
Nesta quarta-feira (27/01) a morte de Flaviana e Homuyuki Gonçalves e o filho do casal Juan Victor completa um ano. O crime chocou o país ainda não tem data marcada para julgamento. Segundo as investigações a outra filha do casal, Anaflavia Gonçalves e sua companheira Carina Ramos, articularam o plano para roubar dinheiro que supostamente estaria no cofre da casa e para isso contaram com a ajuda dos primos de Carina, Jonathan e Juliano Ramos e do amigo dos três, Guilherme Silva. Os cinco estão presos.
O crime teve início no dia 27, na casa da família em um condomínio fechado em Santo André, quando os três homens entraram na casa escondidos no carro de Anaflavia. Homuyuki e o filho foram torturados para informarem a senha do cofre, como não disseram ficaram amarrados até a chegada de Flaviana, que também foi rendida. Com o cofre aberto e como não encontraram dinheiro o grupo teria resolvido matar a família. Segundo a denúncia do Ministério Público Anaflavia não se opôs a ordem e participou das mortes. As três vítimas foram submetidas a asfixia e mortos com golpes na cabeça. Depois os corpos foram colocados no Jeep Compass de Flaviana e levados até a Estrada do Montanhão, já em São Bernardo, onde o veículo foi incendiado com os corpos em seu interior e encontrado na madrugada do dia 28 de janeiro de 2020.
Segundo a denúncia do MP o crime foi planejado com antecedência. A polícia apurou que Carina chegou a fazer uma cotação para a troca do carpete do piso superior da casa da família dando entendimento de que o casal pretendia ficar com a casa. Os cinco acusados teriam feito até reuniões para combinarem o crime. Eles pretendiam ficar com R$ 85 mil que estariam no cofre da casa. As mortes também faziam parte do plano, segundo a denúncia.

Júri
Se o crime e a investigação ocuparam grande espaço na imprensa nacional, igualmente o julgamento deverá ser muito disputado para jornalistas, e terá também vários dias de sessões. Só o Ministério Público arrolou 17 testemunhas. A defesa dos réus terá que se gladiar não apenas com a promotoria de justiça como também com a defesa dos outros, já que são cinco réus, e três linhas distintas de defesa.
Não está nem definido ainda se os cinco presos irão a júri popular. Isso porque a defesa de Anaflavia e Carina acredita que há possibilidade do juiz Lucas Tambor Bueno, da Vara Criminal de Santo André, desclassificar a denúncia do MP e classificar o crime como latrocínio, roubo seguido de morte, dessa forma os réus serão julgados por um juiz e não pelos jurados. “Se analisar as provas periciais e a reconstituição fica claro que a Anaflavia jamais quis a morte, foi contra a vontade delas. Tanto é que nas audiências elas responderam tudo que foi perguntado e os rapazes ficaram em silêncio”, disse o advogado Sebastião Siqueira Santos Filho, que defende as duas e que acredita que se for esse o caso as duas podem até serem absolvidas das mortes e responderem apenas pelo roubo.
A advogada Alessandra Jirardi, que representa os acusados Jonathan e Juliano Ramos, disse que está preparada para o embate com a promotoria e com os advogados que defendem os demais réus. “Vão todos apontar para os meninos. Eles são ladrões, admitem, mas não são assassinos. Estou acostumada a casos grandes, mas este tem uma particularidade que são três defesas diferentes e conflitantes o que torna o trabalho muito árduo, muito difícil”, analisa.
A estratégia da defesa dos irmãos é apontar para Carina. A avó dos três é uma das testemunhas e, em júri popular, a intenção do seu depoimento é mostrar o perfil de Carina. “Eu vou explorar isso, ela era problemática desde criança. Vou mostrar que os rapazes foram ludibriados e usados como arma do crime”, adiantou a defensora que já espera pelo júri popular e acredita que ele seja marcado este ano. Segundo Alessandra Jirardi, nas audiências de instrução, Anaflavia chorou muito e Carina não demonstrou qualquer sentimento.
A defesa de Guilherme Silva também deve apontar Juliano e Jonathan como os autores das mortes.
Família lamenta demora e realiza ato nesta quinta-feira
O advogado Epaminondas Gomes, que auxilia a família e atua no processo como assistente de acusação, disse que a demora, do processo que completa um ano sem uma data para o júri, é natural. Para ele há muitos fatores que dificultam, como o número de vítimas e réus. A família, por conta de que ainda não há um desfecho na esfera criminal, ainda tem os bens da família bloqueados. Nesta quinta-feira (28/01) os familiares realizam um ato religioso no cemitério Carminha, em São Bernardo, onde Homuyuki, Flaviana e Juan Victor estão enterrados.
O processo do triplo homicídio tem cerca de 3 mil páginas. “Um processo dessa dimensão é diferenciado pelo número de réus, de vítimas, de testemunhas. Veja que só o Ministério Público arrolou 17 testemunhas. Esse processo não é simples nem rápido para que o judiciário dê uma resposta dada a brutalidade do crime. Em que pese haja muita seriedade e disposição, a pandemia atrasou a marcha do processo, mas mesmo assim ele está sendo conduzido em tempo razoável”, disse Gomes.
O assistente da acusação não acredita em desclassificação da denúncia do MP tornando o caso um latrocínio, para ele não há outro caminho senão a pronúncia e o tribunal do júri. “Todo o conjunto probatório leva a isso”.
Vera Lucia Chagas Conceição, que perdeu a filha Flaviana, o genro Homuyuki e o neto Juan Victor, viaja de Minas Gerais onde mora para Santo André para participar do ato religioso que marcará um ano das mortes. Desde o início das investigações, assim que Anaflavia foi presa, ela nunca duvidou da autoria dos crimes e pedia punição para a neta. “Minha tia nunca mais foi a mesma pessoa, ela tem se afogado no trabalho de domingo a domingo, tem enfrentado um dia de cada vez”, disse o primo de Flaviana, Diogo Reis.
As duas famílias, de Homuyuki e de Flaviana se reuniram recentemente e também combinaram que não haveria qualquer comemoração de fim de ano. “É um luto permanente; toda a família, até os mais distantes ainda estão inconformados, não tiveram festa, principalmente por causa da Flaviana que gostava muito de festas”, conta o primo.
Diogo Reis acredita que a Justiça será feita e os cinco presos sejam condenados. “A justiça tem sido dura com elas, e muito atenciosa com a família. Todos que trabalham neste caso não atuam só profissionalmente eles mostram que sentem também e isso é que tem nos confortado”, conclui. Para a cerimônia prevista para as 10hs desta quinta-feira (28) no Cemitério do Carminha, um padre fará orações e será colocada no local uma lápide única com as fotos das três vítimas.