
Um grupo de pessoas supostamente ligadas ao candidato a prefeito de Ribeirão Pires, Adler Teixeira, o Kiko (PSDB), atacou o veículo que fazia entrega do jornal Diário de Ribeirão Pires e subtraiu aproximadamente mil exemplares nesta sexta-feira (13/11). O semanário traz como manchete decisão da Justiça Eleitoral sobre o tucano cuja candidatura figura como “indeferida, com recurso” na Justiça Eleitoral. Um boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia de Ribeirão Pires que vai apurar o caso.
O choque entre manifestantes pró-Kiko e os funcionários do Diário de Ribeirão Pires teria ocorrido por volta das 15hs em Ouro Fino, local onde o jornal seria entregue em um ponto de distribuição e onde também ocorria uma atividade de campanha do candidato tucano. De acordo com o boletim de ocorrência 2485/2020, Lucas Eduardo Ribeiro do Santos, de 18 anos, e Patrick Alan Barreto Soares Barbosa, de 23, fariam a entrega de jornais, quando se depararam com um grupo de pessoas que seriam apoiadores de Kiko, momento em que começou a confusão e agressões verbais e físicas.
As vítimas narraram ao delegado André Diogo Rodrigues, o que aconteceu e a polícia registrou o boletim de ocorrência sob o título de “Exercício Arbitrário das Próprias Razões”, artigo 345 do Código Penal. Esse artigo prevê pena de prisão. “Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência”, descreve o código penal brasileiro.
De acordo com o histórico do boletim houve até princípio de linchamento. “Aduzem (as vítimas) que os apoiadores do referido candidato, ao perceberem que as vítimas estavam entregando jornais que continham matérias que depõem contra o candidato Kiko Teixeira, sem justo motivo, passaram a ofender a credibilidade do jornal e a insuflar a população contra as vítimas. Ao perceberem que estavam correndo risco, resolveram deixar o local e se encaminharam para o local onde estava o veículo. Foram encurralados por aproximadamente oito indivíduos que passaram a dar tapas, chutes e empurrões nas vítimas. Após, os indivíduos abriram o carro das vítimas e retiraram aproximadamente mil exemplares do jornal”.
O delegado determinou que as vítimas fossem submetidas a exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal. Os rapazes que trabalham para o Diário de Ribeirão Pires disseram que desejam processar os autores das agressões.
Rafael Ventura, que dirige o Diário de Ribeirão Pires, acompanhou os funcionários à delegacia para o registro da ocorrência e disse que esse não foi o único episódio. “O dia já começou com ofensas de militantes em frente a nossa redação. Tudo porque fizemos uma matéria de capa falando do indeferimento da candidatura do Kiko, mas fizemos tudo da forma mais ética, procuramos ouvir o lado dele, que não quis se manifestar”, descreve.
Procurada pelo RD, a assessoria de imprensa da candidatura de Kiko, informou não ter conhecimento do ocorrido e que não aprova com esse tipo de atitude. “A campanha de Kiko Teixeira e o candidato não têm qualquer conhecimento disso. Não há nenhuma orientação para comportamentos nesse sentido, muito pelo contrário, condena qualquer ação antidemocrática. Por isso, não tem nada a comentar”, informou em nota.
A ANJ (Associação Nacional de Jornais) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, foram informados do ocorrido. Os ataques a jornais e jornalistas aumentaram significativamente nos últimos anos. Em 2019, foram registrados 208 ataques a veículos de comunicação e a jornalistas, um aumento de 54,07% em relação ao ano anterior, quando foram registradas 135 ocorrências, de acordo com o relatório Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Um desses ataques aconteceu em novembro, quando jornalista do RD foi confundido com militante bolsonarista durante discurso do presidente Lula, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, logo após a soltura do ex-presidente que estava preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba (PR). Vítima de palavras ofensivas e agarrado pelo braço por militantes que tentaram arrastá-lo para fora do sindicato, o jornalista só não sofreu mais agressões porque diretores da entidade sindical e membro do Sindicato dos Jornalistas interviram.