júnior diz que não há garantias, pois as quadrilhas são bem organizadas, tanto para invadir como se fossem inquilinos como se disfarçarem de prestadores de serviço. “É importante fazer um cadastro com foto de todos que entram, pedir documentos, mas se falsificam até RG e CPF que dirá um crachá. Por isso o treinamento dos porteiros é muito importante, eles devem observar o comportamento dos novos moradores”.
O advogado da Acigabc também concorda com essa observação. “O porteiro é a primeira fiscalização de segurança do condomínio, ele deve estar preparado”, conclui Costa Júnior.