
O Dia Internacional da Mulher (8 de março) remete ao início do século 20, à luta das mulheres pela igualdade de direito e melhores condições de trabalho em fábricas nos EUA e na Europa. Além da comemoração, a data frisa, cada vez mais, a importância da mulher na sociedade diante de sua ocupação, conquistas e batalhas. Em homenagem à data, o RD conta a história de quatro empreendedoras, que tornaram o desafio um sucesso.
Aos 25 anos, a brecholeira de São Bernardo, Letícia Destro, colhe frutos de uma atitude empreendedora tomada na pandemia, em 2020, quando decidiu abrir o Maranta Pavão, brechó de vestuário e artigos vintage. Tudo começou quando Letícia saiu da loja de roupas onde trabalhava para abrir o próprio negócio. “Nunca gostei da ideia de seguir carreira em algo pensado por outra pessoa […] foi quando, em meio ao caos da pandemia e as dificuldades financeiras, vi que tinha roupas que não serviam mais e surgiu a ideia”, conta.
O brechó ganhou formato inicialmente no formato virtual, com Letícia à frente de todas as funções: captação de peças, fotografia, entrega de encomendas, identidade visual e atendimento dos clientes. “Isso não mudou até hoje”, conta. “Tenho ajuda da minha parceira, Bruna, mas administro o brechó em conciliação com os afazeres do dia-a-dia, de segunda a segunda, e quase que sem descanso”. Atualmente, em parceria com a Vitrine Criativa – iniciativa de reunir brechós com oferta democrática – o Maranta ocupa espaço físico na rua Frei Caneca, 833, com peças a partir de R$ 15.
Dona de casa e empreendedora, Letícia diz que apesar das conquistas, ainda enfrenta desafios enraizados de uma sociedade machista. “Muitos descredibilizam quando veem que é uma mulher que está à frente do negócio. Já aconteceu de em um dos espaços presenciais que ocupamos, homens nos tirarem para dançar e praticarem assédio, mesmo em ambiente profissional, simplesmente porque somos mulheres e não respeitam o profissionalismo”, conta.
Mono Café
Em Santo André, a proprietária da Mono – Cafés Especiais, Larissa Del Rey, tenta superar o machismo num mercado considerado massivamente masculino. “Muitos homens vêm aqui e credibilizam muito mais meu sócio, como se eu tivesse menos controle ou sabedoria sobre o meu próprio estabelecimento”, conta. “Apesar disso, trato com muita educação, pois espero que percebam meus atos e minha capacidade”, diz.

Formada em Relações Públicas, Larissa abriu o café em meados de 2016, após atuar na área de formação e desistir. “Não me encontrei, então decidi abrir meu próprio negócio, com outros dois sócios”, conta.
Após cursos sobre café e estudos, a Mono abriu as portas na Vila Bastos (rua Adolfo Bastos), com venda de cafés, sanduíches, omeletes e tortas. “Ser empreendedora é uma montanha-russa, tem dias que você quer continuar e tem dias que você se questiona, mas se você acredita no seu potencial, os desafios diminuem”, diz.
Mãe e filha
Mantenedora de cinco unidades do Colégio Dom Bosco, em Santo André, Kelci Paiva diz não sofrer com os mesmos desafios, pois o setor é predominantemente feminino. “Geralmente, o preconceito acontece de maneira reversa na minha área, porque todos veem as escolas comandadas mais pelas mulheres”, comenta.
Kelci e a mãe trabalham juntas na gestão do colégio e exclui do ambiente de trabalho as discussões familiares. “Trabalhar com a minha mãe sempre foi uma divisão muito certeira de tarefas, eu na função pedagógica e ela na financeira”, relata.
Ao ser questionada sobre a administração de uma escola durante a pandemia, Kelci relata que tiveram de fazer vários investimentos e sofreram perdas. “Mas a escola sempre trabalhou com um fundo de reserva saudável, então conseguimos levar tranquilamente, sem atraso de pagamentos ou de impostos, com qualidade no ensino, mesmo no online”, expõe.

Maternidade e carreira
A empreendedora de São Bernardo, Giovanna Silverio Novelli, precisou conciliar maternidade e carreira para sobreviver na pandemia. Formada em Turismo, abriu mão de freelancer, em uma agência de viagens no ano passado, para abrir a loja de roupas de bebê Mania de Maria, especializada em vendas virtuais drop shipping (sem estoque).
“Eu buscava uma forma de me encontrar de novo, de produzir, de me conectar com a Giovanna que era antes da maternidade”, conta. A empreendedora diz ter esperado até os seis primeiros meses da filha para dar o pontapé nos desejos pessoais. “Antes só tinha colocado em prática o meu lado mãe, mas precisava colocar em ação minhas características como mulher e profissional, além da maternidade”, conta.
Por meio da internet, via Instagram, engajada por mães em “simbiose”, como classifica, Giovanna acredita inspirar outras mulheres e mães empreendedoras. “Ali criei uma rede de apoio virtual onde faço as vendas, posso compartilhar minhas experiências com as clientes e com outras mães […] E vi que é possível empreender, conciliar carreira, apesar das dificuldades, e ser feliz com seu próprio negócio”, diz.
Mulher dispara no empreendedorismo
Pesquisa feita pelo Sebrae e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), sobre pequenos negócios e realizada em agosto de 2020, mostra que as mulheres tiveram mais agilidade para buscar saída na pandemia. Segundo o estudo, 71% usam redes sociais, aplicativos e internet para vender produtos enquanto somente 63% dos homens usam as ferramentas.
O levantamento indica, ainda, que 11% das empreendedoras inovaram o negócio durante a crise, enquanto somente 7% dos homens declararam ter feito alguma mudança. A maior parte das empreendedoras cuida, além do negócio, da casa, família, compromissos dos filhos, escola e aparência. O crescimento do desempenho feminino em cargos de liderança e desenvolvimento do próprio negócio tem se tornado cada vez mais evidente no mercado empreendedor. (Colaborou Beatriz Gomes)