
Com a variante delta, a mais transmissível do coronavírus e com quase 100 casos no País até este domingo (18/7), segundo o Ministério da Saúde, somado ao baixo índice de rastreamento entre infectados e a grande circulação de pessoas nas ruas, o cenário é de risco de mais infecção pela covid-19. Os níveis de isolamento no ABC estão entre os mais baixos, desde o início da pandemia, e acende um alerta, segundo a infectologista Elaine Matsuda.
A única cidade do ABC que registrou quinta-feira (15) mais da metade da população em isolamento foi Rio Grande da Serra, com 51% de pessoas em casa. Depois vêm Ribeirão Pires e São Bernardo, com 41%; Diadema e Mauá marcaram 40% , enquanto Santo André e São Caetano ficaram com o pior índice de isolamento, 38%.
Só para comparação, em abril de 2020, no início das medidas de restrição de circulação, Diadema chegou a bater 65% de isolamento. Os dados são do Simi (Sistema de Monitoramento Inteligente de São Paulo), viabilizado pelas operadoras Vivo, Claro, Oi e TIM, por meio da ABR (Associação Brasileira de Recursos em Telecomunicações) e do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).
Mesmo com o avanço da vacinação para o público entre 30 e 40 anos, a nova cepa pode fazer o sistema de saúde voltar ao colapso. “É um risco, sobretudo com a circulação maior, os ambientes fechados e pessoas sem máscara que favorecem (o vírus). Isso é agravado pela baixa cobertura vacinal; nos Estados Unidos, por exemplo, estão retrocedendo por causa da variante”, diz a médica.
Berçário de novas variantes
Elaine Matsuda se baseia nas informações da alta de 121% dos casos de covid-19 nos EUA, agravada pela estagnação da vacinação e pela variante delta, e projeta um cenário parecido no Brasil. “Devemos ter muitos mais casos, pois não sequenciamos e não limitamos a entrada de estrangeiros, nem sequer com quarentena obrigatória e supervisionada. Nosso cenário é perfeito para ser o berçário de novas variantes”, prevê a especialista.

Enquanto a delta avança, com casos confirmados já na Capital paulista, não há movimentação dos governos para reduzir a circulação de pessoas. Ao contrário, praticamente todo comércio já pode funcionar em horários normais e a circulação nas ruas é cada vez maior, o que pode ser aferido pelo nível de trânsito nas cidades. “Outro dia escutei um secretário dizendo ‘saiam de casa, usem máscara e evitem aglomerações’ e o pior é que continuam sem rastrear contactantes de casos suspeitos, porque não se faz teste de antígeno ou PCR de sintomáticos leves. Ninguém positivo é monitorado. A notificação deve ser feita na coleta do PCR, mas somente se documenta o leite derramado no fogão”, lamenta a infectologista.
Trânsito
Além dos números do governo do Estado, outro termômetro é o trânsito, com dados do aplicativo de trânsito Waze. Mostram que, apesar da pandemia continuar, o trânsito está em níveis praticamente iguais antes da pandemia. O aplicativo monitora 12 municípios no País, como a cidade de São Paulo. Em 10 de abril de 2020, a queda de quilômetros rodados era de 72% se comparado com fevereiro do mesmo ano. Desde o início de julho, esse mesmo índice estava em 14% e caiu para 0% em 5 de julho, o que significa movimentação igual ao período antes do coronavírus no País.
As prefeituras do ABC não têm dados para aferir a quantidade de carros em circulação. São Caetano, com uma frota de 154.784 carros, informa que a pandemia derrubou a circulação de automóveis em 70%, mas não revela o número atual. Alega que não é possível fazer estudo, visto que 30% dos veículos são de outras cidades.

Ribeirão Pires não tem sistema de contagem e medição do fluxo de trânsito na cidade, mas aventa implementar um sistema para detecção e fiscalização. A cidade tem mais de 76 mil veículos entre carros, caminhões e utilitários registrados.
Com frota de 613 mil veículos, São Bernardo revelou que a circulação de veículos apresenta redução média de 20% a 44%, na comparação com o período pré-pandemia. Na avenida Aldino Pinotti, no Centro, a circulação em fevereiro de 2020 era de 145 mil veículos, em julho de 2021 chegou a 80 mil. Outras reduções ocorreram na avenida Robert Kennedy (-40%) e na Estrada dos Alvarengas (-24%), informa.
Apesar da redução, os picos de estrangulamento do trânsito até aumentaram em São Bernardo. Mesmo com a pandemia, os chamados pontos de lentidão se mantiveram nos horários de pico, embora com fluxo menor. Houve ainda prolongamento do horário de pico da manhã que, impulsionado pelo escalonamento de entrada de trabalhadores, passou a se estender até o horário das 10h – antes era das 6h às 8h.
Circulação de fora
Baseada nos dados da Pesquisa Origem/ Destino do Metrô, Diadema tem cerca de 120 mil veículos em circulação nos dias de semana, de um total de 228 mil registrados no município. Em função da localização na malha viária metropolitana e a atração de viagens vindas de municípios vizinhos, considera que outros 120 mil veículos circulem diariamente, diz em nota.
Diadema informa que nem a sugestão de escalonamento de horários de entrada e saída de trabalhadores das empresas fez reduzir o trânsito. Assim, avalia aumento do trânsito por conta do medo de contágio no transporte público. “Com a redução da frota de ônibus e o receio em usar o transporte coletivo, muitos transferiram as viagens habituais para o transporte individual particular, o que fez com que a frota circulante de veículos – desde as primeiras aberturas graduais das atividades, em agosto de 2020 – tenha retornado a níveis muitos próximos do normal. O possível escalonamento de horários de abertura dos vários setores de atividades não foi sensível em Diadema e não alterou o padrão temporal do trânsito”, informa.