
Uma semana após a morte de três pessoas no AME (Ambulatório Médico de Especialidades) por conta do mau funcionamento da usina de oxigênio instalada no local, ainda ninguém foi indicado como provável responsável pela situação e as famílias estão desamparadas, sem, por exemplo um atestado de óbito com a real causa da morte de seus familiares. Processo de apuração foi instaurado na FUABC (Fundação do ABC), organização social de saúde responsável pela gestão do equipamento estadual. A Secretaria Estadual de Saúde determinou à OSS que afastasse prováveis envolvidos. O caso também é investigado pela polícia que ainda está ouvindo os funcionários da unidade.
No dia 1° de junho uma pane no sistema de fornecimento de oxigênio deixou sem abastecimento os leitos levando três pacientes a óbito. As três vítimas são uma senhora de 81 anos, um homem e uma mulher, ambos de 41 anos de idade. A mulher é Wanessa Disselli, que não tinha comorbidades e estava internada em um dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do AME de Santo André havia 14 dias. Com a falha do equipamento e a falta de oxigênio ela não resistiu. O atestado de óbito consta que ela faleceu de morte natural.
A irmã Priscila Disselli, não consegue esconder a revolta pela perda. “Quando me disseram que minha irmã tinha falecido por conta de uma falha mecânica do equipamento eu quis saber o que tinha acontecido, pedi para colocar essa informação no atestado de óbito e o diretor do hospital disse que não podia, depois que eu fiz o boletim de ocorrência e falei com ele juntamente com meu advogado em uma chamada de telefone, ele já mudou; disse que não colocou porque assim o corpo da minha irmã iria para o IML e ele não queria causar mais esse constrangimento para a família”, disse Priscilla que até o momento não recebeu o prontuário com as informações sobre o atendimento da sua irmã.
“Eu me sinto desamparada de informações, o diretor do hospital disse que não é culpa dele, o prefeito (Paulo Serra –PSDB) também disse que não tem culpa, mas a minha irmã não morreu de causa natural como está no atestado de óbito, ela foi assassinada. Ela entrou no AME com um quadro considerado leve de covid-19 e foi piorando. Os funcionários disseram que havia 15 dias que o equipamento não estava funcionando direito e isso coincidiu com o tempo que a minha irmã ficou internada lá, ela ficou 14 dias, então como um profissional de saúde sabe disso e não tomaram uma providência, esperaram a morte de três pessoas”, lamenta a irmã de Wanessa.

O caso é investigado pela Polícia Civil. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública prestou poucas informações sobre o caso, pois segundo a pasta o detalhamento poderia prejudicar as investigações. “O caso é investigado por meio de inquérito policial instaurado pelo 6° Distrito Policial de Santo André. Exames periciais foram solicitados ao Instituto Médico Legal e, assim que finalizados, serão anexados ao inquérito policial. Oitivas e intimações dos responsáveis técnicos e diretores da unidade de saúde estão sendo realizadas. Detalhes não podem ser passados no momento para não prejudicar os trabalhos”, diz informe da SSP.
A secretaria estadual de Saúde informou que determinou à FUABC que os funcionários envolvidos sejam afastados. “A Secretaria de Estado da Saúde determinou a abertura de sindicância no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Santo André com relação aos óbitos dos pacientes ocorridos em 1º de junho. No próprio dia a pasta estadual determinou que a Fundação ABC, organização social de saúde gestora da unidade, afastasse temporariamente todos os eventuais responsáveis até que os fatos sejam apurados. À ocasião, a manutenção da usina de oxigênio foi prontamente realizada para retomada imediata do serviço. A Secretaria e o AME se solidarizam com as famílias e tomarão as providências cabíveis”, informou a pasta estadual em nota.
Apesar da determinação de afastamento dos envolvidos, a FUABC disse que vai aguardar os laudos periciais e o resultado de uma sindicância para novas providências. A fundação informou, em nota, que as atividades do Hospital de Campanha do AME de Santo André foram paralisadas no dia 4 de junho, somente três dias após as mortes e que aguarda laudos para um posicionamento mais detalhado sobre o que aconteceu. “A unidade será submetida à perícia externa, realizada por empresa especializada em Engenharia Hospitalar. A perícia terá duração de pelo menos 15 dias e tem no escopo visita técnica na unidade; análise documental; perícia técnica de todos os equipamentos; perícia técnica de processos e planos operacionais; outras ações a partir das verificações nas visitas e análises”, diz a Organização Social de Saúde.
A FUABC também informa que está apurando se houve responsabilidade de algum funcionário. “Está em andamento uma sindicância para apuração dos fatos. O caso também está sendo investigado por meio de inquérito policial instaurado pelo 6° DP de Santo André. A Fundação do ABC irá se manifestar oficialmente sobre o caso ao final da sindicância e em posse dos laudos periciais”, resumiu na nota enviada ao RD.
Apesar do equipamento ser estadual e a demanda para leitos ser organizada pelo Cross (Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde) órgão da Secretaria Estadual de Saúde, na Câmara Municipal de Santo André foi aprovada a criação de uma Comissão de Assuntos Relevantes, para investigar o caso, porém a formação desta comissão ainda não foi feita. A escolha dos membros estava prevista para esta terça-feira (08/06), porém não aconteceu. O vereador Ricardo Alvarez (Psol) disse que a pauta do dia estava travada e, portanto, a formação da comissão deve ocorrer somente na quinta-feira (10/06). O parlamentar apresentou na Casa um requerimento de informações à prefeitura, com base em informações do Conselho Regional de Fisioterapia, porém o requerimento foi rejeitado. “Numa casa onde o governo tem a maioria como em Santo André, é difícil conseguir passar algum pedido de apuração. A oposição fica sem conseguir exercer seu papel e o povo também não pode falar porque desde o início da pandemia a Tribuna Livre foi suspensa, o que poderia ser tranquilamente feito on-line como acontece grande parte dos trabalhos da Casa atualmente”, resumiu.