Representantes da Ocupação Manoel Aleixo e da Casa de Referência para Mulheres Helenira Preta, ambas situadas em Mauá, lutam pela continuidade dos serviços de acolhimento na região. Isso porque, sob ameaças do poder público e sem verbas advindas de esferas governamentais, os trabalhos estão ameaçados e, com isso, mais de 40 famílias devem ficar desabrigadas ao terem que deixar os centros de referência que hoje atendem vítimas de violência doméstica e pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Em entrevista ao RDtv, Amanda Bispo, coordenadora da Casa de Referência Helenira Preta, fala sobre a atual situação do movimento. “Um leilão ocorreu no prédio onde os trabalhos eram realizados, e agora, embora já tenha um arrematador, a posse ainda não foi emitida, então ainda estamos buscando alternativas para a continuidade dos nossos projetos”, explica ao lembrar da importância do movimento que já atendeu, em média, 600 mulheres vítimas de violência doméstica.
No último domingo (25), data em que se comemorou o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, centenas de mulheres do Movimento de Mulheres Olga Benário, ocuparam dois imóveis abandonados no ABC. Segundo o grupo, os espaços, que já estão abertos, vão abrigar duas casas, uma de referência para atendimento e aconselhamento, e outra para acolhimento de mulheres em situação de violência doméstica.
Um destes espaços, inclusive, é o da Casa Mulher Helenira Preta, que forçou o município a criar a secretaria de Políticas Públicas para Mulheres de Mauá, até então inexistentes. Apesar dos avanços, falta políticas públicas, conforme defende Amanda Bispo. “O aumento dos índices de violência é assustador e não podemos deixar de atender as mulheres, que precisam de acolhimento e/ou até casas de passagem para se reestruturarem”, defende. Diante do cenário, as mulheres decidiram construir a casa Helenira Preta II, na mais nova ocupação.
O objetivo é que, no segundo espaço, este em Santo André, o movimento também possa contribuir para a população da região. A ocupação foi batizada no último domingo (25), com o nome da escritora Carolina Maria de Jesus. “Não temos apego às instalações, mas queremos nosso lugar para desenvolver nossos projetos e continuar fazendo nosso trabalho, porque é isso que faz a diferença na vida dessas mulheres”, defende a coordenadora.
Em março de 2020, o trabalho do Movimento de luta nos bairros, vila e favelas (MLB) foi impulsionado nos bairros periféricos de Mauá, o que culminou na construção da Ocupação Manoel Aleixo. Matheus Troilo, coordenador estadual do MLB e da Ocupação, conta que para o desenvolvimento das ações ocorrer, se faz necessário o auxílio do poder público, o que atualmente tem sido o maior desafio.
Em entrevista ao RDtv, Troilo relata que em abril deste ano, o prefeito de Mauá, Marcelo Oliveira (PT) se reuniu com a coordenadoria para tratar sobre o leilão que ameaçava a remoção da ocupação, no entanto, as tratativas não avançaram. “Fomos recebidos pelo prefeito e pela secretária de habitação, mas não tivemos grandes avanços”, diz ao citar que os investimentos das esferas governamentais para as áreas sociais, a princípio, foram congelados.
Apesar da profunda crise econômica e sanitária e o crescente número de despejos, que mais que dobrou no último ano com a pandemia da covid-19, o coordenador estadual afirma que sem investimentos do poder público para manutenção do espaço, as famílias que hoje são atendidas pelo movimento devem voltar para as ruas. “Temos tentado de tudo, mas sem investimentos e ajuda do poder público, as famílias não terão para onde ir e terão que voltar para as ruas”, diz.
A Ocupação Manoel Aleixo virou referência da luta na cidade e tem sido procurada pela população, que busca apoio do movimento para enfrentar o déficit habitacional e os despejos na cidade. Exemplo foi a mobilização dos moradores do bairro Nova Mauá, que foram à ocupação pedir apoio contra as ameaças de remoção.