Em maio, quando se comemora o Dia Mundial da Reciclagem (dia 17 ), o ABC não tem quase nada a festejar. A pandemia claramente fez aumentar os resíduos. Também fez muita gente ficar sem emprego e disputar os materiais descartados com os catadores. Apesar da mudança, o trabalho realizado pelas prefeituras pouco mudou. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, que completa 11 anos, estabelece que a coleta tem de ser seletiva, o que está longe de acontecer na região, onde o índice de reaproveitamento dos materiais varia entre 0,5% e 5%, exceto em Santo André que recicla 60%.
Em São Bernardo a coleta seletiva é realizada de porta a porta, em pontos de entrega voluntária e em 13 ecopontos espalhados pela cidade. Uma empresa terceirizada coleta e leva o material às centrais de triagens, onde cooperativas realizam o processamento e a comercialização do material. Aproximadamente 100 cooperados atuam nestes locais.
Em 2020, foram coletadas 264.522 toneladas de lixo orgânico, 5% foram para reciclagem. A projeção do percentual de reciclagem para este ano é de alta de aproximadamente 0,5%. Para isso, a Prefeitura intensifica ações de educação ambiental, com minicursos para a população e instalados de cartazes em locais de grande movimento. Além disso, são realizadas visitas monitoradas às casas de triagem de materiais recicláveis.
O Saesa (Sistema de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental de São Caetano do Sul) responde pela coleta seletiva em São Caetano. O serviço é semanal, de porta a porta, e envio do material para duas cooperativas, que empregam 51 pessoas. Em 2019, foram produzidas 68.283 toneladas de resíduos sólidos. No ano de 2020, foram 64.841 toneladas. Deste total, estima-se que 30% seja reciclável. Em 2019, 2,92% foram separados para reciclagem e em 2020 o índice foi de 3,48%.
Ribeirão Pires realiza coleta de recicláveis de porta em porta com dois caminhões. A coleta é feita semanalmente. Cerca de 1% do total de volume de lixo da cidade é separado e comercializado pelos catadores que fazem parte da cooperativa. Em 2020, a média de lixo domiciliar enviado para aterro foi 2.280 toneladas/mês.
Mauá
Mauá realiza a coleta porta-a-porta na Vila Bocaina, Parque São Vicente, Jardim Guapituba e Jardim Pedroso, e há intenção de expandir a coleta para outros bairros. As 46 escolas municipais e os cinco ecopontos são opção em bairros onde ainda não há coleta residencial de recicláveis. Em média recolhe 11.318 toneladas, mas só cerca de 1% é reciclado, e encaminhado para a Coopercata (Cooperativa de Catadores de Papel, Papelão e Materiais Recicláveis do Município de Mauá.
A coleta e o processamento dos resíduos recicláveis em Diadema são feitos por duas cooperativas, que empregam 60 pessoas. Em 2019 e 2020 recolheu aproximadamente 300 toneladas mensais de resíduos, e 20% do material seria passível de reciclagem, mas apenas 0,5% é de fato reciclado. A expectativa é implantar coleta seletiva de porta em porta em 2021. Em nota, a Prefeitura diz que até dezembro serão criados, aproximadamente, 60 pontos de entrega voluntária (PEVs), além de investir em educação ambiental.
Moeda Verde
Em Santo André, a responsabilidade pela coleta seletiva é o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental) que recicla tudo o que é recolhido ou que é entregue nos postos. Pioneira na coleta seletiva desde 2000, a cidade disponibiliza 21 ecopontos, onde o morador descarta resíduos recicláveis, entulho, móveis antigos, eletroeletrônicos, óleo de cozinha, poda de árvores e até telha de amianto. Ainda há 112 PEVs (postos de entrega voluntária) e também o recolhimento de recicláveis por meio do Programa Moeda Verde, que beneficia 14 comunidades carentes da cidade e promove a troca de 5 kg de recicláveis por 1kg de alimento hortifrúti.
Os resíduos da coleta seletiva são encaminhados para duas cooperativas de reciclagem, responsáveis pela triagem e comercialização destes materiais. A CoopCicla e a Cidade Limpa, que, juntas, possuem 120 cooperados.

Em 2020, Santo André coletou 239.541,58 toneladas de resíduos, sendo 11.396,91 recicláveis. Em 2019, foram 239.073,04 toneladas, do total, 11.225,66 toneladas foram de resíduos recicláveis. Tudo que é coletado de recicláveis vai para as cooperativas e o índice de aproveitamento é de cerca de 60%. A expectativa é aumentar em 5% o volume de reciclados com expansão do programa Moeda Verde, para mais sete comunidades.
Também será realizada a segunda edição do Drive-thru Sustentável, para descarte de resíduos eletroeletrônicos, pilhas, baterias e lâmpadas, nos próximos dias 4 e 5/6. A cidade conta ainda com o programa Moeda Pet, que permite a troca de garrafas plásticas por rações para cães e gatos. A próxima troca será dia 29/5, das 10h às 15h, na frente do Parque Central.
Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não responderam à reportagem.
Falta consciência
Tasso Cipriano, advogado especialista em Direito Ambiental e professor da Fundação Santo André, ressalta que falta consciência da população na separação dos materiais e do poder público em se preocupar com os resíduos. “A pandemia aumentou a geração de lixo doméstico, mas a consciência se aumentou eu tenho minhas dúvidas. Separar lixo tira um conforto, é muito mais fácil colocar tudo junto”, comenta.
Tasso discutiu o assunto no canal RDTv com Marta Marcondes, ambientalista, bióloga e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), que vê falta de investimento na educação ambiental. Marta diz que a educação ambiental tem de ser trabalhada num processo constante. “Eu sou otimista, percebi que algumas pessoas procuraram muito como fazer compostagem em casa, isso já é um ponto inicial importante de perceber que as pessoas querem promover uma mudança. Praticamente 50% de todo o resíduo produzido nas casas é orgânico, por isso que começou a se fazer o movimento das composteiras em casa, mas falta muito, faltam espaços para discussão”, diz .

Não existe fada no lixo
Para os dois educadores, consciência deve começar para que população entenda o processo e para onde vai o lixo após o descarte. “Não existe fada do lixo. Não é só colocar o lixo para fora que ele vai, como num passe de mágica, sumir. A coisa é mais séria do que a gente imagina”, comenta Marta. Cipriano diz que não temos hábito de se perguntar o que acontece com as coisas depois do uso. É preciso saber sobre a importância do resíduo gerado e saber como separar, com informação nas escolas, em casa e nas redes sociais. “A gente precisa aprender a separar o nosso lixo, mas as prefeituras precisam recolher de maneira seletiva”, completa o professor da Fundação.
Ciprino diz que a responsabilidade deve ser de todos, a começar pelo poder público que tem de viabilizar a estrutura, locais para receber os materiais para reciclagem. A Política Nacional de Resíduos Sólidos é uma lei federal (nº 12.305/10) faz 11 anos em 2021 e que diz que a coleta municipal tem que ser seletiva. “Então, a gente precisa da estrutura para separar o lixo que produzimos, com cooperativas de catadores e indústria de reciclagem, cada um fazendo a sua parte”, analisa.

Marta Marcondes diz que o desemprego causado pela pandemia mudou o perfil do catador. Muita gente perdeu emprego e foi para as ruas disputar os materiais com catadores, os quais têm já outro problema, o risco de se infectar com a não separação do lixo corretamente. “As pessoas precisam etiquetar os sacos indicando os recicláveis e se tiver alguém com covid em casa coloque isso nos sacos, porque aí o catador vai ter mais cuidado”, alerta.