Os moradores das ruas Gema e Jacuí, no Jardim Campanário, em Diadema, foram surpreendidos na última semana com vários pássaros mortos caídos no asfalto e nas calçadas. A mortandade de pássaros coincidiu com o despejo de fumaça por uma indústria química situada na rua Gema. Os moradores do bairro contam que a empresa solta uma fumaça espessa e de forte odor principalmente à noite e nos finais de semana. A empresa Resinpó Indústria e Comércio nega a poluição do ar e diz que as suas chaminés expelem apenas vapor.
O RD publicou reportagem sobre a reclamação dos moradores relacionadas a esta empresa em outubro de 2019. Naquela ocasião os moradores já relatavam problemas respiratórios e a invasão das casas pela fumaça. No último mês, segundo os vizinhos da empresa, a situação ficou pior. De acordo com Rafael Moraes, de 47 anos, as casas ficam com as janelas fechadas, faça calor, faça frio, para evitar que sejam invadias pela fumaça. “É cheiro de queima de produto sintético, eles dizem que trabalham com carpete. Deve ser isso que eles queimam. A gente vai lá e tenta falar com eles e ninguém responde nada. Agora os animais estão morrendo. Já pegamos rolinhas e até coruja, mortos; pardal por aqui nem tem mais”, comenta o morador. Moraes gravou vídeo na última semana em que foi até a porta da empresa após à meia noite e foi recebido por funcionários da empresa que estava trabalhando e emitindo fumaça durante toda a noite.
Um comerciante, que preferiu não se identificar, disse à reportagem que os pássaros da vizinhança desapareceram no último mês. “Eu não estou tão perto da empresa, fico mais abaixo, mesmo assim a fumaça chega até aqui e tem hora que é insuportável”, comentou.
Outro morador do bairro, o encanador industrial, Cosmo Maciel da Silva, 52 anos, disse que há anos a situação persiste, mas reparou piora no último mês. “Ficou mais grave; os passarinhos tentam voar e caem sozinhos, creio que é por contaminação da fumaça. Os pássaros que tínhamos aqui sumiram todos e olha que tem muito arvoredo aqui”, diz o morador que relata o agravamento de doenças respiratórias o que pode estar ligado à fumaça. “Eu e meus sobrinhos temos rinite alérgica e com essa fumaça pesada o nariz da gente arde. É como se estivessem queimando pneus”, descreve.
Silva contradiz a versão da empresa de que trata-se apenas de vapor. “Se fosse vapor subiria e sumiria no ar, mas não some, é uma fumaça densa, pesada que vem para as ruas mais abaixo; eu acho que é falta de filtros na chaminé”, comenta.
Rafael de Lima Crivelaro, de 30 anos, outro morador da rua Jacuí, também avalia que a poluição no bairro piorou muito recentemente. “Piorou bastante, a fumaça é intensa o dia inteiro e à noite fica pior. Quando a gente bate lá na empresa eles param com a fumaça por uns minutos, depois volta tudo de novo. Agora aparecem esses pássaros mortos”, preocupa-se o morador.
A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) diz que a empresa está em situação regular. “A Resinpó Indústria e Comércio Ltda. – Eireli, situada em Diadema, renovou a Licença de Operação, em 10/05/2019, com validade até 10/05/2023, para atividade de fabricação de artefatos de material plástico. Não foram registradas, desde o licenciamento, na Cetesb, reclamações da comunidade sobre incômodos causados pela empresa”, diz o órgão fiscalizador, em nota. Apesar da regularidade, a companhia informa que fará nova vistoria no local.
O que diz a empresa:
Em nota enviada ao RD, a Resinpó informa não ser a responsável pelos pássaros mortos. “No que se refere a mortandade de pássaros, não (é nossa responsabilidade), até porque a fumaça expelida pela chaminé do equipamento são vapores de água, mas apesar disso, estamos entrando em contatos com os nossos fornecedores, para aquisição de novos equipamentos e orçamentos para minimizar ou solucionar o problema apontado”, diz a nota.
A Resinpó trabalha com transformação de resinas termoplásticas, polipropileno, polietileno e EVA. A empresa negou que tenha ocorrido alguma anormalidade na produção e que isso que pudesse gerar resíduo diferente do que gera normalmente “Estamos há quinze anos no local trabalhando sempre com os mesmos materiais”, informou. A Resinpó também negou trabalhar 24 horas por dia, confrontando declaração de moradores que gravaram vídeos em frente à empresa durante a madrugada.